Lady Lourdes era uma mulher bonita demais, sô! Morena da cor
do pecado original do fruto proibido; cabelos negros e lisos, esbelta, corpo
sarado, sagrado e saudável como o leite da nenê; pele macia feita a bunda de um
anjo. Por onde a boneca humana passava era aquela poluição sonora: os bem-te-vis
ficavam loucos, os cachorros latiam e babavam; buzinas de carros, sirene de
ambulância, corpo de bombeiros e polícia; apitos de fábricas; sinais de
escolas, colégios e faculdades; “ui, ui, ui” dos fanqueiros; “pinga ne mim” dos
caipiras; enfim, parecia o fim do mundo. A mulher irradiava uma beleza capaz de
confundir Confúcio se ainda estivesse vivo.
Lady Lourdes, para a tristeza de muitos, era casada e, o povo
comentava que seu marido não era fraco não. Dizia que, Parido Aparecido, seu
marido, se pegasse um cabra safado dando em cima de sua mulher, ele o
desmaiava.
Sucedeu que, surgiu uma vaga de secretária numa indústria de
bonecos de carne (a maior do mundo) em São Paulo e, Lady Lourdes foi até lá
entregar seu curriculum. Vixi! Osvaldo de Souza, o grande matemático, podia
contar: tinham oitocentas e treze mil mulheres na frente de Lady Lourdes, na
fila. O que?! Quando o magrelão quatro olhos do RH viu Lady Lourdes a um quilômetro,
deu um berro tão alto, capaz de ensurdecer até os ouvidos dos mosquitos: “VEM
PRÁ CÁ, CHUCHÚ".
Lady Lourdes ganhou o emprego e, de imediato, três meses de
pagamento adiantado. Corre diabo! Vai reinar no inferno! Lady Lourdes era
demais! Era o maior acontecimento histórico que o mundo já pôde presenciar. Uma
mulher capaz de converter veado a virar bode; ressuscitar velhinhos que o tempo
levou, enfim, Lady Lordes era um show.
Até então, ninguém conhecia Parido Aparecido, seu marido. O
chefão universal da indústria de bonecos de carnes, um crioulão de 2 m de
altura, mandou chamar Lady Lourdes em seu escritório. Vixi! Será que ele ia dar
um aumento de salário para ela? Negativo. Ele a assediou.
- Lady Lourdes, darei-te um avião e um prédio de cem andares
em Paris, na França, se deitares comigo.
Lady Lourdes não gostou de tal proposta.
- Sou casada, chefão. Não troco meu marido por nenhum troco.
- Mas, ele não precisa ficar sabendo. Darei-tei o quadro de
Monalisa (o legítimo) de Leonard Da Vince, avaliado em cem milhões de dólares.
- Não e não e não.
- Darei-te a Disney World e a Fábrica de Bolos Prestígios de
Lúcia.
- Não e não e não.
- Te darei o céu e o meu amor também, é claro.
- Não e não e não.
E o chefão nem piscava os olhos diante daquele fenômeno que
não era Ronaldinho.
- Diz pra mim, boneca: o que você quer ganhar?
E Lady Lourdes charmosa feita à geleia gorda da menina, diz:
- Não quero nada. Eu amo meu marido porque ele é tudo pra
mim. É o ar que eu respiro.
De repente, seiscentos e um homens (peões da indústria)
invadem o escritório do chefão e foi aquela guerra. Todos queriam ficar com
Lady Lourdes e, só teve um homem que conseguiu dar fim aquele fuzuê: Parido
Aparecido, o marido da encantadora Lady Lourdes. Gente! Pense num homem feio.
Pensou?
Uma figura tão assustadora capaz de calar a multidão. Ninguém
comentava mais nada. A presença daquele ser calava até o espírito aguçado de
Maria; calava a todos e a tudo. A feiura de Parido Aparecido era tão grande,
capaz de adoçar o jiló e salgar o mel.
Lady Lourdes sai abraçada com seu marido daquela indústria e
desaparecem para sempre. O amor é lindo, Jesus! Eu já sabia disso, porém, não
sabia que fosse tão lindo, sô!
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