quarta-feira, 30 de abril de 2014

FÉ, AMOR E PACIÊNCIA






José e Maria eram um casal muito religioso. Gostava de fazer caridades sem fazer acepção de pessoas. Seja lá, quem fosse que batesse palmas no portão, pedindo ajuda, vendendo algo, enfim, solicitando doações, eles recolhiam para dentro de casa.
Certo dia, José e Maria almoçavam quando ouviram bater palmas no portão. José foi atender.
Era um velhinho franzino, magrinho e estava com uma baita fome.
- O senhor não tem um pratinho de comidinha pro velhinho?
Os olhos do caridoso José encheram-se de lágrimas.
- Chegou ao lugar certo, senhor. Venha para dentro de casa almoçar comigo mais minha mulher.
E aquele velhinho se fartou de tanto comer. Ficou satisfeito mesmo, sô.
- Não lhe pedindo muito, o senhor não tem um cafezinho pro velhinho?
Maria preparou um café fresco de primeira para aquele velhinho humilde.
- Não lhe pedindo muito, o senhor não tem um quartinho pro velhinho descansar só um pouquinho?
José e Maria hospedaram aquele velhinho num dos melhores quartos da casa. E enquanto o velhinho dormia e roncava, José e Maria se abraçam na sala.
- Maria, está pensando o mesmo que eu?
- É claro, José.
- É como diz Hebreus 13: 2: “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos”.
Quem seria aquele velhinho humilde, hein? José e Maria estavam felizes em hospedá-lo. Pelas cinco da tarde, José e Maria estavam na sala e, levaram um susto, pois, o velhinho apareceu assim, muito de repente, nem sequer, ouviram seus passos.
- Me deu fome de novo, amados.
José lhe responde sorridente:
- Estávamos somente esperando o senhor acordar. Tem uma mesa farta na cozinha aguardando o senhor. Venha.
E José e Maria ficam felizes de ver aquele velhinho comer assim, com tanto apetite. Tinha de tudo sobre a mesa. Até mesmo mandiocas fritas.
Depois que o velhinho se fartou de tanto comer, ficou triste e muito pensativo. Foi quando José o perguntou:
- Senhor, alguma coisa lhe aborrece?
E o velhinho responde:
- É que o velhinho precisava tomar um banhosinho e vestir umas roupas limpinhas.
José sorridente diz:
- Mas, isso não é problema, senhor. Pode tomar um bom banho e, tem até banheira no banheiro. Quanto às roupas, selecionarei as minhas melhores para o senhor.
E enquanto o velhinho tomava um banho que demorou no mínimo umas duas horas, José e Maria se abraçam na sala.
- Maria, se eu lhe disser que estou feliz, certamente estarei mentindo.
- Meu Deus! Você não está feliz?
- Muito mais que isso, Maria! Estou felicíssimo.
- Vamos orar então marido. Vamos agradecer a Deus por esta glória, glória e glórias. Aleluia!
Quando o velhinho sai do banheiro, prova as roupas de marcas de José. Nem todas ele gosta. Ficou com as melhores. Já estava muito tarde. Ele preocupado pergunta as horas.
- Que horas são? Nem sequer um relógio, o velhinho tem.
José lhe presenteia com um lindo Rolex suíço, o melhor relógio do mundo.
- Agora tem, meu senhor.
E o velhinho agradece, porém, joga uma indireta.
- Já está tarde e o velhinho tem que partir. Que pena! Bem que poderia ser agora, cedinho pro velhinho partir tranqüilo e sozinho.
José afirma:
- De jeito nenhum, senhor! Pouse aqui conosco. Já está tarde e faz muito frio lá fora. Amanhã não pertence a nós. Glória, glória e glórias. Aleluia!
Na sala, José e Maria se abraçam.
- Olha só Maria! Que benção tem em nossa casa. Este velhinho é a glória.
O dia seguinte era um domingo e o velhinho acaba ficando por lá. Toma o café da manhã, almoça bem, descansa, toma o café da tarde, descansa de novo, janta e acaba pousando lá de novo.
O interessante é que nem José, nem Maria faziam perguntas a ele. Nem sequer, perguntaram qual era o nome daquele velhinho. Afinal, quem era aquele velhinho?
Passaram dias, semanas e meses e, o velhinho continuava hóspede da casa. Agora, ele já não pedia mais nada. Abria a geladeira, as portas do armário e se fartava do bom e do melhor.Tinha total liberdade.
José era um excelente carpinteiro e ganhava muito bem. Sustentava a casa. Maria ficava em casa fazendo faxina e, agora, na companhia do velho que não saia sequer, nem no portão da casa. Ficava lá dentro de casa numa folga total, sentadão no sofá da sala vendo televisão, enquanto Maria lavava, passava e cozinhava. O velhinho gostava mesmo era da cozinha. Que apetite era aquele, meu Deus?
Numa noite, enquanto jantavam em silêncio, o velhinho pergunta a José:
- Tens fé, amor e paciência?
- Sim, meu senhor.
- Está gostando de ter o velhinho aqui em sua casa, como o seu hóspede?
- Sim.
- O que você faria mais por este velhinho?
Esta foi uma pergunta muito difícil. José e Maria faziam de tudo por aquele velhinho. José fica confuso.
- O que eu poderia fazer mais pelo senhor? Tudo o que desejar, oras!
Havia uma plaquinha bem na porta da cozinha e, o velhinho aponta com o dedo para ela e pergunta a José:
- O que está escrito naquela plaquinha?
E José le.
- Propriedade exclusiva de Jesus.
Bem neste momento, forma uma tempestade, muitos raios e trovões e chove muito forte. O velhinho pergunta a José.
- Daria esta propriedade por amor a mim?
José se engasga e, o velho senta-lhe um forte tapa em suas costas e diz:
- Eu não entendi.
José simplesmente responde:
- Esta propriedade é sua, senhor.
E o velhinho diz:
- Quero que você e sua mulher a desocupem em poucas horas. Boa viagem para vocês.
José e Maria, sem entenderem nada, nada perguntam. Saem daquela casa e caminham na chuva e, sabe lá Deus para onde foram. Nunca mais foram vistos.
O velhinho, agora era o dono daquela propriedade. Afinal, quem era aquele velhinho? O maior dos traficantes de passarinhos, já aposentado: João Ferreira Bigolinho. Coitados de José e Maria. Pensaram que estavam hospedando Jesus Cristo. 

Ter fé, amor e paciência é, sem dúvida, uma dádiva de Deus, porém, não podemos esquecer que muita gente incrédula aproveita de nossa fé. Para dar mão à palmatória, temos que ter compulsória, nem todos que batem palmas em nossos portões são pessoas simplórias e dignas de serem notórias. Então, é desnecessário ficarmos dando glórias e glórias e, esta é mais uma das minhas histórias.


(HISTÓRIAS DA VELHA GLÓRIA 4)


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