segunda-feira, 28 de abril de 2014

O HOMEM E O CACHORRO




Um andarilho de tanto andar, chega num lugar aparentemente esquecido por Deus e pelo Diabo também. Uma gigantesca mata que mais lembrava uma selva. Decide viver lá até o término de sua vida.

Avista uma casa. Sim, uma única casa no meio daquela grande mata, com um cachorro amarrado que, sai de sua casinha e late em disparate ao sentir a presença daquele andarilho. Batem palmas várias vezes e desiste. Não havia ninguém naquela casa.

O cachorro late, late, e, pelos latidos do bicho, sem dúvida, ele estava com muita raiva daquele andarilho ou de qualquer passarinho que chegasse próximo de seu portão, ou seja: do portão que ele achava ser dele.
Havia uma grande árvore bem de frente aquela casa e o andarilho senta debaixo dela e decide tirar um cochilo. O cachorro não parava de latir. O andarilho cochila, acaba se ferrando no sono e, o cachorro latindo. Quatro horas depois, o andarilho acorda e o cachorro latindo. “Como pode um bicho desses sobreviver de tanta raiva?” – Pensa o andarilho.
O cachorro só fazia uma pausa em seus latidos para comer sua ração (que tinha muita) e beber água e, depois, voltava a latir.
O andarilho tira de seu grande saco de plástico uns pães, um litrão d’água e faz sua refeição e, o cachorro latindo.
Cai à noite e o andarilho dorme ouvindo aqueles latidos impertinentes daquele cachorro. Acorda de madrugada com uma forte tempestade de chuva e, não se conforma com a cena que vê: o cachorro, ao invés de se abrigar em sua casinha, molha-se todo na chuva e continua latindo. “Uma curiosidade: será que enquanto durmo, esse bicho também dorme?” – pensa o andarilho.
A tempestade de chuva passa e o andarilho todo molhado volta a dormir e o cachorro latindo. Acorda com um lindo dia de sol, faz sua refeição e, o cachorro latindo que, também faz uma pausa para comer e beber e, depois volta a latir.
Passam dias e algumas semanas e, a ração e água daquele cachorro acaba e, mesmo assim, ele continua latindo. A água do andarilho também acaba e ele tinha apenas um único pãozinho duro e acaba dividindo com aquele cachorro que come com raiva e depois volta a latir. “Mal agradecido. Sua raiva é maior que sua fome”. – pensa o andarilho.
O andarilho é picado por um escorpião e não consegue levantar-se do chão devido a muita dor. Ele queria achar alimento nas redondezas para si e também para aquele cachorro que não parava de latir. Sentiu fortes dores de cabeça, febre muito alta e dormiu ouvindo de longe os latidos daquele cachorro.

O andarilho morre e morre também aquele cachorro. Não se sabe até hoje qual dos dois morreu primeiro.
Um ano depois, o dono daquela casa chega e, já esperava, é claro, não encontrar Rex, seu cachorro vivo. Dobra seus joelhos diante da caveira de Rex e chora muito.

- Perdoe-me, meu melhor amigo. Estive preso em outro país e, não teve como eu voltar antes.
Uma hora depois, o sujeito olha para aquela árvore e, bem debaixo dela, vê uma caveira. Chega próximo dela.
- Seria homem ou mulher este praga? Quem sabe não foi este monstro que matou meu.
Movido de pura raiva, aquele sujeito pega um machado e dá várias machadadas sobre a caveira do andarilho, destruindo-a de vez para sempre.

A raiva é o pior de todos os sentimentos que um ser humano ou animal possa ter no percurso de suas vidas. Viver com raiva é como morrer na dor e, não existe dor que seja maior do que a raiva, aquela que destrói tudo por dentro causando grandes moléstias e intenso sofrimento. Nossas vidas são almas, nossas almas são glórias e glórias e, esta é mais uma das minhas histórias.



(HISTÓRIAS DA VELHA GLÓRIA 2)

doutorboacultural.blogspot.com/

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