segunda-feira, 11 de junho de 2012

O CAPETA



Que nome se dá a um sujeito inconveniente, chato, impertinente, irritante, insuportável e arrogante? Você leitor, já vai saber. Dias atrás surgiu em um dos meus consultórios um cidadão que conseguiu me tirar do sério.

- Qual é o teu nome?

- Jovino. Filho de dona Jovina e de seu Juvenal. Tudo gente legal.

- Qual é o teu problema?

- Não tenho problema.

- Em que posso lhe ajudar Jovino?

- Obrigado querido, mas, não vim aqui lhe pedir ajuda.

- Então, por que está aqui?

- Porque sou o seu admirador.

- Então, quer meu autógrafo?

- Posso até aceitar, mas não encare isso como ajuda.


Dei-lhe meu autógrafo, apertei sua mão e disse-lhe:

- Vá à paz de Giré dos giros.

- Ainda não, doutor. Está muito cedo. Vamos conversar um pouco e vou ver no que posso lhe ajudar.

- Rapaz, não estou precisando de ajuda.
- Ah é? Que legal! Eu também não.

- Então, boa viagem.

- Que maravilha! Como sabes tu que vou viajar?

- Eu imaginei.

- Imaginou certo.

- Está indo para onde?

- Pra qualquer lugar. Onde o Sr me sugere?

- Vá pra China.

- Que maravilha! Adoro os chineses e o Sr?

- Nada contra. Aceita um café?

- Adoro um café.


Servi ao cidadão uma xícara do meu café porreta e o sujeito nem sequer fez cara feia. Muito pelo contrário.


- Que café delicioso!

- Gostou?

- Adorei. Posso tomar mais uma xícara?

- É claro.

De repente o sujeito levanta sua perna direita e solta um peido daqueles bem barulhentos.

- Que maravilha! Soltei um peido.
- Eu notei.


O sujeito levanta desta vez sua perna esquerda e solta outro.


- Que maravilha! Soltei o irmão gêmeo dele!


Fiquei irritado.


- Meu amigo... Daqui a pouco você vai querer soltar toda a família e...


O sujeito solta uma rajada de peidos multiplicativos e, na seqüência se caga todo.


- Que maravilha! Que alívio! Tem um banheiro? Caguei-me todo.


- Está ali: à sua direita.


O sujeito entra no banheiro e, descaradamente liga o chuveiro e toma um banho bem demorado cantarolando amado batista; usa meu xampu, meu perfume e ainda veste minha roupa. Sai do banheiro com seus cabelos penteados e brilhosos.


- O que é isso, rapaz?!

- Que maravilha! A água do seu chuveiro é excelente. Adorei também seu xampu, seu perfume e, principalmente essas roupas. Não é que ficaram boas em mim?!


Abri minha gaveta, peguei meu cassetete e bati bem forte na mesa e gritei:

- Tire imediatamente minhas roupas!


O cara de pau ainda sorri tranquilamente e me diz:

- Que maravilha! O senhor é um excelente ator. Quem não lhe conhece pensa até que o senhor está bravo de verdade.

- Mas estou bravo de verdade.

O sujeito sorri novamente e ainda acende um cigarro.

- Que maravilha! Adoro fumar cigarros.

- Não pode fumar aqui.

- Não entendi.

- Eu disse que não pode fumar aqui.

- O senhor não fuma?

- Não.

- Nunca fumou?

- Rapaz, eu não fumo, nunca fumei e, apague esse maldito cigarro.

- Que cigarro?

- Este que está fumando.
- Esse ou o classic?

- Que classic? Apague esse cigarro.

Nessas alturas o descarado já tinha fumado todo aquele cigarro e, ainda apaga a bituca na minha mesa.

- Que maravilha! É claro que eu apago doutor. Mas, tem certeza de que não quer fumar?


Gritei.

- Não!

- Nem o classic?

- Não! Nem o classic, seu doido!

- O senhor está nervoso, doutor:

Fiquei de pé na cadeira com a boca espumando de tanto ódio e pulei me jogando no chão e gritando como um louco:

- Não! Não estou nervoso!

Bati minha cabeça e me sangrei.

- O senhor se machucou, doutor? Posso lhe ajudar em alguma coisa?

- Pegue mercúrio na gaveta e esparadrapo também.

E aquele sujeito me faz um curativo na testa.

- Não pule mais assim não, doutor! O senhor poderia ter se machucado mais, sabia?

- Vá embora agora, rapaz!
- posso fumar mais um cigarro?

- Não, não e não!

- Nem o classic?

Sou totalmente contra qualquer tipo de violência, mas, desta vez meti meu cassetete nele e lhe dei um chute na bunda expulsando-o do meu consultório. Sem dúvida “aquilo” deveria ser o capeta mandado pelo maioral do inferno porque conseguiu me infernizar.

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