sexta-feira, 8 de junho de 2012

O CIRURGIÃO

Admiro muito as crianças (na regra geral) e acho as criaturinhas mais lindas do universo. Mas, tem certas crianças que também são umas criaturinhas que precisam de boas palmadas em suas bundinhas. Vamos tirar do pacote criança as nenenzinhas. Quando crescem, ainda crianças começam a pentelhar por tudo, souber tudo, enfim: é “um pé no saco”.
Recebi a visita de uma delas (uma menina) em um dos meus consultórios dias atrás e, confesso que tal criatura me deixou irritado. Não tenho o hábito de assustar ninguém, muito menos as crianças
- Olá, titio! Como está?
- Titio?!
- Tudo bem, tiozinho?
- Menina, em primeiro lugar não tenho sobrinhas e não suporto gírias. Não tenho nada contra o tio da maçã, da anã e de todos os fãs, mas me chame de doutor, ok?
- Ok tio. Meu nome é Maria, tenho 10 anos e adoro assistir filmes de terror.
- Tem um gosto muito adulto e drástico para a sua idade, pirralha.
- Não vejo graça em comédia a não serem aqueles filmes que matam o palhaço no final.
- Que horror! O palhaço alegra as crianças.
- Crianças retardadas o tio quer dizer. Você por exemplo é um palhaço que não acho a menor graça.

Arregalei meus olhos e fiquei ouvindo aquela pirralha falar.

- O que você diz (tio), pelo menos noventa por cento não tem nexo, não faz sentido.
- Pelo menos tenho um por cento.
- Para os retardados sim, tio.
- Quer parar de me chamar de tio?
- Mas, você é meu tio.
- Não sou seu tio.
- É sim. Lembra de mim? Sou a Maria, tua sobrinha. Minha avó também é Maria. Ela já está morta.
Baixei a cabeça e pensei: “Giré, me ajude! Essa criatura ta me confundindo com alguém e isso não vão dar certo. Vou ter que assustá-la, porém, peço-te que não te zangues comigo”.

- Estou vendo sua avó aí a seu lado.
- Sério?! Não brinque com os mortos, tio. Está vendo mesmo?
- Sim. Ela está segurando um cérebro nas mãos e é o cérebro dela.
- Meu Deus! E ela realmente morreu com problemas cerebrais.
- Pois é: esse tumor é hereditário. Ela acabou de me dizer que tal cérebro doentio precisa reencarnar.
- Isso é impossível, tio! Os bichos já comeram o cérebro dela há muito tempo.
- Engano teu menina! O cérebro dela foi clonado. Xiii! Olha quem acabou de chegar?
- Quem, tio?
- Acho que é o teu avô e dois de seus tios.

Notei que a menina ficou arrepiada.

- Realmente tenho um avô e dois tios mortos. O que eles querem?
- Não te assustes. Talvez viessem te buscar para passarem uns dias com eles.
- Mas, eu não quero ir com eles, tio!
- Então, comece a rezar porque ta chegando mais espíritos.
- Tem como mandá-los embora?
- Não tenho tal poder. Xiii! Chegou o cirurgião.
- Que cirurgião?
- O que vai fazer a cirurgia em você ora!
- Que cirurgia?
- A troca de cérebros, menina. Não se assustes, mas não se mova. Não vai doer nada.
- Pare com isso, tio!
- Não fale nada agora, menina. Hoje à noite quando estiveres em sua casa vai ouvir alguns latidos de cachorro. A propósito, tem cachorro em casa?
- Uma cadela.
- Pois é ela mesma que vai latir à noite enquanto seus pais dormem. Mas você ficará acordada. A cadela vai ver o cirurgião espiritual com a sua equipe realizar a transferência, a troca de cérebros que acabara de ser adiada para a noite.
- Mas, por que querem fazer isso?
- Porque você é a reencarnação de Maria.
- Isso não pode ser.
- Giré dos Giros! Olha só o que estou vendo agora!
- O que?
- O anjo da morte sorrindo pra você.
- Por que para mim?!
- Porque parece que sua cadela não vai querer latir à noite e isso não é um bom sinal. A cadela terá que latir, mas, parece que ela estará dormindo. É onde o anjo da morte entra na casa e...
- E daí? O que vai acontecer?
- Ele mata o cirurgião e quem vai querer fazer a cirurgia é ele.
- Ué! Como o anjo da morte pode matar o cirurgião se ele já está morto?

Acessei o youtube no meu notebook e tocou aquela música dos filmes de Alfred Hitcock, sabem?

- Porque o cirurgião sou eu.

Até hoje creio que ela esteja correndo. Quando eu quero também sou ruim. Se não sou engraçado como doutor e o barato dela é o horror me promovi a um cirurgião e boa.

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