sexta-feira, 4 de abril de 2014

VIDA DE TRECHEIRO



Vida de trecheiro é triste, gente. Não tem parada e, quando para, logo tem que se retirar da parada e, eu explico por que. Paga um preço muito caro por isso, nas suas andanças. Suas roupas começam a feder devido ao suor de seu corpo e, ele, parando em hoteizinhos de quinta, do tipo ralés, mocós, é expressadamente proibido sequer lavar uma cueca, um par de meias, quem diria uma camisa ou uma calça.
O trecheiro em seu quartinho humilde acende um cigarrinho para se relaxar, pensar no trecho do dia seguinte e, os hóspedes, seus vizinhos de quarto já reclamam do fedor da fumaça.




No dia seguinte, a camareira dopada feito um sapateiro, vai limpar o seu quartinho, passar um paninho e, já protesta:
- Que fedor da peste é esse, menino?



O miserável compra aquelas varetinhas de incenso indiano para perfumar o seu quartinho, mas, o problema aumenta. Perfume na carniça, o padre cancela a missa.



O coitado chega cansado do trecho, às vezes, molhado feito um cachorro na chuva, em seu quartinho, tira suas botas guerreiras e, já vem o porteiro batendo em sua porta convidando-o a se retirar do recinto.

O trecheiro sofre, gente. O chulé domina e predomina e, quando é demais, fede bosta. Catinga macumbeira de primeira. Cheirem para identificar. E o sovaco do trecheiro chega num ponto, que nem sabão de côco, meu irmão. Sua cueca cola no cú feito chiclete na dentadura do vovô e, olhe quem vem vindo lá: o vento. Sim, passou por ali e, rindo, o miserável do vento que levou o fedor do trecheiro, mas, também deixou. É como se fosse o diálogo de dois amigos:
- Vá com Deus, amigo.
- Fique com Deus também, amigo.
Nas andanças do trecheiro, é evidente que ele pega tudo o que é tipo de pereba, principalmente nos pés. Chulé ainda é chique, pior são as frieiras, esporões, rachaduras, joanetes, feridas, olho de peixe e outras. Sua coceira vira sarna. Seu sangue se contamina de tanto comer salgadinhos em promoção. Seu estômago arde mais do que um cú doce no formigueiro. Quando o trecheiro peida, aquele gás vem carregado de frituras das antigas e quando caga então, o ossinho da coxinha entala na privada e aí, minha amada: Pensem num fedor de bosta.
Ninguém quer um trecheiro a seu lado, porque ele é uma espécie assim de fedor ambulante.
Vida de trecheiro é triste, gente.



doutorboacultural.blogspot.com/




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