domingo, 6 de abril de 2014

A DOIS PASSOS DO PARAÍSO


Arlindo Orlando e Marineide Leite viviam um romance daqueles de cinema. Quando o amor é lindo, a gente tem é mais que ficar sorrindo feita uma besta quadrada. Pra que chorar como um nenê gordo que só pensa em tetas?
Arlindo Orlando se casou com o grande e único amor de sua vida: Marineide Leite. Foi um casamento lindo, porém, simples.
Lúcia, muito amiga de Marineide Leite foi quem fez o bolo. Arlindo foi o que mais comeu e, não cansava de elogiar Lúcia.
- Tuas mãos são mágicas, Dona Lúcia. Obrigado pelo prestígio de nos presentear com este bolo prestígio.
Voltando ao casamento, como citei, era simples porque o pai de Marineide, conhecido como Leitão era pobre e, a única coisa gorda que um pobre tem na vida é a sua simpatia. Entre os convidados do casório que acontecia numa chácara, estava Nena e seus oito filhos. Todos os amigos de Lúcia, a dona do bolo prestígio. Nena e seus filhos não gostaram muito desta festa não, porque faltou bolo. Arlindo Orlando não perdeu tempo.
Para quem não sabe, bolo com cerveja da um siricutico nas ideias que pelo amor de Deus. O estômago sobe, figurativamente pra cabeça, o fígado sensível amolece e faz o peão falar macio como um gay australiano e, aí, quem foi lá incomodar o silêncio de Lúcia, a criadora universal do legítimo bolo prestígio? Arlindo Orlando oras.
- Tuas mãos são mágicas, dona Lúcia. Obrigado pelo prestígio de nos presentear com este bolo prestígio.
Já repararam num dos dons excepcionais que tem um bêbado? Ele repete sempre as mesmas frases respeitando ponto, vírgula e tudo. Ele é capaz de ganhar no vocabulário até para um papagaio.
Marineide Leite podia até ter cara de besta, sambiquira, lunática, paranoica e retardada, porém, não era nada disso não. Ficou com tanto ciúmes de Lúcia, por causa do grude no pé do ouvido de Arlindo Orlando que a chamou num cantinho e disse-lhe:
- Lúcia, sou tua melhor amiga e espero que você entenda-me. Suma daqui imediatamente, porque estou ao ponto de cometer uma loucura.
Vixi! Lúcia que é contra a qualquer tipo de violência nem quis saber que loucura era aquela que sua amiga iria cometer. Sumiu dali rapidinha sem questionar nada, levando com ela, (é claro) Nena e seus oito filhos.
Quem não gostou nem um pouquinho disso foi Arlindo Orlando. Quis fazer justiça.
- Amor, quer dizer: ex-amor. Por que mandou embora tua melhor amiga? Ciúmes de você é outra história. Lembra-se do Roberto? Tudo bem. Eu posso ter essa cara de malandro sem vergonha, mas, eu não sou. Sou um trabalhador, amor. Tenho uma profissão que é fiel e relíquia consagrada. Sou um caminhoneiro.
E Marineide não dizia nada, apenas chorava e, Arlindo Orlando, furioso, continuava a falar:
- Só por que elogiei o bolo de sua amiga? Que tipo de mulher é você? Conhecemos-nos lá no Paraná, lembra? Lá no terminal do Guadalupe. Você era a minha mariposa apaixonada e, hoje, deixou de ser a minha esposa. Vou te falar em inglês que vai soar mais bonito: “bye, bye”.
Que tristeza, gente! Bem no dia do laço matrimonial foi acontecer aquilo! Arlindo Orlando foi embora com seu caminhão, deixando Marineide num estado horrível. A mulher chorava mais do que uma cabra na Etiópia. E ela não quis aceitar isso. Procurou igrejas, terreiros de macumba, mas, nada de Arlindo Orlando voltar.
Marineide recebeu uma ligação de Lúcia, sua melhor amiga que a aconselhou a escrever uma carta para um locutor famoso da rádio Atividade, em Minas Gerais. Não deu outra, meu! Marineide molhou até com lágrimas sua escrita e comoveu o locutor.
- A rádio Atividade leva até vocês mais um programa da séria série: Dedique uma canção a quem você ama. Eu tenho aqui em minhas mãos uma carta. Umas carta de uma ouvinte que nos escreve e assina com o singelo pseudônimo de mariposa apaixonada do Guadalupe. Ela nos conta que no dia que seria o dia do dia mais feliz de sua vida, Arlindo Orlando, seu noivo, um caminhoneiro conhecido na pequena e pacata cidade de Miracema do Norte, fugiu, desapareceu, escafedeu-se. Oh! Arlindo Orlando volte onde quer que você se encontre. Volte para o seio de sua amada. Ela espera ver aquele caminhão voltando, de faróis baixos, e para-choque duro. Agora uma canção. Canta pra mim, eu não quero ver você triste assim.

A Dois Passos do Paraíso
Longe de casa
Há mais de uma semana
Milhas e milhas distante
Do meu amor
Será que ela está me esperando
Eu fico aqui sonhando
Voando alto perto do céu
Eu saio de noite andando sozinho
Eu vou entrando em qualquer barra
Eu faço meu caminho
O rádio toca uma canção
Que me faz lembrar você, eu
Eu fico louco de emoção
E já não sei o que vou fazer.
Estou a dois passos do paraíso
Não sei se vou voltar
Estou a dois passos do paraíso
Talvez eu fique, eu fique por lá
Estou a dois passos do paraíso
Não sei por que eu fui dizer bye bye
Bye bye, baby, bye bye...




Parabéns Evandro Mesquita e Ricardo Barreto por esta grande composição e música.


doutorboacultural.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário