terça-feira, 26 de março de 2013

JUSTIÇA




Esta é uma história baseada em fatos reais. Uma história diferente das outras, em que entrevisto o réu, o qual está sendo julgado por muitos, inclusive por membros de sua própria família.
Todos aqueles que têm espírito metódico, senso e sede de justiça que estejam atentos e procurem não julgar de forma errada. Analisem minuciosamente cada detalhe e, quem sabe, vão compreender que, às vezes, subterfúgios podem ocorrer na vida, não só do acusado, como também na vida de qualquer ser humano.
Eu, Dr. Boa, um ser ciente, presente, uma consciência a serviço, de serviço, um expoente para ser usado, se apoiado, não estou aqui para defender ou muito menos para acusar alguém, pois, sou falho também e, como qualquer pessoa, estou sujeito a erra; não tenho a menor aptidão para juiz, porém, creio que a vida de um homem, na regra geral, é muito curta e, que por isso, é importante usufruirmos a cada minuto vivido, pois, um dia (não sabemos quando) partiremos daqui, deste fabuloso, gigantesco e esplêndido universo e, para onde iremos ou, se é que iremos para algum lugar, ninguém sabe, ou seja: poderemos findar para todo o sempre, ou não.
Marvin, assim vou chama-lo, hoje um homem de quase meio século, assim como milhões de pessoas, também tem uma história para contar. Acompanhem.
Dr. Boa:
- Marvin, o que é ser feliz para você? Você é feliz?
Marvin:
- Ser realizado materialmente e, principalmente espiritualmente na vida. Não sou feliz porque nunca consegui isso.
Dr. Boa:
- Mas, a vida te deu muitas oportunidades.
Marvin:
- Nunca gostei desta palavra “oportunidade”. O que a vida me deu foi muito pouco e, lamentavelmente, não soube aproveitar. Hoje, eu poderia me orgulhar de tudo o que eu tenho, porém, o que eu tenho? Filhos que me acusam me criticam, me julgam?
Dr. Boa:
- Você já se perguntou por que é que teus filhos te acusam, te criticam, te julgam?
Marvin:
- Porque não conhecem a minha história. Tudo o que sabem de mim foi o que ouviram de outros como: mãe, tios, avó, etc. Eles não sabem que briguei, comi o pão que o diabo amassou por eles.
Dr. Boa:
- Por que você os abandonou? É evidente que guardam hoje mágoas de você.
Marvin:
- Me casei muito cedo com uma mulher tão criança na época feita eu. Não tínhamos estruturas básicas para suportar um casamento e nem quaisquer preparos familiares ou filosóficos; nada material. Com o tempo vieram os filhos e eu acreditava que toda aquela tempestade de problemas financeiros que passávamos ia acabar em breve. Eu me sustentava de sonhos, acreditando um dia que iria gravar um CD, editar um livro e, todos iriam se orgulhar de mim; eu adorava vê-los comer, principalmente da comida, muitas vezes, comprada por mim; por falta de trabalho na época, cheguei a pedir esmolas nas igrejas, me humilhei por eles para passarmos juntos uma Páscoa, um Natal ou outras datas comemorativas. Eu bebia muito, me envolvi com drogas e prostituição, achando que ia encontrar uma saída para aquela maldita tribulação. Cansado de sofrer e de fazê-los sofrer, me acovardei, fui embora, mas, na esperança de voltar um dia e surpreender a todos, especificadamente meus filhos.
Dr. Boa:
- É verdade que você, mulher e filhos foram sustentados por um bom tempo por sua sogra?
Marvin:
- Isso é mentira. Minha sogra sempre foi uma pessoa mesquinha, não sei se ainda é nos dias de hoje. Talvez, ela não tenha dito a meus filhos que eu gravava fitas cassetes (por sinal), lindas gravações e, saía para as ruas para vendê-las; que vendendo bonequinhos de gesso eu consegui comprar uma geladeira a vista; que eu sempre trazia, pouco, mas trazia, alimentos e coisas supérfluas para casa; que remédios para a sogra, mulher e filhos era problema meu. Sempre. Inclusive, na época, minha mulher caiu em depressão e quem comprou o remédio para ela (que custou mais caro do que o meu salário) fui eu. Isso se chama ingratidão e o Juiz Maior está vendo isso. Estou consciente de que fiz muito pouco, porém, foi tudo o que eu pude fazer.
Dr. Boa:
- Você tentou expor toda esta “tua verdade” à teus filhos?
Marvin:
- Foi inútil. Eles nunca me deram essa maldita “oportunidade” para que eu pudesse expor não a minha verdade, mas, a pura verdade. Eu não tenho um coração de plástico, sou um ser humano que também chora, ri como qualquer outro. Se realmente eu fosse um homem frio e calculista, egoísta, egocêntrico, hoje eu teria algo material na vida. O que eu tenho? Uma casa para morar? Um automóvel? Não. Eu não tenho nada. Se na época que eu os abandonei, me preocupasse com a minha felicidade, provavelmente, hoje, eu seria um homem feliz. Feliz em todos os sentidos.
Dr. Boa:
- Você nunca pensou em ter um emprego fixo, um registro na carteira?
Marvin:
- Ainda casado, um dos meus sonhos era me empregar nas grandes empresas em Joinville, Santa Catarina, um dos maiores pólos industriais do mundo, porém, eu não consegui.
Dr. Boa:
- E sua mulher? O que fez para ajudá-lo?
Marvin: Absolutamente nada. Como já mencionei: ela era tão criança feita eu quando nos casamos. As brigas eram freqüentes em casa e, confesso que por minha causa. Eu queria entender por que todas as outras mulheres que transei gozavam comigo e ela não. Tentei ajudá-la, mas, foi tudo inútil. Se eu já era um problema, ela só conseguiu aumentá-lo.
Dr. Boa:
- Você teve um caso com sua cunhada. Não se arrepende disso?
Marvin:
- Quando um não quer, dois não brigam. Fui assediado por sua linda irmã, virgem e, entrei de beça nesta relação. Eu assumo isso. Não me arrependo disso. Minha cunhada soube “fazer”, me agradar melhor do que minha mulher em todos os sentidos.

Dr. Boa:
- Nunca amou sua mulher?
Marvin:
- Na realidade, nunca amei ninguém. O amor é uma coisa tão linda, mas, ao mesmo tempo mística demais. Se eu amasse ou fosse amado de verdade, provavelmente, eu seria hoje um homem feliz.
Dr. Boa:
- Por muito tempo, você brincou com os sentimentos de muita gente; brincou também com o espiritismo. Talvez, seja por esta razão, que sua vida hoje está do jeito que está. O que acha disso?
Marvin:
- Não brinquei com os sentimentos de ninguém. Eu acreditava em meus personagens, (de repente, até mais do que eles) e, isto não era charlatanismo porque nunca lucrei nada com isso; pelo contrário, eles sim, aqueles que assistiam era quem lucravam. Minha sogra, por exemplo, se converteu ao cristianismo graças a um personagem meu que lhe falou de Jesus. Não está escrito que não cai uma folha de um galho seco se não for permitido por Deus? O espiritismo é uma religião filosófica e científica muito linda e totalmente inteligente. Na época, eu não sabia disso. Hoje sei e, por sinal, respeito muito.
Dr. Boa:
- Nunca pensou em se converter ao cristianismo?
Marvin:
- Não existem duas ou três verdades. Apenas uma. Creio que nas igrejas evangélicas, por exemplo, existem muitos cristãos de verdade, porém, movidos por sensacionalismo, não muito diferentes do que eu fazia com meus personagens espirituais. Nunca me prendi a dogmas, preceitos religiosos, porém, respeito à igreja católica e o espiritismo, apesar de terem doutrinas diferentes.
Dr. Boa:
- Você tem um bom conhecimento da Bíblia, não tem?
Marvin:
- Sim. Eu amo a literatura na regra geral. A Bíblia não pode e não deve ser interpretada de qualquer maneira. Fora escrita lá atrás, onde tudo era diferente dos costumes da modernidade de hoje. Literalmente, não existem traduções exatas, por isso é que existem tantas religiões espalhadas pelo mundo. Cada qual interpreta a Bíblia a sua maneira. Enquanto as seitas e preceitos religiosos não estiverem ensinando ninguém a roubar, mentir, adulterar e matar, está ótimo.
Dr. Boa:
- Surgiu um comentário de que você é homossexual. Isto é verdade?
Marvin:
- Não sou homossexual, nem bissexual, porém, se eu fosse, que problema haveria nisso? Tive algumas aventuras no passado, mas, saí fora. Sempre me excitou dominar e, quando via um boyzinho gatinho delicado dando bola pra mim, não perdia tempo. Tenho dois filhos homossexuais e creio que eles optaram por essa escolha porque não foram criados por mim. A figura paterna nestas horas, vale muito mais do que a materna. Eu tive um pai que me ensinou a ser homem; a não baixar a cabeça para outro homem e coisas assim. Quando transei pela primeira vez com uma mulher, descobri que não pode existir algo que seja mais gostoso. Não consigo me imaginar dormindo com outro homem. Fica esquisito. Não tenho preconceitos com homossexuais e, inclusive tenho muitos colegas que optaram por isso. Sem problemas. Cada um faz aquilo que lhe satisfaz. No meu caso, adoro um cheirinho de fêmea e acabou.
Dr. Boa:
- O que me diz da pedofilia?
Marvin:
- Um crime que não merece perdão. Um homem assediar uma criança deveria apodrecer na cadeia.
Dr. Boa:
- E das garotinhas que sentam no colo do pai?
Marvin:
- Isto não é pedofilia. Tem muitas menininhas safadas que adoram sentar no colo do pai. É evidente que a coisa pode ficar dura. Quem me garante que a mamãe não fica excitada quando da de mamar para o nenê?
Dr. Boa:
- Você, que afirma não ser feliz, ainda continua sendo um sonhador?
Marvin:
- Enquanto eu ainda estiver vivendo, sempre estarei sonhando.
Dr. Boa:
- Algum sonho especial?
Marvin:
- Sonho em ter minha casa, meu carro e, principalmente uma mulher a meu lado. Sonho em amar e ser amado de verdade e, depois disso, posso fechar meus olhos e descansar para sempre.
Dr. Boa:
- Você tem muitas composições e músicas. Nunca pensou em gravá-las e expor todo o seu talento ao mundo?
Marvin:
- Não tenho dinheiro. Talvez eu parta desta terra sem nunca gravar nada, mas, não tem problema. Acho que uma coisa que tem de acontecer, acontece e, se não aconteceu até agora é porque não é para acontecer.
Dr. Boa:
- Você gosta muito de animais, não é?
Marvin:
Nem todos os animais. Odeio bichos agressivos, bravos e raivosos como os cachorros em geral; adoro os gatos e se eu fosse um milionário iria salvar todos.
Dr. Boa:
- Pra terminar, o que pretende alcançar nos próximos anos?
Marvin:
- Eu desejo muito, mas, muito mesmo trabalhar, trabalhar e trabalhar. Com o resultado do meu trabalho, dar um bom dinheiro a todos àqueles que mataram a minha fome, em especial, minha sogra que afirma isso até nos dias de hoje. Quero poder mostrar pra muita gente que não sou um bicho e que também, sou carregado de sentimentos. Se eu conseguir isso, partirei daqui feliz.
Dr. Boa:
Eis aí a história de Marvin. Um homem que nunca conseguiu alcançar a sua felicidade. Casou-se cedo demais e, sem preparo algum. Com o tempo vieram os filhos e ele nada pôde fazer por eles, porque, é claro, nem mesmo pôde fazer algo por ele próprio. Um homem que procurou a sua felicidade na sociedade, mas, não encontrou. Humilhou pelas ruas, almejando não apenas dinheiro, mas, melhoria para si própria, em especial para os seus filhos. Diante desta tempestade de problemas, se acovardou; foi embora na esperança de voltar um dia, porém, nunca mais voltou. Não conseguiu construir nada na vida e, hoje, não tem nada material, como nunca teve antes.
É evidente que este homem é sensível e tem um coração, porém, isso é pouco para aqueles que hoje os menosprezam.
Desejo profundamente que ele alcance a sua vitória na vida, pois, aí sim, aqueles que os menosprezam, poderão fazer reparos do passado.
Não se alimenta a fome de um coitado fazendo o mundo saber disso; não se deve julgar, porque da mesma maneira que julgar será julgado também; o verdadeiro amor tem que ser praticado, pois, de lábias, o inferno está cheio.
Creio devotadamente que existe um Criador que tudo vê, que tudo sabe e, Ele sim, pode fazer justiça, pois, é o único grande juiz.

 doutorboacultural.blogspot.com/