segunda-feira, 14 de abril de 2014

AS VACAS COMADRES


Mu era uma vaca pacífica que vivia pastando na grande fazenda onde morava.

Freqüentemente, era visitada por Ítica, uma vaca raquítica, magra feita à fome, que morava numa simples chácara não muito longe da fazenda.
Mu e Ítica, apesar de serem comadres, eram muito amigas.
- Olá, comadre Mu, cheguei pra almoçar contigo, conforme o combinado.
- Comadre Ítica, você ta mais amarela do que a gema do ovo.
- O que tem de bom para o almoço, comadre Mu?
Mu da um sorriso vaquil e responde:
- Mato. Tem mato. Vai querer mato?
E assim, ficaram horas no pasto da grande fazenda comendo mato e conversando. A vaca Ítica, apesar de ser pobre, era muito orgulhosa e gostava de ficar reparando.

- O que é aquela bola verde no meio de tanta comida, comadre Mu?
Mu da outro sorriso vaquil e responde:
- É bosta.
- Bosta?!
- Sim, mas, você não precisa ficar com nojo não. Aquela bosta é um bolo de mato. É totalmente vegetal e tem até vitaminas.
- E é? Mas, de quem é aquela bosta? Ou seja: de quem é aquele bolo de mato?
- De Valo, o grande cavalo da fazenda. Nós somos amigos e compartilhamos nossos bolos um para com o outro, entende?
- E é?
- Tem que ter uma saladinha diferente em nossa comida, não é comadre?
- E é?
- E lá na chácara onde você mora não tem uns bolinhos de mato desses na comida?
A vaca Ítica responde indignada:
- Bolinhos de mato, não. Tem é bosta de galinha, de gato, de cachorro e de porco. Eu não como não. São bolinhos muito gordurosos, ataca meu estômago, meu fígado e meu colesterol e, depois outra: fedem pra caramba.
- Pois é, comadre, aqui é tudo diferente. Quem pasta com a gente é só gente da nossa família e, isto inclui Valo, o cavalo, que é como se fosse da família, entende? Se bem que de vez em quando vêm uns abutres do céu querer cagar aqui, mas, se eu vejo, o boto pra correr.
- E é?
- Mudando de assunto comadre Ítica, como é que está o Chifrudo, o touro e meu compadre de seu marido?
- Coitado dele. Foi capado.Virou um boi. Não presta mais pra nada.
- Que pena! E ele era tão valente, bonito e boy. Agora virou boi. Meus pêsames.
- Pois é, comadre Mu, queria tanto arrumar um touro que fosse meu companheiro.
- Vou te arrumar o Erro, meu filhinho bezerro.
- Bezerro? Mas, isso não é pedofilia?
- Em nosso mundo vaquil não existe essa paranóia não, comadre. Aproveite o Erro, meu filho bezerro enquanto ele ainda é boy, pois, um dia vai virar boi e aí, já era. Os homens não podem ver a gente feliz por muito tempo.
E a vaca Ítica adorou o bezerro Erro e ele também a ela. O bezerro cresceu como crescem a goiaba, meu! Ficaram juntos por alguns anos e tiveram muitos filhos.

Lamentavelmente, Ítica, a vaca raquítica foi assassinada por Dêca, um alagoano que adorava comer uma carne seca.
Tristeza no pasto total. O bezerro Erro, sua mãe vaca Mu e até mesmo o cavalo Valo choram pela morte da vaca Ítica.

Vida de vaquil deve ser uma vida muito triste mesmo, meu querido Brasil.


doutorboacultural.blogspot.com/




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