quarta-feira, 30 de maio de 2012

DR. BOA RESPONDE (PARTE 2)


Meu nome é Maria Encarnação. Sou uma mulher muito religiosa e tudo o que eu mais desejo é agradar o Deus que eu sirvo. O pastor da minha igreja disse que quem tem televisão em casa vai pro inferno quando morrer. Fico triste com isso porque eu gosto de assistir uma novelinha e, eu quero ir para ir para o céu depois de morrer. Estou confusa, doutor! Ajude-me!
DR. BOA
Maria Encarnação, não se encarne com tolices em nome do Deus que você está servindo. Assistindo ou não televisão provavelmente você vai para o inferno quando desencarnar ou morrer, como preferir. Não se assuste! O inferno que quero lhe dizer é a sepultura e é para lá que vão os mortos. Não é um lugar de tormento como pregam alguns fanáticos religiosos. Deus é amor e justo. Digamos que você tenha pecado 40 anos enquanto viveu na terra. Não seria justo você pagar por seus pecados uma eternidade de sofrimento. Para o céu você não vai também porque lá é morada de Deus e seus anjos. Não se iluda. Novelas são obras de ficção, isto é: não são verdades e nem mentiras, minha cara. Coloque Deus acima de tudo em sua vida e faça tudo àquilo que tiver vontade de fazer. Quando realmente sentir que é Deus que dirige os seus passos, a sua vida e, não um homem louco, viverá sem dúvidas.
Meu nome é Aroldo. Amo demais a minha mulher e tenho dois filhos com ela. Descobri recentemente que ela me trai com minha melhor amiga. Sofro muito com isso e, sei que se eu me separar dela nossos filhos vão sofrer muito. O que eu faço doutor?
DR. BOA
Meu caro Aroldo, a traição é um problema sério. Perdoar a quem nos trai é difícil, mas faz um bem em dose dupla, ou seja: a você principalmente que perdoa e, para quem lhe traiu. Veja bem: perdoar não é aceitar. Esta fulana que você chama de melhor amiga nunca foi tua amiga. Filhos não prendem jamais um relacionamento a dois. O que você deve fazer? Chamar a mulher e a sua falsa amiga e dialogar sem brigas. Seu amor sendo demais ou de menos cabe a você aceitar ou não esta união. O certo não é separar, o certo é não se juntar.
Meu nome é Leopoldo. Já fui pai de muitos e muitos filhos; avô de muitos e muitos netos e, hoje sou bisavô de muitos e muitos bisnetos. Estou sofrendo muito porque estou amando loucamente uma das minhas bisnetinhas. Fico muito louco quando vejo dançar aquela música do “tchan”. Só que ela nem liga pra mim. Eu lhe pergunto, doutor: Será que existe uma possível possibilidade do nosso amor vingar?
DR. BOA
Velho Leopoldo, o amor realmente é lindo e não tem idade. É claro que lhe dou esperanças válidas: esse amor vai vingar talvez na eternidade do inferno. Lá, pelo menos o que mais você terá é tempo para dançar até com o diabo “tchan”, “chachachá e chuchuchú” e o que você quiser. Aqui nesta vida, meu caro, tua fase de boy já passou e tua bisneta é uma boya, não vai querer um binóia como você. Respeite ao menos os pelos do seu escroto, velho tarado e louco. 

UM LOUCO NO CÉU


Um louco chega ao céu e topa com Deus curtindo um Bob Marley e fica admirado:
- Até o Senhor Curte um Bob Marley?
E Deus olha sério para aquele louco e, em seguida da um risadão que estremece todo o céu e diz:
- Curto um Bob Dylan também, louco.
E aquele louco olha para todos os lados iguais do céu e fica indignado:
- Senhor, cadê aquelas ruas de ouro, aquela mesa farta que me disseram na terra que eu iria encontrar aqui?
Deus sorri e diz:
- O povo lá embaixo fala demais, louco. Ruas de ouro?! Mesa farta?! De repente até tem aí pelo céu porque isso aqui é muito grande.
Nisso sai de uma das portas de nuvens um homem empurrando uma maca.
- Quem é este louco, Sr?
- Este é o Amado.
- O amado Jesus, teu filho?
- Não. Este é o Amado Batista. Sua esposa morreu no hospital, na sala de cirurgia, (isso lá na terra) e ele teima comigo que ela esteja aqui.
E o louco fica confuso.
- Mas, se ela não está aqui, onde afinal ela está?
E Deus responde:
- Ela está no inferno.
- E por que ele não vai para lá procurá-la?
- Porque no inferno não entra amado e muito menos batista, louco.
Nisso passa por ali uma mulher com uma multidão de crianças e o louco fica admirado de vez:
- Sr, quem é esta mulher e essa multidão de crianças?
- Maria e seus filhos.
- Maria Madalena?
- Não. Maria Encarnação Pinto de Jesus. Esta praga jura que é minha nora.
E aquela mulher juntamente da multidão de crianças entra numa das portas de nuvens e desaparece.
Nisso passa por ali Adolf Hitler, Sadan Russen e Bin Laden e o louco entra em paranóia:
- Hitler?! Sadan Russen?! Bin Laden?! Eles não deveriam estar no inferno?!
- Pois é, deveriam. O diabo não os aceitou lá por causa da política do inferno ou porque eles são ruins demais. Aqui eles também não vão poder ficar porque a maioria dos meus anjos é judeu e americano. Vou ter que arrumar um lugar pra eles.
De repente o céu escurece e vem aquele temporal e o louco fica apavorado.
- Mas, Sr, até aqui chove?! O que vem aí é muito mais do que água, é o mar!
- Vai cair uma chuva de meteoros da paixão, o céu e também o mar, mas, não aqui, é lá na terra. Um cara lá embaixo de tão apaixonado prometeu para uma guria dar o céu e o mar em troca do coração dela e ela deve estar cobrando isso.
E aquela tempestade de meteoros da paixão vai pra terra para alívio do louco que diz:
- Se cai aqui, haja peixe!
De repente, Deus dá um perdido no louco e este fica preocupado andando por todos os lados iguais do céu. Horas depois se encontra com Deus.
- Sr! Que perdido foi este que tu me destes?!
- Eu tenho que estar em todos os lugares, louco. Seria coisa de “lók” eu passar minha eternidade aqui com você, tá ligado? Fuja louco!
O louco olha para cima, para baixo, para todos os lados iguais do céu e pergunta para Deus:
- Sr, onde eu vou dormir? Cadê a minha casinha?
Deus dá um risadão e o céu estremece.
- Dormir?! Casinha?! Fuja louco! Vou te enviar agora direto pro inferno naquele avião que vem vindo. Olha o Lula lá, ó.
E Deus coloca o louco naquele avião.
- Pare de brincar, Sr! Para onde vai este avião com essa dupla sertaneja?
E Deus responde:
- Seu destino é a felicidade, louco. Fique tranqüilo. Pense em mim e boa viagem.
E aquele louco não só pensou em Deus como também chorou, pois, aquele avião estava indo para o inferno.

terça-feira, 29 de maio de 2012

DR. BOA RESPONDE (parte 1)



Meu nome é Luiz. Sou tímido e não tenho diálogo com ninguém quando estou sóbrio. Por isso é que eu bebo. Depois de umas pingas na cabeça converso até comigo mesmo.
DR. BOA
Meu caro Luiz, você é um doente. O álcool não cura nada, muito menos vai curar a sua timidez. Se você não tem diálogo, ouça. Leia um bom livro e medite na leitura. Um indivíduo movido a álcool não fala nada que se aproveita, porque fala pelo álcool; está tão chapada feita aquela mosca que caiu de cabeça na sopa. Ser tímido é ser inibido e isso é ruim, mas é tão passageira quanto uma dor de cabeça quando tratada. O álcool, além de não resolver o seu problema vai te dar mais uma coleção dele. Só depende de você agora.
Meu nome é Ricaldão e acho que meus pais me deram esse nome de propósito porque sou anão. Fico decepcionado e com vontade de morrer quando pego um ônibus lotado por via das bundas em minha cara. Acho que o meu problema não tem solução.
DR. BOA
Ricaldão, tudo tem solução e, até mesmo o seu problema. A criança não nasce com o tamanho de um adulto e também passa pelo mesmo drama que você quando pega um ônibus lotado. Isso é só uma fase, pois ela vai crescer e se livrar desse drama. Você não vai crescer, mas, ficará velhinho e terá o seu banquinho reservado no interior do ônibus esteja ele lotado ou não.

Meu nome é Helenice. Tenho muito medo de morrer e quando penso na morte, (que um dia eu também vou) choro muito, entro em pânico e quebro tudo, até mesmo a cara do meu marido que vive bêbado. O que eu posso fazer pra me livrar desse medo?
DR. BOA
Helenice, quem tem medo de morrer é porque ama a vida, só que no teu caso é exatamente ao contrário: você tem medo de viver porque está agindo como uma morta, ou seja: não está vivendo. Entrar em pânico e quebrar tudo é coisa de psicopata, minha cara! Mande teu marido procurar ajuda também. Tome várias copadas de maracujá ou de maracujina se preferir e relaxe. Ninguém morre quando realmente vive. Respeite a vida.

Meu nome é Maria. Amo muito a Deus, só que estou confusa de qual é a religião certa que devo seguir. Todas elas falam em Deus, mas se contradizem. Qual devo seguir, afinal?
DR. BOA
Minha cara Maria, Jeová Giré que é o Deus das girações e também das gerações não está preocupado com doces e salgadinhos. Preceitos religiosos, seitas e doutrinas vêm do homem e é claro: cada qual com o objetivo de agradar o Criador. Giré jamais deixa confuso aquele que o busca em espírito e em verdade. Não fique confusa você também. Para agradar a Deus basta ter um coração puro, só isso. Caso queira seguir uma crença religiosa, siga-a, mas lembre-se: não se prenda ao fanatismo porque isso é loucura e pode não ter cura. Segura na mão de Deus e vai...

Meu nome é Sueli. Tenho um único filho que é um molecão saradão, muito bonito, mas, infelizmente ele é muito sem vergonha: se masturba na minha frente como se isso fosse à coisa mais natural do mundo. Somos só nós dois nesse mundo porque meu marido foi-se embora por causa desse moleque. Sofro com isso porque esse moleque não tem respeito nenhum por mim.
DR. BOA
Sueli, você é tão sem vergonha quanto esse moleque que, por sinal da besta é o teu filho. Ninguém perde o respeito quando não se tem respeito. Você mimou essa criatura demais porque não soube ser mãe, ou seja: não se deu ao respeito. Creio que o covarde do seu marido também não soube ser pai, por isso é que foi embora. É um moleque desse (teu filho) que precisaria com urgência de um padrasto para lhe dar uma cabaçada de pau, porque se depender de você, sem vergonha como ele é vai adorar levar umas palmadinhas no bundão. Teu caso é se casar ou então vai agradar seu molecão já que me diz que ele é saradão. Uma dose de pouca vergonha na cara é essencial para você nesta hora, minha cara.

domingo, 27 de maio de 2012

SÁBIO


Sábio, és o grande mestre
Tens o dom de ensinar
A tantos homens vadios
Que cruel vadiagem neles eu conheci
Diz pra essa gente pequena
Resolver seus problemas
Porque eu não consegui
Diz que só vim pra salvar
Nem todos eu pude agradar
Perdoe essa gente por mim
Quis dominar este mundo
A sua verdade mostrar
Como esta gente é sangrenta
Meu sangue derramei e por ela morri
Fim da minha agonia
Poucos foram os meus dias
Estava escrito assim
Fim das minhas palavras
Daquela que eu tanto amava
Do amor que acabara enfim
Sábio, o amor é um veneno
Que fere enquanto durar
Há muitos anjos que choram
Mas o choro pior só de um anjo ouvi
Se tua luz for embora
Triste será esta hora
O amor não é tão ruim
Se luz se fez pra brilhar
Ela não pode apagar
Ou a história termina sem fim


Composição e Música:  Marvin

A SIMPATIA


Para mim, um dos maiores (se não, o maior) dons divinos é a simpatia. Ela fortalece o espírito de tal forma que este, por sua vez, assemelha-se a Deus, que é o autor da vida.
Um sorriso franco, verdadeiro é tão supremo que vale muito mais do que todo o ouro deste mundo; dinheiro não é capaz de comprar este sorriso porque ele não tem preço e nem tão pouco está à venda. Falo daquele sorriso que vem de dentro do coração repleto de amor e não daquele falso, forçado, ligado em interesses em suma materiais.
Uma pessoa antipática deixa transparecer o seu mau humor que contagia; geralmente, é uma pessoa triste, solitária, confusa, tem grande repugnância, é doentia, revoltada com tudo, todos e até consigo mesma. É uma pessoa sem luz, sem diálogo, ou seja: é anti social.
Todos nós temos problemas, porém, é incoerente deixarmos que nossos problemas contagiem aqueles que estão em nosso meio. Ninguém é obrigado a sorrir estando com uma dor insuportável de dente, cabeça, etc.; porém, descarregar sua ira, sua cólera em alguém não é o remédio e muito menos a cura.

A CONVERSÃO DOS CACHORROS


Certa manhã a cidade pacata de Sertãozinho, interior de São Paulo, despertou com uma pregação infernal de um fanático religioso. O homenzinho montou um palanque bem no centro da praça central e, com um microfone em mãos dizia em tom bem alterado:
- Criaturas que ainda não são meus irmãos em Cristo, arrependam-se dos seus pecados porque a hora é agora. Venham fazer parte da grande família de Deus. Fujam do diabo e seus demônios se não quiserem passar a eternidade no inferno.
Um senhor já bastante idoso, muito educado, se aproximou daquele fanático religioso e disse-lhe:
- Filho de Giré, essa sua pregação não vai dar em nada. Quem gosta de mico é a macaca e, quem tem fome da palavra é a cachorrada.
E aquele crente ficou furioso:
- Saia deste corpo, Satanás!
O senhor idoso conseguiu acalmá-lo lhe pagando um café requentado no boteco “balança teta”, próximo daquela praça e  dizia para o crente:
- Coceira de Giré, não me interrompa agora, pois o que tenho a lhe dizer é sério, objetivo e real.
- Sou todo ouvidos, caro ancião.
- Esta pacata cidadezinha sertaneja não carece de conversão, não. O povo daqui já é convertido. Cada um tem sua crença e, pra resumir: toda família é uma bênção. Agora, ferida crônica de Pagé, tem uma turminha meio grande que carece sim de sua pregação.
O fanático religioso doido para pregar como um prego que pra nada mais tem utilidade, regalou seus olhinhos de peixe gordo e indagou:
- Que turminha é essa, velhinho enviado de Deus?!
E aquele velhinho sábio, sem piscar seus olhos inteligentes disse-lhe:
- Quem precisa de sua pregação são os cães, ou melhor: os cães e as cadelas também. A maioria está nas vilas.
E o crente ficou vermelho de tanta fúria:
- Tá me tirando pra lók, meu?! Que espécie de cães e cadelas está me falando?
- Falo dos cachorros, choro de Exu das águas de São Francisco.
- Cachorros?! Mas eles são animais irracionais! Não entendem nada.
- Engano seu, vírus da vovó Cudores. Cachorros e cadelas são estressados por natureza. Os bichos já foram criados com raiva, só pode ser. Fazem um barulho insuportável e infernal e tem gente que ainda curte essa maldita poluição sonora. Eles sim estão endemonhados, precisam de conversão.
- Mas, como já lhe disse, caro enviado de Deus, são animais irracionais e não entendem nada.
- Bactéria de embrião, eles entendem tudo e, para entendermos eles um pouquinho melhor, faça o seguinte: vá para as vilas e leve consigo tripas de boi, intestino de porco, pezinhos de galinhas e, se isso lhe sair caro, leve bosta de bebês, pois os cães adoram. Em sua primeira pregação eles vão te odiar, é claro. Mas, quando fizeres a distribuição das tripas, etc.; eles vão te adorar. Fale para eles da calma que teve o filho de Giré com as imundícies humanas que foram lá ouvir sua pregação só porque ia rolar pães e peixes e, que não vale à pena latir à toa e boa. Será recompensado por isso, meu amigo lombriga do umbigo.
E no dia seguinte lá estava aquele fanático religioso na vila fazendo a sua pregação para a cachorrada que, a princípio queria lhe comer a alma de tanta raiva. Mas, cachorros são espertos. Foram se adaptando aos poucos porque sabiam que após a pregação iam ganhar tripas, pezinhos de galinhas e até mesmo uns ossinhos, por que não?
E aquele fanático religioso sentia-se feliz e dizia a todos que sua morada no céu estava garantida e que lá tinha até mesmo lugar reservado para os cachorros. Com o tempo, outros fanáticos religiosos aderiram essa brilhante idéia e a coisa pegou. E nas vilas só reinava a paz entre cães e cadelas...
Vendedores ambulantes, carteiros, testemunhas de Giré e todos aqueles batedores de palmas nos portões (que os cachorros acham que são deles )também entraram nesse ritmo: levavam para os bichinhos domésticos o pão deles de cada dia e, quer saber? Isso virou lei.
Só que, literalmente falando: danou-se tudo. Os ladrões também aderiram essa idéia e o prejuízo foi tamanho, mas aí já é a “conversão dos ladrões” que já é uma outra história.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O PERDÃO


Quando amamos a todos perdoamos. Não é fácil amar e muito menos perdoar. O amor é esplêndido, encantador e a tudo suporta. Nós temos muitas falhas e por isso erramos, porém, isso não significa necessariamente que gostamos de errar. As vezes, uma palavra mal colocada inferioriza o nosso próximo de tal forma que ele cai e, o levantar torna-se muito difícil a ele e também para nós que o colocamos naquele estágio.
Eu já fui  muito humilhado, caluniado e desprezado por muitos e, hoje sei  que tudo isso  que aconteceu comigo não foi por acaso; quem me humilhou, caluniou e me desprezou talvez tenha sofrido muito mais do que eu e, não falo isso  com ar                            de vingança, pois creio que a ira, a cólera são sentimentos destrutivos.
O perdão é tão transparente quanto o amor. Quando perdoamos sentimos uma paz inexplicável;  nosso espírito (que é mais forte do que a carne) se eleva de tal forma que sentimos a presença de Deus que é o autor do amor; ou melhor: é o próprio amor.
No percurso dessa nossa vida sempre vamos encontrar aqueles que por uma ou outra razão não vamos nos identificar. Isso é apatia, que também é um dos sentimentos destrutivos.  Uma pessoa apática não está bem com ela mesma e  isso costuma contagiar o ambiente que ela reside, frequenta, trabalha, etc. É exatamente esta pessoa apática que precisamos amar e deixar que este nosso amor floresça e a contagie. Isso pode ser muito difícil, porém, não é impossível. Muita gente, quando tratada com “grossura” quer rebater com a mesma “grossura”. Então vem a contenda, o escândalo, a violência e todos os sinônimos do verbo destruir.
A vida nos oferece o que ela pode ter de melhor. É hipocrisia perdermos o melhor dela por opção. Ficar criticando tudo e todos, sem dúvida, não chegaremos a lugar nenhum; ficar relembrando de coisas tristes do passado jamais nos dará um presente e futuro melhores. Amemos a vida! Perdoemos nossos devedores e, assim teremos a certeza de que também seremos perdoados pelo amor, o nosso criador.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

SEM PRECONCEITOS (2)


Meu nome é Magalisângela, sou morena-clara, cabelos tingidos de louro, olhos castanhos meio esverdeados, 1.50 m, 25 anos de alegria, tristeza, solidão e agonia.
A história que vou contar a vocês é real e aconteceu comigo. Podem soltar suas emoções e chorar porque isso é bonito e faz parte da vida meus irmãos e irmãs do mundo todo.
Conheci Jocrésio numa encruzilhada bem no seio de um cemitério num dia lindo de muita chuva. Era dia de finados e eu levava flores para a velha Cudores, minha falecida avó. Eu e Jocrésio nos apaixonamos no ato, ou seja: ele por mim e eu por ele. Nunca tive preconceitos: ele era gago, manco e não tinha um olho, além de um mau hálito da peste. Quando muito nervoso soava e lamentavelmente também peidava, mas isso é normal. Levei-o para minha casa e o alimentei, pois ele estava muito faminto. Jocrésio e eu nos casamos e o nosso amor era muito lindo.
Meu “cheiro” era pedreiro dos bons e tava no alto de um prédio rebocando quando levou um tombo e desceu rolando abaixo daquele prédio gigante. Sua coluna foi pro pau e por azar ele ficou impotente. Mas nosso amor era lindo e ele tinha mãos fortes e peludas que me faziam um carinho da hora. Meu “cheiro” passava o dia todo sentado numa cadeira de rodas e eu dava um duro danado para sustentar nossa humilde casinha na favela da Rocinha.
Numa noite de verão bem quente, ele me acariciava quando de repente uma bala perdida invade nossa casinha e se encontra com uma de suas mãos. Não teve jeito: sua mão direita foi amputada, mas ele ainda tinha a esquerda e, o nosso amor era lindo.
Jocrésio adoeceu de vez depois que perdeu aquela mão. Após sérios exames foi constatado que tinha diabetes, câncer do pâncreas e aí danou-se tudo. Como se não bastasse ele ainda ganha uma trombose e suas duas pernas com pés e tudo foram pro pau. Que estado miserável ficou este homem, meu Deus! Sua boca inchou e todos os seus dentes caíram; sua outra mão também foi amputada, mas ele ainda tinha braços, me fazia um carinho da hora com aqueles toquinhos e o nosso amor era lindo. Por tragédia do destino seus braços também foram amputados e, aí danou-se de vez mesmo.
Jocrésio teve três AVC, perdeu outro olho e também a fala, mas ele ainda tinha tórax e o nosso amor era lindo. Veio o diabo de uma ferida em sua bunda e aquilo não sarava nem com reza brava; ganhou uma coceira no ânus e eu tinha que ficar coçando pra ele até que meu “cheiro” dormisse. Isso era direto. Aquela ferida foi crescendo, crescendo que se multiplicou de certa forma que não teve outro jeito: seu ânus também foi amputado juntamente com o seu pênis e aí danou-se de danar-se de vez mesmo. A ferida se alastrou, comeu o tórax dele, as orelhas e, as narinas, seu pescoço e meu “cheiro” estava sumindo. Caíram seus cabelos, seus olhos cegos e ele ficou sem face, mas seu coração ainda batia tic tac e o nosso amor era lindo.
Eu não tenho preconceito, mas o homem ficou sem nada, gente! Até que um dia seu coração parou de bater e ele morreu, Fiz um pedido no necrotério e fui atendida: deram-me seu coração parado e eu tenho guardado ele até hoje em meu freezer porque nosso amor ainda assim continua muito, mas muito lindo.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

DROGAS


Drogas. O nome já diz tudo e você, dependendo da droga, não vai criticá-la, muito pelo contrário.
Tem pessoas que afirmam que beber socialmente é bonito. Bonito é o chicote de Giré. Aí pinta aquele churrasquinho no final de semana, se ajunta na casa do peão sua parentela, amigos e vizinhos e o “fuzuê” tá pronto. Enquanto não gerar ali uma discussão, briga de família ou até morte, aquilo que eles chamam de “festa” não acaba. Será que comeram churrasco e maionese demais ou foi o diabo da cerveja que tomaram demais?
O cigarro é outra desgraça também. O indivíduo está ciente de que fumar faz mal, mas, ele diz sorridente “fumar é legal”. Legal eram as chuteiras de Pelé. É aquela fumacinha diabólica que penetra no teu corpo, encardem suas roupas, “fedoreia” seus cabelos e aí: danam-se tudo.
Tem a maconha também: uma droga alucinógena que deixa o camarada tão besta quanto aquela barata tonta chapada de inseticida que caiu na sua sopa. O cara fala mole, ri do que não tem graça, enfim, etc.; e ele ainda diz que relaxa, acalma. O que relaxa e acalma é soltar um peido ou levar uma surra da sogra ou então praticar yoga seu idiota.
A cocaína, um pozinho tão caro que some pelo faro. Faz o capeta virar diabo e o milionário ficar coitado. O indivíduo fica tão ligado que é capaz de identificar um peidão na multidão; de reconhecer a pulga do pulgueiro que picou a sua bunda.
O crak é a droga moderna. Tenha certeza de que se for pro meio do mato vai encontrar lá um diabo usando essa peste. O usuário fica ligado por instantes e, quando a maldita droga acaba aí ele entra em grande desespero. A praga ambulante é capaz de roubar seus próprios pais para consumir aquilo que lhe deixa mais e mais covarde. Entra numa confusão mental tão absurda que chama Buda de bunda.
Não me venha com esse papo furado de que só um pouquinho não faz mal. Todo pouquinho é muito quando se pensa pequeno ou quando nada se tem. O bom é muito melhor do que o bombom e o mal é tão ruim que nem a si próprio suporta. Por isso é que não presta. Chamar de ser humano um indivíduo que não presta é como desprezar o bolo de uma festa.
No mundo de Giré (que o Deus das gerações e também das girações) existe muito gente boa, como eu por sinal. Não se anime não. A maioria não vale nada. Espero que você, assim como eu faça parte da minoria, esse é o meu time de coração. Muitas bundas num salão fica difícil de identificar um peido soltado por necessidade ou de propósito. O melhor é não peidar. Seja educado como eu, filho de uma puta.

domingo, 20 de maio de 2012

ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

Igrejas, templos, terreiros, etc.; estão espalhados pelos quatro cantos da terra. Apesar de suas doutrinas serem desiguais todas buscam uma só verdade: agradar a Deus.
A Bíblia é o livro mais complexo que já pude ler. Foi escrita por 40 homens em aramaico (hoje, uma língua morta) em hebraico (velho testamento) e em grego (novo testamento). Na realidade, não existe tradução exata de nada. Por isso é que existem tantas religiões, cada qual com uma filosofia ou crença diferente.
Naquela época, há milênios atrás, quando a Bíblia foi escrita os costumes do povo eram diferentes dos de hoje desse mundo moderno.
Digamos que você escreva uma carta para o seu filho hoje e ele guarda essa carta durante anos no gavetão do armário. O tempo passa e quem encontra esta carta é o teu bisneto, pois você e seu filho não existem mais. Eu pergunto: Ele vai entender tudo, alguma coisa ou nada daquilo ler? É óbvio que alguma coisa ele vai entender. Então, este teu bisneto inteligente apaixonado por poliglotismo traduz esta carta em vários idiomas. Aí, meu amigo é como tomar sopa de garfo. Fica complicado de entender. Assim é a Bíblia. Você não pode e nem deve interpretá-la ao pé da letra se não ficará louco feito aquele palhaço de terno e gravata falando besteiras pelas ruas, praças, igrejas, etc.
Qualquer igreja que você entrar vai encontrar um sábio, isto é: sábio na crença da doutrina dele. Então, você não terá nada a perder ou perderá tudo freqüentando tal doutrina. Lá ninguém, vai te incentivar a beber, fumar, roubar, etc.; esta é a melhor parte. Por outro lado você pode perder aquilo que é o melhor da vida: a sabedoria.
Cuidado com os “fervos mentais”. De repente você pode odiar uma televisão, um rádio, um computador achando que estes são objetos do Diabo. É evidente que o Diabo é mais sábio do que eu e você, mas ele não cria nada. Ele teve uma participação lá atrás no gênesis da criação do homem, mas esta é outra história.
Não se iluda com hipocrisias e fanatismos. E não pense você que o teu criador se agrada com míseras coisas. Peça a ele sabedoria como fez Salomão e viva o melhor da vida.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

GAROTA SÁBIA

Raquel era uma menina dotada de uma inteligência fora de série. Adorava as artes em geral, principalmente a música. Tudo ela queria saber, entender. Ficava em seu quarto ouvindo músicas variadas e, quando não entendia uma letra de uma delas corria para perguntar a sua mãe que tinha o hobbie de ficar ouvindo músicas pelo celular.
- Mamãe, acabei de ouvir uma música no rádio e não entendi muito bem a letra.
- Filha! Justo agora que mamãe está curtindo um Bob Dylan?
- Bob Dylan é bom demais, mamãe. Praticamente é um ícone, um profeta da música folk-rock. Para mim é o melhor compositor de temas político-sociais da história da música, principalmente os eventos da década de 60. Eu nem era nascida, mas, eu viajo lá, sabia?
Sua mãe ficava admirada pelo conhecimento musical, histórias de astros e estrelas que tinha sua filha Raquel.
- Robert Allen Zimmerman, sabe quem é, mamãe?
- Não. Quem é?
- Bob Dylan, mamãe! Ele aprendeu a tocar harmônica e piano na adolescência além de tocar violão, o instrumento que junto com a gaita se tornou sua marca registrada.
- Minha filha, só sei dizer que Bob Dylan é bom.
- Ele, sem dúvida alguma revolucionou a arte de se compor canções, mostrando ao mundo os problemas sociais que ocorrem no dia a dia. Sua carreira é lendária e sua música é imortal. Uma das minhas músicas preferidas dele é “like a rolling stone”.
- Parabéns, filhinha! Estou ouvindo agora “Hurricane”. Você conhece?
- Demorou, mamãe. Sei de cor todas as músicas de Bob Dylan.
- Minha filha, disse-me que ouviu uma música no rádio e não entendeu a letra. Que música é essa?
- Não prestei muita atenção no nome do cantor e muito menos no nome da música, mas, fiquei curiosa com a letra. O cara diz que deu o céu, deu o mar pra ganhar o coração da guria; fala em raio da saudade e, no final diz que é o meteoro da paixão.
Sua mãe suspira e lamenta:
- Minha filha, mamãe não é universitária e essas canções atuais requerem muito estudo para entendê-las. Que tal, perguntar ao Google? Ele vai esclarecer todas as suas dúvidas.
E Raquel ficava encucada querendo entender as letras de certas músicas, que por sinal, sua mãe também não entendia. Então, ela corria pro Google.
Raquel tinha apenas 10 anos e, realmente era muito sábia para a sua idade. Adora ler e escrever e seu maior sonho era ser quando crescesse, uma escritora.
Certo dia, sua mãe lhe flagra chorando sozinha em seu quarto. Raquel ouvia uma música no rádio e se emocionou demais com a letra.
- Por que choras, minha filha?
- Mamãe, que letra triste! O cara estava dormindo na praça quando foi abordado por um guarda que queria lhe descer o cacete. Ele implora pro guarda: diz que não é vagabundo, nem delinqüente. É apenas um cara carente e só dormiu na praça pensando nela. Coitado do cara!
- Esta é muito boa e também muito triste, minha filha. É um clássico. Quem canta? Odair José ou Amado Batista?
- Não faço a menor idéia, mamãe. Vou perguntar pro Google. O que esse cara quis dizer quando pediu pro guarda fazer tudo com ele?
- Pergunte pro Google, minha filha. Estou curtindo um som das antigas agora. Sabe quem está cantando?
- Agenor de Miranda Araújo Neto.
- Errado, minha filha. É o Cazuza.
- Cazuza era o seu apelido, mamãe. Na definição do dicionário é um “vespídio solitário de ferroada dolorosa”. Era um grande compositor, mamãe. A música que mais gosto dele é aquela: “Maior Abandonado”. Que letra incrível e até fácil de entender.
- Concordo com você. Agora o que se torna mais rica a música são estas letras assim metafóricas feito aquela do guarda.
E assim, Raquel e sua mamãe ficavam horas e horas falando sobre astros e estrelas. Que cultura exemplar, não é?

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O TAMANHO DA DOR

Certa vez uma menina sábia me disse: “Sua dor é você mesmo apenas. Não existe dor maior ou menor do que nada. O que existe é medo porque você o deixa florescer dentro de você”.
Discordei daquela menina sábia de apenas 15 anos, mas me calei naquele momento e fiquei imaginando: “Que dor poderia ser maior ou menor do que nada? Seria uma dor insuportável de dente, garganta, cabeça ou a dor insuperável de perder um ente querido, um filho talvez? O que essa menina sábia quis me dizer quando se referiu a dor sem medidas e ao medo florescente?”
Visitei hospitais diversos e notei ali que cada interno tinha uma dor diferente. Alguns é claro, com dores tão intensas que somente a morte poderia dar fim nelas; visitei asilos diversos, conversei com muitos idosos e pude notar que cada um deles tinha uma história diferente, ou seja: uma dor diferente.
Não! Aquela menina sábia estava completamente enganada quando me disse que não existe dor maior ou menor do que nada. Ela não ouviu as histórias que eu ouvi e nem sequer chorou tomando para si a dor imaginária de um daqueles internos, se bem que é impossível imaginar a dor sendo ela maior ou menor.
Hoje, eu diria a ela que tudo na vida tem um preço e este preço, sem dúvida pode ser maior ou menor. Aquilo que semearmos, com certeza colheremos um dia. Se na vida tudo o que soubemos fazer foi amar (e isso é difícil), então teremos a recompensa do próprio amor que também tem medidas.
Para a medicina avançada dores de cabeça, dente, garganta, etc. não são problemas de difícil solução. Elas podem ter cura. A dor da perda, do abandono, da mágoa, etc. estas sim são um problema de difícil solução para a medicina. O doente pode até mesmo ler um bom livro, assistir um bom filme, ouvir bons conselhos, etc., porém, se dentro dele existe uma dor, esta dor é dele e de mais ninguém. Somente ele sabe da medida exata da sua dor. Lembrar, chorar, amar, sofrer, calar não é sinônimo de fracasso, pois quando lembramos, choramos, amamos, sofremos e calamos é porque sentimos algo dentro da gente. Tudo isso é muito forte, tão forte que nos supera, floresce muito mais do que o medo. Tudo isso é amor, menina sábia. Pode ter certeza de que o amor tem dosagens, limites e medidas assim como a dor.

A NOJENTA

Ecliética não entendia nada de ética: comia qualquer coisa e de qualquer jeito e, por onde ela passava era mal vista e mal quista por todos que diziam: “Nojenta”. Ela ficava revoltada com isso, porém, fazer o que se não tinha ética?
Sua mãe vendo-a triste, cabisbaixa e pensativa tentava sempre animá-la:
- Minha querida, você é jovem, bonita, por que não aproveita sua mocidade e arruma um namoradinho?
Ecliética dizia mau humorada:
- Que arrumar namoradinho, que nada! Estou cansada dessa porcaria de vida. Eu quero é morrer.
- Que baixo astral, minha filha!
E assim vivia Ecliética: sempre de mau humor e ouvindo de todos: “Nojenta”. Ninguém gostava dela talvez porque ela era nojenta mesmo.
Certo dia, ela entrou numa igreja e conseguiu surpreender até o padre que disse pra si mesmo: “O que será que essa nojenta veio fazer aqui na casa de Deus? Rezar ou confessar?” O padre estava meio chapado. Não devia ter julgado aquela pobrezinha. Ela foi direta para a sacristia e conseguiu surpreender também o sacristão que saboreava uns “cheetos” (aqueles salgadinhos de queijo):
- Sai prá sua nojenta! Não vai ganhar meus salgadinhos, não.
Aquele sacristão devia estar chapado também por julgar mal a pobre Ecliética que disse pra si mesma:
“Sou nojenta, mas não como porção de chulé, seu maldito”. Ela estava se referindo aos salgadinhos de queijo.
Ecliética voltou para a sua casa e chorou muito ao lado de sua mãe que, como sempre, tentava animá-la:
- Erga tua cabeça, minha filha! Eu, seu pai, seus irmãos também somos desprezados por essa gente nojenta. Parece praga, meu! Mas, veremos o lado bom da coisa: Vamos cantar e dançar porque estamos vivas. “Fio maravilha, nós gostamos de você! Fio maravilha faz mais um pra gente ver!
Ecliética ficou mais revoltada ainda:
- Ta chapada de novo, mamãe?
- Olha a chineleta, minha filha!
- Eu não tenho medo de chineleta, minha mãe.
A mãe de Ecliética estava falando sério:
- Olha a chineleta, minha filha!
Por falta de aviso não foi: Ecliética foi esmagada pela chineleta da vovó, a dona da casa que disse zangada:
- Suas baratas nojentas! Eu vou exterminar todas vocês com minhas chineletas.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O AZARADO


Nivaldo era um sujeito azarado. Já nasceu se afogando de tanta água de parto que engoliu. Sua mamãe fez aquela respiração boca a boca e, lamentavelmente o bebê se engasgou e engoliu a prótese dentária inferior dela. Que horror! Nivaldinho passou por uma cirurgia delicada e, o diabo do cirurgião estava bêbado. Acabou esquecendo no estômago do bebê uma de suas ferramentas do trabalho. Teve que abrir Nivaldinho de volta e o bacurizinho chorava que dava dó. Eta peste! Graças a Giré correu tudo bem. Nivaldinho não morreu, mas chegou perto.
Quando Nivaldinho completou um aninho de vida se entupiu de tanto bolo de banana que comeu e ganhou uma diarréia da moléstia. O pirralhinho cagava até sangue com bolo. Carinhosamente sua vovozinha lhe fez um chazinho e ele não morreu, mas chegou perto.
Pitoco era um cãozinho vira-latas, fedorento, pulguento e sarnento que adora lamber o bebê Nivaldinho. O cãozinho gostava tanto de Nivaldinho que engolia prazerosamente seus peidinhos e até seus cocozinhos. Isso que é amor, hein Nenê! O pobrezinho do bebê ganhou dessa vez uma hemorróida e uma sarna daquelas bem cocentas lá na saída da misericórdia bem vinda. Veio pomada até da China e o problema só se agravou. Seus venderam o barraquinho onde moravam que era tudo o que tinham para pagarem o curador Zulú que era específico em curar aquele canal. A cura saiu cara, cara! Nivaldinho não morreu, mas chegou perto.
Quando Nivaldinho completou sete anos seus pais lhe deram uma festa. Bem na hora do corte do bolo chega por ali o ciclone e dana-se tudo. Morrem seus pais, avós e todos os seus amiguinhos, porém, Nivaldinho consegue se salvar. Não morreu, mas chegou perto.
Foi adotado por um casal de velhinhos que logo já foi pro pau também. Parece que Nivaldinho levou sorte: herdou o barraco de bangalô do vovô e, ali ficou morando toda a sua adolescência. Apaixonou-se por Raimunda, mas descobriu que ela dava demais seu amor para os outros; metia-lhe chifres mesmo como Antonia, Leopoldina, Creolina, Severina, Maria do Catulo da Paixão Cearense e muitas outras meninas. Ele, cansado de levar tantos chifres se casou com uma cega anã, surda e muda, feia pra demônio. O povo corria de Julieta pra se ter uma idéia. Mas, foi com essa mocinha que Nivaldo se amarrou de vez. Julieta vivia doente e não podia trabalhar. Nivaldo chegava do trabalho de servente de pedreiro cansado e ainda tinha que fazer os serviços domésticos como lavar, passar, cozinhar, etc. Quase tudo o que ele ganhava ficava na farmácia. Julieta tomava remédio até pra vista, se bem que ela era cega. Para alegria de Nivaldo ela fica grávida, pois, o sonho dele era ser papai. Nasceu um bacuri tão preto feito o falecido Ray Charles e Nivaldo achou isso estranho, pois ele e sua amada Julieta era tão brancos feitos algodão. Preferiu ficar quieto e criou Nivaljú com muito amor e carinho. Um ano depois nasce Nivaljúlia tão preta feito Diana Ross, aí danou-se tudo. Nivaldo não era racista, mas queria entender que diabos era aquilo que estava acontecendo.
Numa manhã, Nivaldo sai para o seu trabalho e dá de cara com um negão parado bem na esquina próxima de sua casa. Ligou os pontos e continuou caminhando. Minutos depois volta para sua casa e pega no flagra aquele negão em cima de sua Julieta. Nivaldo não era agressivo, mas encheu de balas o negão e sua amada, que lamentavelmente morreu sem lhe falar “adeus”. Ele ficou preso, é claro. Cumpriu uma pena de vinte anos.
Seus filhos que não eram dele foram criados pela vovó Joana, a mãe do falecido Negão. E não é que os neguinhos se deram bem na vida? Nivaljú virou o rei do reggae, botava Bob Marley no bolso e tocava suas canções com seus pés; Nivaljúlia tornou-se a rainha do funk. Famosos como o dólar ficaram ricos.
Nivaldo cumpriu sua pena e foi pra casa. Não conseguia emprego em lugar nenhum e foi pedir um auxílio aos filhos que não eram dele. Não ganhou nem sequer um autógrafo muito menos um dólar furado. Desesperado ele se torna um mendigo de rua. Vivia fuçando latas e um dia, dentro de uma das latas encontra um pacote. Quando o abriu ficou pasmo: tinha muita grana. Feito um louco gritou para que o mundo ouvisse: “Estou rico! Estou rico!” Deu de cara com a máfia italiana que lhe tomou toda a grana e ainda lhe deu uma surra. Desiludido, fodido e deprimido decidiu cometer um suicídio: subiu no mais alto dos edifícios e se jogou lá do terraço. Não morreu, mas chegou perto. Vive até hoje, já velhinho paraplégico numa cadeira de rodas esperando a morte chegar.

CRÍTICAS


É possível vivermos sem criticar ou ser criticado? Não é possível. Criticamos e também somos criticados. Assim trabalha a natureza. Não creio na possibilidade de viver uma vida sem críticas e é exatamente por esta razão que também não creio em hipótese alguma que exista um paraíso celestial esperando por nós, que somos críticos.
O homem ainda não se conscientizou que é um boneco de carne e que seu espírito é totalmente inferior às dimensões celestiais. Tudo o que ele semear e colher ainda será pouco. Nunca será promovido a anjo, porque é pó e em pó se tornará, embora ele seja a imagem e semelhança de Deus, o seu Criador.
Nenhum homem conhece realmente o que é a verdade, pois a verdade é única. Um fanático religioso prega aquilo que leu ou ouviu um dia. Para ele aquilo que aprendeu é a verdade. Uns até movidos pela crendice exagerada falam em línguas sem nexo e chamam isso de obra do espírito santo. Isso é fanatismo, loucura, blasfêmia e paranóia. Giré, (o Deus das girações) jamais deixa confundidos aqueles que realmente o adoram em espírito e verdade.
Toda a sabedoria humana é muito pequena para o Sábio dos Sábios. Somente um ser que é Deus sabe de todas as coisas e, não queira desafiá-lo como faz a ciência e seus céticos, pois ficará louco. Todo mundo é sábio naquilo que sabe e, se sabe é porque aprendeu. Eu critico os vagabundos da leitura e não os analfabetos. Aprender algo na vida é um dom e quem não tem esse dom não vive, vegeta. Ninguém vem ao mundo por acaso e nem vai embora dele por acaso também. É claro que existem parasitas demais aqui ocupando espaço, porém, isso só Giré pode explicar e, isso, se ele quiser também.
Um cético, por exemplo, por questionar demais a ciência torna-se um ser frio, sem sentimento, sem luz, sem vida. É um doente que, necessariamente só vai compreender o que realmente é viver quando morrer. Pode notar você que ele vive perturbado, sem paz de espírito. Se alguém falar em Deus para ele certamente vai ignorar, vai perguntar qual é a certeza que ele possa ter em acreditar na existência do desconhecido.
Tudo nessa vida é história e, isso é o que realmente faz sentido. Se você ler um livro vai estar lendo uma história, fictícia ou não é uma história. Assim é um filme, uma telenovela, uma música, etc. Tudo é história. Viver uma vida sem história é impossível. Só se sabe o que é certo conhecendo o que é errado. Não faz sentido o que não tem sentido. Viver é isso.
Você é livre para crer naquilo que quiser. Você depende da felicidade para ser feliz e não ela de você para ser o que é. E, o que é ser feliz para você? Ter um bom dinheiro, saúde boa, um amor fiel e verdadeiro e muitos amigos a seu lado? Eu posso ter tudo isso e ainda assim não ser feliz. A felicidade eu não posso comprar com dinheiro; a saúde é relevante; ter um amor fiel e verdadeiro e muitos amigos a meu lado até quando? E se acabar o meu dinheiro? E se eu passar o resto da minha vida entravado numa cama? Ainda assim terei a meu lado um amor fiel e verdadeiro e amigos também? Será?
Ser feliz para mim é contemplar a vida e saber que faço parte desse gigantesco universo. É principalmente reconhecer que sou o que sou. Tudo o que eu tenho pode ser muito ou pouco, mas é tudo o que eu tenho. Merecidamente é meu. A felicidade não se compra com o maior dinheiro do mundo e sim com um sorriso fiel e verdadeiro.

terça-feira, 15 de maio de 2012

O GOSTO ESTRAGADO


Existe um dizer assim: “Gosto não se discute”. Discordo disso. É sem lógica porque eu não gosto de bosta.
A música, por exemplo, é uma das artes que eu mais admiro. Falo de música, não de lixo musical que, lamentavelmente vem poluindo mais e mais o planeta, especificadamente o Brasil. Não citarei aqui os nomes desses “pés-de-chinelo”, vírus musicais porque posso ser processado. Citarei apenas aquilo que eu gosto e que vocês deveriam gostar também. Posso dizer que tenho bom gosto. É uma pena que muitos monstros sagrados ficarão de fora porque a lista é grande. Acompanhem atentos para esta história real:
“Vicentinho tinha 16 anos e era um moleque trabalhador querido por muitos. Era um Office boy e tinha muitos hobbies como ler, escrever, ouvir boa música, etc. Apaixonado por música desde sua infância sua cantora predileta até hoje (e ele está berando os cinquentão) ainda continua sendo Maria Bethânia. Parabéns, Vicentinho!”
“Ele cantava com seus colegas grandes sucessos desta ilustre cantora como: “Mel, Ronda, Negue, Diamante Verdadeiro, Olhos nos olhos, Brincar de viver, Loucura, Três apitos e muitos outros”.
“Vicentinho compõe até hoje belas canções da MPB só que talvez nunca façam sucesso porque a maioria não está interessada e o que manda hoje, como também naquela época é a mídia”.
“É claro que Vicentinho gostava como gosta até hoje de outros intérpretes. Desde moleque sempre foi apaixonado por Bob Dylan, Elton John, Kenny Rogers, Whitney Houston, Diana Ross e muitos outros monstros sagrados que hoje, lamentavelmente parece que foram esquecidos ou não lembrados, como preferirem”.
“Naquela época era lindo de ver as mocinhas saindo da faculdade cantando “Tempos Modernos” de Lulu Santos, “Cheia de Charme” de Guilherme Arantes, “Ovelha Negra” de Rita Lee e muitas outras belíssimas canções que vão ficar na saudade”.
“Hoje, Vicentinho cresceu, já é avô e está insatisfeito, assim como eu, com esse maldito lixo que chega a feder e fede. A galera, na regra geral, chama essa merda de curtição. Curtição?! Isso é lixo, galera idiota! São letras sem nexo que só mesmo retardados são capazes de entender. Veio à internet, o celular, a MP3 e, ai fodeu tudo nas mãos desses dementes. Essas musiquinhas idiotas estão na parada e eu morro de medo de sofrer uma parada cardíaca ou respiratória porque ter ódio delas é pouco e eu amo a vida”.
O indivíduo pega um “busão” lotado e já dá de cara com boysinhos ou menininhas fedorentos ouvindo essas porcarias. Tem uns até que dizem: “Eu sou eclético”. “Eclético era o Rei Salomão, bobão”. Você é um patético, isso sim. Vai ouvir “Sonho de Ícaro” na voz do cantor Biafra e só você entender uma linha sequer vai ganhar um pirulito de mim e quero que chupe todinho, tá legal?
Voltando as antigas, naquela época as pessoas falavam uma língua bonita, cheia de provérbios, de adjetivos. Até o brega tinha nexo nas canções e era bonito. A moleca apaixonada curtia um Roberto Carlos e chorava com prazer de molhar lenços; os moleques curtiam um Cazuza e se exibiam para as molecas falando bonito; curtiam uma Legião Urbana, Raul Seixas e até uns Beatles. E hoje? Hoje curtem uns gritos e acham que estão abafando no infinito. Que país é este, gente?!
Nas antigas, o camarada entrava num conservatório musical e muitos se cagavam para aprenderem a tocar um violão. Saíam de lá tocando todas de Chico Buarque, Caetano Veloso, Djavan, Milton Nascimento, Gilberto Gil, etc. E hoje? Hoje tocam o vento. Sai prá lá peidinho fedorento! Mete-te a tocar um Tunai pra ver como é fácil. Se bobear até um bebê toca essas musiquinhas atuais.
O indivíduo liga seu maldito radinho de tecnologia avançada made in Paraguai e o que ouve é só lixo. Quando sintoniza uma estação boa (que ainda existe) e o ouve um Peppino Di Capri, Domenico Mondugno, Rita Pavone, Gigliolla Cinquetti ele ignora, ora ou chora. Não entende nada e nem nunca vai entender de música, porque é um inútil. Sem essa de falar bonito pra ele. Ele curte apenas o que está na mídia. A mídia é você que faz, idiota!
Naquela época, uma menininha de 12 anos sabia ler e escrever e a danadinha falava bonito. É claro: ela tinha bom gosto e, se estiver viva hoje, pode apostar que continua tendo. E hoje? A menininha atual mata seu pai de desgosto por curtir esses monstros. Essa menininha e também suas amiguinhas gostam desses lixos porque os cantores são bonitinhos. Bonitinhos? Eu queria vê-los cantando suas malditas músicas no colo do capeta no inferno. Beleza física não tem nada haver com talento, povo nojento. Fazer o que se até a beleza física está na mídia, não é?
Que pena me dá dessa geração! Quando vejo na multidão um carro cheio de boysinhos e ouço o que eles estão curtindo me coço todo. Fico imaginando a quantidade de merda que eles devem em suas veias cerebrais.
Quem sabe eu, Doutor Boa, um dia possa realizar um dos meus sonhos: ter um programa de rádio. Então, quem sabe, eu possa trazer esses monstros sagrados de volta. Fico imaginando aquela vozinha doce de menina adolescente me falando ao telefone: “Quero ouvir “Sangrando” de Gonzaguinha ou “Reluz” de Marcos Sabino ou então “Sintonia” de Moraes Moreira. Que besteira! Isso nunca vai acontecer e eu tenho que parar de sonhar. Por isso é que, me perdoem os idiotas, mas, para mim gosto se discute sim. Eu amo quilo que é bonito, lindo, divino, não lixo.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

O FANTÁSTICO MUNDO DOS PERNILONGOS

Um bebê pernilongo curioso pergunta para sua mãe:
- Mamãe, o que eu vou ser quando crescer?
Sua mãe sorridente acaricia suas asinhas e lhe diz:
- Será um pernilongo, meu filho.
E o bebê pernilongo fica triste.
- Mas isso não tem graça minha mãe. Já sou um pernilongo.
- Não, meu filho. Você é apenas um bebê pernilongo. Tem manhas e artimanhas que você ainda não conhece. Seu pai por exemplo, é um pernilongo formado. Siga o exemplo dele e continue voando.
- Mamãe, isso não tem sentido. Que graça tem em ficar voando? Eu queria ser como os bebês humanos que mamam nas tetas, crescem, vão as escolas, jogam bola com seus amiguinhos, namoram, se casam...
Sua mãe sorri:
- Que bebê bobinho é você, meu filho! Nosso mundo é muito mais fantástico e divertido do que o mundo dos humanos. Eles pagam um alto preço na vida para sobreviverem, sabia?
- Mas, isso é o que é vida, mamãe. E, quanto a nós? Ficar só voando e chupando sangue não ta com nada. Eles tem variedades de chuparem muitas coisas como picolés, balas, geladinho, etc...
- Mas eles não voam, meu filho.
- Voar, voar, subir, subir. Que coisa mais sem graça! Eles andam, correm...
- Mas se aborrecem, meu filho.
- Nós também, mamãe. Pernilongos detestam inseticidas e, antes de protestarem já morrem chapados pelo veneno. Que vida sem graça!
- Não pense nas coisas tristes, meu filho. Tá vendo aquela bunda gorda daquele moleque?
- Sim. O que é que tem ela?
- Tem substância, meu filho. Uma gota de sangue daquela bunda alimenta eu, teu pai, você e outras famílias de pernilongos. Ninguém precisa brigar, pois temos comida pra vida toda.
- Que vida sem graça, mamãe! A vida não é só comer não. Eu queria estudar, trabalhar assim como os humanos.
- Que bobinho! Teríamos que tirar um eletroencefalograma para descobrirmos afinal o que é que passa nessa tua cabecinha.
- Eletro o quê?
- Um raio X do crânio, meu filho. Só que no nosso mundo não temos médicos pernilongos e muito menos aparelhagem indicada. Olhe só aquela orelha. Vem com a mamãe, vem.
- Que loucura! Eu não estou com fome.
- Mas tem que chupar, meu filho. Pelo menos o dedão daquele pé. Venha...
- Não, mamãe!
- Que bebê teimosinho é você! Depois vai querer mamar, não é?
- Não, mamãe. Eu não vou querer mamar.
E aquele bebezinho pernilongo cresceu e se tornou um adulto inconformado. Se alimentava de sangue somente para sobreviver mesmo. Seus pais morreram numa bombada de inseticida e ele chorou muito. Dizia pra si mesmo: “Até o final  da vida de meus pais foi sem graça. E agora? Vão pro céu ou pro inferno? Serão ressucitados? Serão julgados por Deus porque Moisés escreveu na Bíblia para se absterem de sangue?
E aquele pernilongo voava triste e cabisbaixo inconformado com a vida sem graça que levava.
Aquele pernilongo admirava demais os humanos. Adora tocar em seus ouvidos sua sinfonia pernilongal. Até que um dia, triste foi esse dia levou uma bofetada em seu frágil e raquítico corpo e morreu. Que morte cruel! Creio que para algum lugar ele foi. O molequinho que o esbofeteou odiava demais os pernilongos. Fazer o quê? Ele deve ter ido para o céu. Tadinho.

O JOGADOR



Alegrete era um homem alegre, de bem com a vida, cabra da peste honesto, trabalhador, pai de família num total de oito bocas para alimentar já inclusa sua frágil e raquítica mulher que esperava a morte chegar a qualquer momento sentada numa cadeira de rodas.
Alegrete não tinha estudo não, mas, em compensação era um servente de pedreiro de mãos cheias, isto é: mãos calejadas, mãos de cabra macho trabalhador. De manhã cedo antes de o galo cantar o cabra já estava de pé com sua mochilinha nas costas levando a marmita para o seu trabalho.
Apesar de sua ignorância, o pobre sertanejo cabra da peste tinha suas ambições. Seu grande sonho era tirar sua mulher e seus sete filhos da boca da miséria, da favela onde morava. Então ele fazia sua “fezinha” na loteria. Se ele ganhasse compraria um sitiozinho e ali terminaria seus dias junto de sua família que tanto amava.
Depois de mais um dia árduo de trabalho Alegrete chega numa casa lotérica já com um jogo feito em mãos. Na fila conhece um cidadão de boa aparência que lhe diz:
- Senhor, não lhe conheço, porém, nunca me engano com as pessoas. Consigo ler em sua testa que serás um homem milionário. Só que tem um, porém: deixe de ser miserável.
Alegrete não entende.
- Miserável?!
- Sim. Não é fazendo um mísero joguinho que o senhor vai ser um milionário. As probabilidades de ganhar são praticamente, pelos cálculos matemáticos nenhuma. Deves fazer mais apostas.
- Mas o que eu tenho é pouco. Hoje recebi e meu dinheiro está contado para pagar minhas contas.
Aquele senhor aparentemente simpático balança a cabeça e lhe diz:
- É por isso que pobre nunca tem nada, não ganha nada. Pare de pensar pequeno, miserável. A oportunidade não bate todos os dias em nossa porta. Olhe só para mim. Veja com teus olhos o sapatão de couro de jacaré adulto que estou usando. Minha limusine está no estacionamento. Até um tempo atrás eu era um miserável assim exatamente como o senhor. Ganhei várias vezes na loteca e continuo ganhando. Sabe por quê? Porque eu aposto, miserável.
Alegrete ficou tentado em fazer mais apostas, porém, ficou preocupado.
- Mas eu tenho família e meu aluguel vence amanhã e...
- Pare de se lamentar, miserável. Que aluguel que nada. Não tem vergonha de deixar sua família num barraco onde pagas aluguel? Compre uma casa, ou melhor: compre uma mansão. Isso é muito fácil.
- Fácil?!
- É claro. Deves jogar tudo o que tens e a hora é agora. Eu já lhe disse: nunca me engano quando bato meus olhos numa pessoa. Será um milionário.
E Alegrete tira de sua carteira todo o seu pagamento e faz mais apostas.
- Só vou deixar reservado o dinheiro do leite das crianças e...
E aquele senhor balança a cabeça.
- Que pobreza! Pense em quantas vacas leiteiras poderá comprar quando ficares milionário, miserável.
E Alegrete não resiste à tentação: jogou todo o seu dinheiro. Até mesmo a reserva do leite das crianças foi pro pau. Na saída da casa lotérica ainda marca uma cerveja e um x salada no boteco da esquina onde era freguês. Quer dizer: quem devorou o x e bebeu toda a cerveja foi aquele estranho de terno e gravata.
- Sinta-se um milionário a partir de hoje, meu senhor. Vá pra sua casa e abrace sua família e fique atento: nos próximos dias será um milionário.
E Alegrete chega a sua casa. Seus filhinhos já o esperavam no portão do cortiço:
- Papai, cadê o leite? Está no bolso?
- Papai, cadê meu pirulitinho?
Que tristeza! Alegrete mente para seus filhos.
- Papai não recebeu meus queridos.
Mal conseguiu dormir aquela noite. Ficou ouvindo o choro das crianças pedindo comida e leite. No dia seguinte foi trabalhar e não parava de pensar em seus filhos: “Coitadinhos! Mas, é por pouco tempo”.
Depois de dias de choro e lamentação ele passa na lotérica para conferir suas apostas. O cabra suava frio de tanta emoção. Aquele sujeito de terno e gravata lhe bate nas costas:
- Que satisfação revê-lo, meu senhor! Posso lhe ajudar a conferir suas apostas já que são muitas?
- Sim, é claro.
Alegrete não fez nem sequer um terno. Ficou triste, é claro. Aquele sujeito tenta animá-lo com um sorrisinho cínico e diabólico:
- Não foi desta vez, meu senhor! Não desanime. É exatamente assim que funcionam as coisas: hoje perdes amanhã tu ganhas.
Foi uma dureza da peste aqueles dias. Alegrete teve que pendurar uma comprinha no mercado da vila, pois seus filhos queriam comer. Quinze dias depois Alegrete pega o vale e vai direto para a casa sem olhar para aquela casa lotérica, porém, dá de cara com aquele sujeito de terno e gravata.
- Está correndo de quem e de que, miserável?
- Estou indo pagar minhas dívidas.
- Que dívidas? Pare com isso, miserável. Quem paga dívidas é pobre e o senhor não é. Está escrito em sua testa que serás um milionário em poucos dias.
- Meu aluguel venceu e não paguei, meu senhor. O proprietário já está pedindo a casa e...
- Deixe de tolo, miserável! Recebestes?
- Sim.
- A hora é agora: aposte tudo o que tens.
- Mas eu não posso.
- Vai querer morrer pobre mesmo, não é? Dane-se então. Eu lhe avisei.
E Alegrete não resiste: todo o dinheiro do vale fica naquela casa lotérica. Endividado, ele já andava cabisbaixo. Devia pra Deus e para o mundo. Dias depois foi conferir suas apostas e ficou novamente decepcionado. Não ganhou nada e ainda teve que ouvir lorotas daquele maldito sujeito de terno e gravata.
- Não faça cara de choro, miserável. Ganharás. Será um milionário nos próximos dias. Veja bem: estás registrado em seu trabalho?
- Sim, estou.
- Tens o nome limpo?
- Claro.
- Então, meu querido, estás fodido porque queres. Traga-me um holerite juntamente de seus documentos e vamos abrir uma conta bancária para o senhor.
- Mas, como?! Eu não tenho dinheiro nenhum para movimentar e...
- Pense adiante! Pense grande, seu miserável! Farás um grande investimento.
- Mas, eu não tenho nada para investir.
- Além de miserável o senhor é um analfabeto porreta, hein! O banco vai lhe dar um bom dinheiro, entendestes? Vai investir em tu, seu miserável.
E assim Alegrete com o auxílio daquele sujeito abre contas em vários bancos e consegue bons empréstimos de financiadoras para movimentar suas contas bancárias. Ingênuo como uma barata em fase de crescimento confessa para aquele sujeito de terno e gravata:
- Acho que o senhor caiu do céu mesmo. Consegui emprestar um bom dinheiro do banco e finalmente vou liquidar as minhas dívidas.
- Que dívidas, miserável? Vai começar de novo com esse papo de pobre, miserável?
- Meu aluguel vai pra três meses que está atrasado, vão cortar minha luz, minha água e...
- Deixe de ser leso filho de uma bactéria anã! Não se preocupe com picadinhos porque desfrutará das picanhas, seu miserável! Será um milionário nos próximos dias. Pegue essa grana que o banco lhe emprestou e aposte tudo porque a hora é agora.
- Será?
- É claro. Jogue tudo na loteria e considere-se desde já um milionário. Inclusive me empreste uma parte desse dinheiro que eu vou apostar para o senhor também.
E Alegrete tentado por aquele sujeito fez altas apostas na esperança de ficar milionário. Os dias passaram-se e ele além de não ganhar nada agora estava no vermelho: devendo pros bancos, pras financiadoras, etc. Danou-se tudo. Foi despejado do barraco da favela e foi parar com sua família debaixo da ponte. Sua mulher morreu com certeza de desgosto e foi enterrada como indigente. Seus sete filhos se perderam na vida: uns viraram trombadinhas, as meninas putinhas e lascou-se tudo. Alegrete começou a beber e já não tinha mais pique para o trabalho de onde foi mandado embora também. Virou mendigo de rua. Deixou o cabelo e a barba crescerem e tinha só um único objetivo agora em sua vida de pobre miserável: encontrar aquele sujeito de terno e gravata e lhe dizer umas verdades e depois matá-lo. Pois é: aquele sujeito sumiu e a procura foi grande.
Num belo dia, Alegrete entra num finíssimo restaurante e, como estava maltrapilho demais foi barrado logo na porta. Só que ele tinha um olhar infalível. Pode ver lá no fundo daquele finíssimo restaurante uma de suas filhas curtindo o maior dos “Love” com aquele sujeito de terno e gravata. Alegrete furioso invade aquele lugar e dá uma surra da peste serena maldita naquele sujeito.
- Safardana desgraçado! Não me disse que eu ficaria milionário? Olhe só o meu estado, seu demônio!
E Alegrete pega o terno e a carteira daquele sujeito e vai embora.
- Não vou lhe matar não, mas, isso daqui é meu, é meu e meu.
Entra num boteco porque a carteira estava recheada e, tinha os joguinhos feitos que ele até pensou em rasgá-los, mas não fez isso. Depois de tomar umas pingas passou na casa lotérica e, opa! Era o único ganhador da mega sena. Ficou tão feliz que deu um beijo de língua na mocinha do caixa que não achou ruim não. Agora, ele só tinha um único desejo: queria encontrar aquele sujeito de terno e gravata e lhe agradecer, lhe dar um aperto de mão, um abraço e um beijo e depois mandá-lo para o inferno com vários tiros. Se bem aquele sujeito de terno e gravata estava certo quando dizia que Alegrete ficaria milionário, não é?