sexta-feira, 11 de abril de 2014

O MILAGREIRO

Honésio, aparentemente era um homem honesto. Falava muito em Deus, anjos e santos, sem contar das almas perdidas e encontradas, segundo ele, no mundo místico, esotérico e  oculto. O homem falava bonito e conquistava a todos com sua oratória.  Inteligente, fazia caridade para ganhar nome, reconhecimento e amizade. Gostava de todos, sem fazer acepção de pessoas: ricos e pobres, negros e brancos, enfim, ele sorria para todos na intenção de ser notório, o centro das atenções.
Honésio tinha 50 anos e era solteiro, mas, dava de mil a zero em Santo Antonio, o santo casamenteiro. Montou uma tenda bem no centro da pacata cidade de Itapira, interior de São Paulo e a batizou de: “A Tenda Dos Milagres”. E, não é que a coisa pegou? Ficava ele sentado numa almofada, com um turbante na cabeça, com seus olhos semi abertos visualizando a chegada de curiosos. A maioria sofria do mal de amor e, isso para ele era garapa.
Numa tarde de sexta-feira, entra naquela tenda um homem calvo, barrigudo, careca e, pela aparência, o homem não era fraco não. Tinha cascalho no bolso e, não era pouco. O tom de sua voz era arrogante, o que mais reforçava a impressão de Honésio: o homem tinha cascalho. Fazia perguntas demais tipo: “Que espécie de milagres acontece por aqui?” “Isso é igreja evangélica ou terreiro de macumba?”. 
Não querendo perder o cliente, Honésio respondia suas perguntas, até que o sujeito lhe confessa:
- Senhor, minha mulher me abandonou e foi viver com outro homem. Ouvi dizer, e o povo comenta muito de que, o senhor faz uma amarração e traz o amor de volta em até sete dias. Se realmente isso é verdade, quero que traga o meu amor de volta.
Honésio acende um charuto, dá uma tragada bem forte e bafora a fumaça bem na cara daquele sujeito e lhe diz sério:
- Tudo tem um preço, amado Luiz.
O homem empalidece.
- Ei! Como sabe o meu nome?
Honésio dá uma cuspida, que, por pouco não acerta nos sapatos de Luiz.
- Eu sei tudo. Sua mulher Lucinha se encantou com um boy de nome Olegário, teu ex-colega que não tinha nada de legal e, você sabe por quê. Ela queria pepino na salada e você lhe dava rabanada. Abandonou-te por opção de escolha e, agora vive numa miséria da peste junto de Olegário, o boy otário.
Luiz ficou impressionado.
- Meu Deus! Tudo isso é verdade mesmo. Como é que pode?! Olegário é o boy que pescava comigo.
- Só que ele tava de olho na piranha.
- Realmente, senhor, ele gostava de piranhas. Eu pago o que for possível para ter ela de volta.
Honésio olha sério para Luiz e diz:
- Desista.
- Por quê? Ela não volta mais para mim?
- Voltar até voltaria, mas, você não vai poder pagar. Sai muito caro o trabalho.
- Quanto?
Honésio pensou, pensou e desabafou:
- Quinhentos mil reais.
Luiz sorriu confiante:
- Mas, eu tenho esse dinheiro, senhor.
Honésio estava achando aquilo fácil demais.
- Na verdade, essa é a entrada. O trabalho completo é “Hum milhão de reais”.
Luiz ficou preocupado, suspirou, por fim, afirmou:
- Eu pago.
Honésio, muito esperto, fixa seus olhos contra os olhos de Luiz e o pergunta:
- Tem a entrada em mãos agora?
- Sim.
- Passe-me a grana. Escreva o nome completo da fulana e o endereço dela legivelmente nesta folha de papel virgem e, pague-me o restante no retorno de sua amada, antes de vencer o sétimo dia. Tem o seguinte: se não me pagar, farei com que ela desapareça definitivamente de sua vida e ainda lhe faço teu membro cair para nunca mais subir.
- Claro, meu senhor. Trarei o restante do dinheiro sim. Mas, ela realmente voltará para mim?
- Em até sete dias. Duvidas?
- Não. Claro que não.
E, assim, Luiz sai daquela tenda, satisfeito e confiante de que sua amada Lucinha voltaria para ele em até sete dias. Será? E, não deu outra: no quinto dia, Luiz recebe uma ligação em seu celular. Para a sua surpresa, era Lucinha.
- Olá, meu amor Luiz, tudo bem?
Luiz tremia de tanta emoção.
- Lucinha?! Estaria tudo bem se estivesse aqui ao meu lado.
- Ainda me amas?
- Eu sempre te amei, Lucinha.
No sexto dia já trocavam carícias num motel e, no sétimo dia, Luiz e Lucinha voltaram a viver juntos definitivamente. Luiz repleto de alegria volta àquela tenda dos milagres, da um abraço bem forte em Honésio e lhe paga o restante da dívida, com prazer.

Como pode isso, gente? Honésio seria um milagreiro mesmo? Pois, assim aconteceu.  Afinal, que espécie de trabalho de amarração porreta foi aquele? Vamos aos fatos:
Assim que Honésio recebeu a quantia de “quinhentos mil reais” nas mãos, procurou por Lucinha que, literalmente, passava até fome. Ele chegou lá, na casa dela, todo alinhado e, por ser o rei da comunicação dominou-a com sua lábia.
- Minha jovem, Lucinha, vim até sua humilde casinha e, lhe afirmo que, enviado por Deus. Se perderes esta bênção, em sete dias conhecerá a ira de Deus, dos anjos, dos santos e de todas as almas penadas que vagam pelo mundo.
Lucinha regala os olhos.
- Ira de Deus? Bênção em sete dias?
- Sim. A bênção é a seguinte: se voltares para o seu marido vai ser próspera e, prova disso é que irá receber uma bolada de “cem mil reais” nos próximos sete dias: passado mais sete dias receberá mais “cem mil” e aí, minha cara, é só alegria. Pode montar seu próprio negócio e sair definitivamente da miséria. É pegar ou largar. Largou?
Lucinha ficou animada e curiosa.
- Espera aí! Não larguei não. Primeiramente, tenho medo da ira de Deus, dos anjos, dos santos e das almas penadas, porém, um dinheirinho desse vai me ajudar muito e, digo mais: pro resto da vida. Meu ex marido nunca me deu um real, senhor. O que devo fazer?
Honésio pensa convincente: “Esta foi fácil demais”.
- Dê um pontapé no traseiro do boy parasita que está convivendo e volte para o seu maridão, pois, ele te ama mais do que a própria vida dele. Pense nele, sonhe com ele, ligue pra ele, chore por ele. Vocês vão pegar um avião com destino a felicidade e, é claro: serão felizes. Importante: mantenha segredo eterno de tudo isso que lhe diz este anjo.
Lucinha arrepiou-se toda.
- O senhor é um anjo?
- Duvidas?
- Não, claro que não.
E, assim, não deu outra: Lucinha dispensou o boy com um pontapé no traseiro e, na seqüência, ligou para Luiz.
Honésio levou “oitocentos mil reais” nesse cambalacho, mas, pelo menos, cumpriu com sua palavra. A cidade pequena de Itapira geralmente, todos conhecem todos e, isso foi moleza para Honésio, um paulistano malandro e bem vivido. 
O importante é que tudo terminou bem. Luiz e Lucinha, hoje se amam pra valer e, quem vive na cola agora é ele que ficou sem um mísero centavo. Lucinha montou um negócio e, Luiz, além de seu marido, também é seu empregado.



Milagre é um evento sobrenatural, inexplicável, que causa estranheza e admiração. Só é entendido como tal pela fé. Obviamente milagres não existem porque seriam contra as leis do universo, da ciência. O que existe é ilusionismo, fé. Muita gente se deixa enganar por crendices religiosas, simpatias, trabalhos de magia e, em muitos casos conseguem bons resultados, porém, isso tudo não passa de mera coincidência.
Honésio usou sua mente brilhante, inteligente e conseguiu unir Luiz e Lucinha. O amor não tem preço e seu endereço é o coração puro cheio de glórias e glórias e, esta é mais uma das minhas histórias.


doutorboacultural.blogspot.com/







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