quarta-feira, 30 de abril de 2014

FÉ, AMOR E PACIÊNCIA






José e Maria eram um casal muito religioso. Gostava de fazer caridades sem fazer acepção de pessoas. Seja lá, quem fosse que batesse palmas no portão, pedindo ajuda, vendendo algo, enfim, solicitando doações, eles recolhiam para dentro de casa.
Certo dia, José e Maria almoçavam quando ouviram bater palmas no portão. José foi atender.
Era um velhinho franzino, magrinho e estava com uma baita fome.
- O senhor não tem um pratinho de comidinha pro velhinho?
Os olhos do caridoso José encheram-se de lágrimas.
- Chegou ao lugar certo, senhor. Venha para dentro de casa almoçar comigo mais minha mulher.
E aquele velhinho se fartou de tanto comer. Ficou satisfeito mesmo, sô.
- Não lhe pedindo muito, o senhor não tem um cafezinho pro velhinho?
Maria preparou um café fresco de primeira para aquele velhinho humilde.
- Não lhe pedindo muito, o senhor não tem um quartinho pro velhinho descansar só um pouquinho?
José e Maria hospedaram aquele velhinho num dos melhores quartos da casa. E enquanto o velhinho dormia e roncava, José e Maria se abraçam na sala.
- Maria, está pensando o mesmo que eu?
- É claro, José.
- É como diz Hebreus 13: 2: “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos”.
Quem seria aquele velhinho humilde, hein? José e Maria estavam felizes em hospedá-lo. Pelas cinco da tarde, José e Maria estavam na sala e, levaram um susto, pois, o velhinho apareceu assim, muito de repente, nem sequer, ouviram seus passos.
- Me deu fome de novo, amados.
José lhe responde sorridente:
- Estávamos somente esperando o senhor acordar. Tem uma mesa farta na cozinha aguardando o senhor. Venha.
E José e Maria ficam felizes de ver aquele velhinho comer assim, com tanto apetite. Tinha de tudo sobre a mesa. Até mesmo mandiocas fritas.
Depois que o velhinho se fartou de tanto comer, ficou triste e muito pensativo. Foi quando José o perguntou:
- Senhor, alguma coisa lhe aborrece?
E o velhinho responde:
- É que o velhinho precisava tomar um banhosinho e vestir umas roupas limpinhas.
José sorridente diz:
- Mas, isso não é problema, senhor. Pode tomar um bom banho e, tem até banheira no banheiro. Quanto às roupas, selecionarei as minhas melhores para o senhor.
E enquanto o velhinho tomava um banho que demorou no mínimo umas duas horas, José e Maria se abraçam na sala.
- Maria, se eu lhe disser que estou feliz, certamente estarei mentindo.
- Meu Deus! Você não está feliz?
- Muito mais que isso, Maria! Estou felicíssimo.
- Vamos orar então marido. Vamos agradecer a Deus por esta glória, glória e glórias. Aleluia!
Quando o velhinho sai do banheiro, prova as roupas de marcas de José. Nem todas ele gosta. Ficou com as melhores. Já estava muito tarde. Ele preocupado pergunta as horas.
- Que horas são? Nem sequer um relógio, o velhinho tem.
José lhe presenteia com um lindo Rolex suíço, o melhor relógio do mundo.
- Agora tem, meu senhor.
E o velhinho agradece, porém, joga uma indireta.
- Já está tarde e o velhinho tem que partir. Que pena! Bem que poderia ser agora, cedinho pro velhinho partir tranqüilo e sozinho.
José afirma:
- De jeito nenhum, senhor! Pouse aqui conosco. Já está tarde e faz muito frio lá fora. Amanhã não pertence a nós. Glória, glória e glórias. Aleluia!
Na sala, José e Maria se abraçam.
- Olha só Maria! Que benção tem em nossa casa. Este velhinho é a glória.
O dia seguinte era um domingo e o velhinho acaba ficando por lá. Toma o café da manhã, almoça bem, descansa, toma o café da tarde, descansa de novo, janta e acaba pousando lá de novo.
O interessante é que nem José, nem Maria faziam perguntas a ele. Nem sequer, perguntaram qual era o nome daquele velhinho. Afinal, quem era aquele velhinho?
Passaram dias, semanas e meses e, o velhinho continuava hóspede da casa. Agora, ele já não pedia mais nada. Abria a geladeira, as portas do armário e se fartava do bom e do melhor.Tinha total liberdade.
José era um excelente carpinteiro e ganhava muito bem. Sustentava a casa. Maria ficava em casa fazendo faxina e, agora, na companhia do velho que não saia sequer, nem no portão da casa. Ficava lá dentro de casa numa folga total, sentadão no sofá da sala vendo televisão, enquanto Maria lavava, passava e cozinhava. O velhinho gostava mesmo era da cozinha. Que apetite era aquele, meu Deus?
Numa noite, enquanto jantavam em silêncio, o velhinho pergunta a José:
- Tens fé, amor e paciência?
- Sim, meu senhor.
- Está gostando de ter o velhinho aqui em sua casa, como o seu hóspede?
- Sim.
- O que você faria mais por este velhinho?
Esta foi uma pergunta muito difícil. José e Maria faziam de tudo por aquele velhinho. José fica confuso.
- O que eu poderia fazer mais pelo senhor? Tudo o que desejar, oras!
Havia uma plaquinha bem na porta da cozinha e, o velhinho aponta com o dedo para ela e pergunta a José:
- O que está escrito naquela plaquinha?
E José le.
- Propriedade exclusiva de Jesus.
Bem neste momento, forma uma tempestade, muitos raios e trovões e chove muito forte. O velhinho pergunta a José.
- Daria esta propriedade por amor a mim?
José se engasga e, o velho senta-lhe um forte tapa em suas costas e diz:
- Eu não entendi.
José simplesmente responde:
- Esta propriedade é sua, senhor.
E o velhinho diz:
- Quero que você e sua mulher a desocupem em poucas horas. Boa viagem para vocês.
José e Maria, sem entenderem nada, nada perguntam. Saem daquela casa e caminham na chuva e, sabe lá Deus para onde foram. Nunca mais foram vistos.
O velhinho, agora era o dono daquela propriedade. Afinal, quem era aquele velhinho? O maior dos traficantes de passarinhos, já aposentado: João Ferreira Bigolinho. Coitados de José e Maria. Pensaram que estavam hospedando Jesus Cristo. 

Ter fé, amor e paciência é, sem dúvida, uma dádiva de Deus, porém, não podemos esquecer que muita gente incrédula aproveita de nossa fé. Para dar mão à palmatória, temos que ter compulsória, nem todos que batem palmas em nossos portões são pessoas simplórias e dignas de serem notórias. Então, é desnecessário ficarmos dando glórias e glórias e, esta é mais uma das minhas histórias.


(HISTÓRIAS DA VELHA GLÓRIA 4)


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A BOLINHA



Dois anjinhos brincavam  no sétimo céu, no Paraíso Celestial, no Reino de Deus, o qual estava pensativo sentado em seu trono.
Um dos anjinhos aproxima-se de Deus e lhe pergunta:
- Por que não para um pouco de pensar? Criastes tudo. Não há mais nada para criar, então, venha brincar com a gente.
Deus responde:
- Brincar? Deus não brinca.
- Não brinca porque nunca foi criança.
Deus olha para aquele anjinho e lhe diz:
- Tenho que estar em todos os lugares do Universo que criei e, tudo ao mesmo tempo. Como se não bastasse, também estou em todas as mentes de todas as raças da terra. Desde o noia, o paranoia, os sãos e não sãos, etc. Estou nas profundezas do mar, no lago azul ou dourado, na selva, no zoológico, no parque, enfim, em todos os lugares. Não posso sequer piscar meus olhos para não perder cada lance. Olha o lance. Desde a picada da aranha, a bicada do abutre, a mordida do cachorro, etc. Tudo, tudo, tudo. Olha o lance. Preciso tirar umas férias e farei isso agora dormindo.
E Deus decide tirar umas férias dormindo. Dorme por uns três mil anos apenas.
Os anjinhos observam umas bolinhas pairando no espaço e resolvem brincar apenas com uma delas.
- Olhem irmãozinhos, esta bolinha aqui é marronzinha e tem até um lado azul. É diferente das outras.
E jogam vôlei, depois futebol celestial com aquela bolinha chamada Planeta Terra.
E acontecem na terra, grandes catástrofes, ciclones, furacões, terremotos, maremotos, tempestades de ventos e chuvas fortes, etc.
Um dos anjinhos dá um chute tão forte naquela bolinha marronzinha que ela vai parar dentro de uma bola maior chamada Sol e, lamentavelmente, explode-se toda devido o calor do fogo. Todos os viventes daquela bolinha e, isto inclui até a formiguinha, morrem todos explodidos. Deus acorda com a catinga.
- Que fedor subiu até minhas narinas. Quem explodiu aquela bolinha marronzinha?
Um dos anjinhos, triste, responde a Deus.
- Perdoe-me Deus. Sei que havia nela muitos retos, dá pra sentir o cheiro deles. Fui eu o autor desta brincadeira estúpida.
Deus boceja, depois diz:
- Boa brincadeira, anjinho Juninho. Esta bolinha estava deixando-me louco. Só não vão mexer nas outras bolinhas, porque elas estão quietinhas e não me perturbam.

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terça-feira, 29 de abril de 2014

O CLAMOR





Maria das Dores era uma mulher religiosa e fanática ao extremo. Congregava numa igreja evangélica bastante avivada e de doutrina rígida. Segundo os preceitos desta doutrina, ter em casa ou no trabalho um televisor, um rádio, um computador, etc., era pecado. Praia, futebol, maquiagens, pintar as unhas das mãos ou dos pés, era proibido, menos o dízimo dos amados, porque isso era sagrado.
Lamentavelmente, e isso é sério: no mundo moderno, o qual vivemos hoje, aquele que não tem um televisor, ou um rádio em sua casa, é considerado, ao menos para mim como um bicho do mato. E era exatamente assim que vivia Maria das Dores.
Maria das Dores vivia clamando, clamando, dando glórias e glórias a Deus, para que este tivesse misericórdia de seu marido alcoólatra e seus oito filhos perdidos nas drogas e na prostituição. Orava fervorosamente e de voz alta incomodando até mesmo o sono dos cachorros da vila, os quais trabalham o dia inteiro e, à noite querem descansar, caramba.
Mário Bento, marido de Maria das Dores morreu alcoolizado. Ela acreditou que Deus quis assim para que ele não sofresse mais.
Arantes, um dos seus filhos traficante e também cadeirante morreu nas mãos de um Almirante. Olhem só com quem ele foi mexer.
Peixoto, um dos seus filhos foi encontrado morto no esgoto. Cheirou tanta cola que morreu na sola.
Augusta, uma de suas filhas, era prostituta e acabou morrendo numa gruta. Pode ser perigoso fazer amor lá.
Maria das Dores clamava, clamava e dava glórias e glórias achando que tudo isso era permissão de Deus. Era analfabeta, mas, mesmo assim, andava com a Bíblia debaixo do sovaco e, sua hora mais sagrada era a do culto. Lá ela encontrava seus irmãos de igreja e colocava as fofocas em dia. Era revelada pelo pastor e tudo mais.
Sucedeu que numa noite, enquanto Maria das Dores e mais noventa e nove irmãos da fé estavam no culto, orando fervorosamente, caiu uma chuva tão forte, mas, tão forte que, não tiveram sorte e esta foi a causa morte. Caiu um raio do céu dentro daquela igreja e não sobrou ninguém. Nem um nenê para contar a história.


Orar é uma atitude bonita daquele que tem fé. Mas, é importante lembrar que Deus conhece todos os nossos pensamentos e isto desde o nascimento. Não é necessário orar alto, porque, além disso, ser um absurdo, Deus não é surdo. Repetitivas palavras podem não significar nada para Deus. Pensem bem, fanáticos, antes de clamarem, clamarem e dar glórias e glórias e esta é mais uma das minhas histórias.


( HISTÓRIAS DA VELHA GLÓRIA 3)


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segunda-feira, 28 de abril de 2014

O HOMEM E O CACHORRO




Um andarilho de tanto andar, chega num lugar aparentemente esquecido por Deus e pelo Diabo também. Uma gigantesca mata que mais lembrava uma selva. Decide viver lá até o término de sua vida.

Avista uma casa. Sim, uma única casa no meio daquela grande mata, com um cachorro amarrado que, sai de sua casinha e late em disparate ao sentir a presença daquele andarilho. Batem palmas várias vezes e desiste. Não havia ninguém naquela casa.

O cachorro late, late, e, pelos latidos do bicho, sem dúvida, ele estava com muita raiva daquele andarilho ou de qualquer passarinho que chegasse próximo de seu portão, ou seja: do portão que ele achava ser dele.
Havia uma grande árvore bem de frente aquela casa e o andarilho senta debaixo dela e decide tirar um cochilo. O cachorro não parava de latir. O andarilho cochila, acaba se ferrando no sono e, o cachorro latindo. Quatro horas depois, o andarilho acorda e o cachorro latindo. “Como pode um bicho desses sobreviver de tanta raiva?” – Pensa o andarilho.
O cachorro só fazia uma pausa em seus latidos para comer sua ração (que tinha muita) e beber água e, depois, voltava a latir.
O andarilho tira de seu grande saco de plástico uns pães, um litrão d’água e faz sua refeição e, o cachorro latindo.
Cai à noite e o andarilho dorme ouvindo aqueles latidos impertinentes daquele cachorro. Acorda de madrugada com uma forte tempestade de chuva e, não se conforma com a cena que vê: o cachorro, ao invés de se abrigar em sua casinha, molha-se todo na chuva e continua latindo. “Uma curiosidade: será que enquanto durmo, esse bicho também dorme?” – pensa o andarilho.
A tempestade de chuva passa e o andarilho todo molhado volta a dormir e o cachorro latindo. Acorda com um lindo dia de sol, faz sua refeição e, o cachorro latindo que, também faz uma pausa para comer e beber e, depois volta a latir.
Passam dias e algumas semanas e, a ração e água daquele cachorro acaba e, mesmo assim, ele continua latindo. A água do andarilho também acaba e ele tinha apenas um único pãozinho duro e acaba dividindo com aquele cachorro que come com raiva e depois volta a latir. “Mal agradecido. Sua raiva é maior que sua fome”. – pensa o andarilho.
O andarilho é picado por um escorpião e não consegue levantar-se do chão devido a muita dor. Ele queria achar alimento nas redondezas para si e também para aquele cachorro que não parava de latir. Sentiu fortes dores de cabeça, febre muito alta e dormiu ouvindo de longe os latidos daquele cachorro.

O andarilho morre e morre também aquele cachorro. Não se sabe até hoje qual dos dois morreu primeiro.
Um ano depois, o dono daquela casa chega e, já esperava, é claro, não encontrar Rex, seu cachorro vivo. Dobra seus joelhos diante da caveira de Rex e chora muito.

- Perdoe-me, meu melhor amigo. Estive preso em outro país e, não teve como eu voltar antes.
Uma hora depois, o sujeito olha para aquela árvore e, bem debaixo dela, vê uma caveira. Chega próximo dela.
- Seria homem ou mulher este praga? Quem sabe não foi este monstro que matou meu.
Movido de pura raiva, aquele sujeito pega um machado e dá várias machadadas sobre a caveira do andarilho, destruindo-a de vez para sempre.

A raiva é o pior de todos os sentimentos que um ser humano ou animal possa ter no percurso de suas vidas. Viver com raiva é como morrer na dor e, não existe dor que seja maior do que a raiva, aquela que destrói tudo por dentro causando grandes moléstias e intenso sofrimento. Nossas vidas são almas, nossas almas são glórias e glórias e, esta é mais uma das minhas histórias.



(HISTÓRIAS DA VELHA GLÓRIA 2)

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EM TUDO DAI GRAÇAS


A vida tem seus altos e baixos, porém, tem pessoas que, lamentavelmente, não vingam na vida. Tudo o que fazem da errado. 
Assim acontecia com Leonardo, um sujeito azarado demais. Teve oito filhos lindos e saudáveis, os quais morreram todos de uma só vez, vítimas de um ciclone.
Sempre nessas horas de intensa dor e sofrimento que Leonardo passava, vinha um velhinho em seu caminho (só Deus sabe de onde) para lhe consolar.
- Em tudo daí graças, amado Leonardo.
Leonardo com os olhos lacrimosos dizia:
- Como posso dar graças? Perdi meus oito filhos amados de uma só vez. Morreram todos.
- Mas, ainda tem sua mulher, amado Leonardo. Vocês são jovens, saudáveis e, a vida continua. Podem ter muitos outros filhos. Alegre-se. Deus recolheu seus oito filhos porque, sem dúvida, tinha um plano para com eles. Deus sabe o que faz. Em tudo daí graças.
Ester, a linda mulher de Leonardo a trai com outra mulher. Com a própria cunhada, ou seja: com Leonarda, irmã gêmea de Leonardo.
Leonardo chora muito, porque amava demais sua mulher Ester.

 E vinha aquele velhinho novamente em seu caminho lhe consolar.
- Em tudo daí graças, amado Leonardo.
- Como posso dar graças? Minha mulher traiu-me com minha própria irmã.
- Talvez, ela não era pra ser sua. Deus sabe o que faz. Em tudo daí graças.
Leonardo pagava aluguel da casa onde morava e, para sobreviver, tinha que trabalhar muito. Tudo bem que agora não tinha mais mulher e filhos para sustentar, mas, mesmo assim, tinha que dar um duro danado. Nem pão de mel cai do céu e, aluguel, é aluguel.

Leonardo trabalhava como pintor e, sucedeu que um dia, quando estava pintando a parede de um prédio por fora, de repente, um abutre defeca bem em cima de sua cabeça e ele se assusta. Pior do que isso: cai do décimo terceiro andar e, milagrosamente sobrevive. Fica em coma hospitalar entre a vida e a morte, porém, sobrevive. Dias depois, recebe a visita daquele velhinho.


- Em tudo daí graças, amado Leonardo.

Leonardo estava indignado demais.

- Como posso dar graças? Perdi minhas duas pernas e um braço. Estou internado aqui há três meses sem saber o que está acontecendo lá fora.

- Lá fora está tudo igual, amado. Não entendemos os desígnios de Deus, porém, creia: Ele quer sempre o melhor para nós. Você perdeu duas pernas e um braço, porém, Deus poupou a sua vida porque tem um plano com você. Alegre-se! Você ainda tem um braço, uma cabeça, um pescoço, uma bunda, etc., e está vivo, amado.

O velhinho vai embora e, Leonardo fica ali no leito hospitalar questionando com Deus, o porquê de estar sofrendo tanto assim.

Recebe a visita de um pastor político que lhe presenteia com uma cadeira de rodas. Leonardo só precisava assinar alguns papéis e, como ainda tinha um braço, fez isso e pronto. Ganhou a cadeira e, três dias depois, alta hospitalar e foi para casa. Casa? Que casa? Chegando lá, decepciona de vez: havia outros moradores.

Uma alagoana vem lhe atender no portão.

- Pois é, seu cadeirante, esta casa foi abandonada e, o proprietário gostou tanto de mim e de meus doze filhos que, por sinal, são todos trabalhadores que, encarecidamente, alugou para mim, que paguei um ano adiantado.

Leonardo fica preocupado.

- Peraí! E os meus móveis? As minhas coisas?

- Fiquei sabendo que, o proprietário doou tudo para um pastor político.

Leonardo só desejava morrer naquela hora. Desta vez, chora com ódio. Conduzindo sua cadeira de rodas, encontra pelo caminho, aquele velhinho.


- Em tudo daí graças, amado Leonardo.

Leonardo estava muito revoltado.

- Como posso dar graças, enviado de Deus ou do Diabo? Olhe só o estágio do estado que cheguei. Como se não bastasse, além de perder tudo, não tenho mais moradia.

- Alegre-se, amado. Ainda tem uma cadeira e, de rodas. Procure uma assistência social. Será bem recebido. Tomará um bom banho, um cafezinho quente e, amanhã descobrirá que o mundo é colorido como nos sonhos do nenê. Isso não é lindo?

Leonardo procura uma assistência social e, chega lá, todo defecado. Precisava urgentemente que alguém lhe desse uma assistência.

- Mocinha, acabei de defecar. Olhe só o meu estado. Você pode me ajudar?

Que azar! A mocinha chuta tão forte aquela cadeira de rodas que Leonardo cai dela.

- Sai pra lá, seu verme!

E nesse hora chove muito forte. Leonardo caído no chão, defecado e todo molhado, desejava morrer. Pior do que isso: um ladrão ainda rouba a sua cadeira de rodas.


E aquele velhinho aparece em seu caminho.

- Em tudo daí graças, amado Leonardo.

- Como posso dar graças? Olhe só o meu estado. Não tenho mais nada.

O velhinho lhe dá um guarda chuva.

- Agora tem um guarda chuva e pode segurá-lo porque tem um braço. Não seja tão pessimista, amado.

Leonardo com muito ódio da vida, segura aquele guarda chuva.

- O que mais me falta acontecer?

De repente, vem um caminhão em alta velocidade e, acontece um terrível acidente. O velhinho escapa porque da um pulinho de gato para trás, porém, Leonardo morre na hora e, da pior forma: Morre com o bico do guarda chuva espetado em seu reto para se ter uma ideia de quão terrível foi o acidente. Que morte horrível!


O velhinho misterioso chora e diz, olhando para o corpo esfacelado de Leonardo. 

Nem tudo na vida é engraçado, portanto, é desnecessário dar graças a tudo. Dar graça para a desgraça é como aceitar a derrota. É deteriorar a memória, dizendo tolices como ora que melhora e ficar dando glórias e glórias e, esta é mais uma das minhas histórias.



(HISTÓRIAS DA VELHA GLÓRIA 1)


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domingo, 27 de abril de 2014

O BOTECO DO PORTUGA



Maneco, apesar de não ser um homem bonito fisicamente, tinha uma beleza interior por ser um homem simples, distinto e muito trabalhador. Era servente pedreiro este grande guerreiro e trabalhava duro para sustentar sua rica família em números, ou seja:

 Sua mulher Lírios e seus doze filhos.
Frequentava o boteco de Uga, o portuga. Um português tão miserável que nem sequer sorria para não desperdiçar energia. O velho Uga, de certa forma era um homem abençoado, pois, seu boteco vivia lotado. Até o Diabo queria entender isso, pois, Uga era mais sério do que todo caso sério. Não conversava com ninguém, não tinha amigos e muito menos família em sua vida.
Só tinha uma única coisa que este português miserável gostava. O que? Mulher? Para ele isso era uma droga e, isto inclui as sogras. Crianças? Isso era um drama. O que o portuga gostava mesmo era de grana. Queria ver seu dinheiro crescer no grande baú que tinha no porão de seu boteco, onde morava. Tudo o que ganhava depositava em seu baú.
Sucedeu que um dia, Maneco chega ao boteco do portuga com um colega de trabalho. O Bráulio. Ele e o colega tomam muitas cervejas e pingas, comem muitos bolinhos de bacalhau e, depois, de satisfeitos, Maneco acena para o velho Uga, o portuga que este venha até a mesa.
- Querem mais bolinhos? Mais cervejas?
Maneco responde humildemente.
- Estamos satisfeitos. Obrigado.
- Querem pagar a conta?
- Não, velho Uga. O senhor sabe que frequento o seu boteco há doze anos e...
O portuga fica preocupado.
- Vá direto ao assunto.
- Preciso que me empreste vinte reais.
O que?! Pensem na fúria de um louco. O velho Uga estoura um copo com a palma de sua mão de tão furioso que fica.
- Seu vagabundo! Vai me pagares o que consumistes com teu amigo agora.
Maneco calmo feito um bicho-preguiça coçando o pé, tira de sua mochila um pacote amarelo e surpreende o portuga e todos daquele boteco.
- Deixou de ganhar vinte mil reais, seu português idiota. Fiz uma aposta aqui com Bráulio, meu ex-colega de trabalho que, caso o senhor emprestasse-me vinte reais, receberia no ato do empréstimo vinte mil reais. Caso ao contrário, Bráulio receberia de mim, que ganhei na loteria sozinho, vinte reais, porém, pagaria a conta da mesa que deu um total de cento e vinte reais. Toma lá os seus vinte, Bráulio. Bote mais cem e pague a conta e vamos embora.
O velho Uga coça até sua bunda e fica manso feito um côrno manco.
- Maneco, lhe conheço há tantos anos e é evidente que fiz uma pegadinha contigo. Até o copo participou da brincadeira. Olha só minha mão direita. Está sangrando. É claro que lhe empresto não somente vinte reais como cento e vinte e digo-te mais: podes me pagar quando puderes e tudo que consumistes aqui com teu amigo, não é necessário pagar. É brinde da casa.
Maneco olha para Bráulio, dá um sorriso e diz:
- Este portuga é muito inteligente.
E o velho Uga fica tão emocionado que tira de seu bolso cento e vinte reais e entrega nas mãos de Maneco.
- Lembra-te de mim quando entrares no teu reino.
Maneco estava achando aquilo tudo fácil demais e, pergunta ao portuga:
- O que vai querer agora?
E o velho Uga surpreende a todos daquele boteco ao responder para Maneco:
- Apenas um abraço.
- Só um abraço?!
E Maneco da um braço bem apertado no velho Uga e diz:
- Lembrarei de ti, meu velho, quando eu entrar no meu reino. Adeus.
Até hoje, o portuga está esperando esse safado do Maneco em seu boteco. Foi para a Bahia com toda a sua família  usufruir da grande fortuna que ganhou da loteria. Deu um perdido até em Bráulio, seu ex-colega de trabalho. E foi para a Bahia com sua família usufruir da grande fortuna que ganhou da loteria. Deu um perdido até em Bráulio, seu ex-colega de trabalho.
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O dinheiro, para muitos é como se fosse Deus. Não precisa tê-lo nas mãos ou sob seus pés. Basta apenas ser visto com os olhos da fé e dar glórias e glórias e, esta é mais uma das minhas histórias.


(HISTÓRIAS DA VELHA GLÓRIA)


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