Era uma
cidadezinha abandonada, esquecida por todos e, inclusive fora do mapa
geográfico. Nela não havia praças, jardins, comércio, etc. É claro que havia
casas, porém, todas abandonadas.
Um dia,
um andarilho de tanto andar chegou nesta cidade sem nome e estava com uma fome
da peste, daquelas de fazer calos na boca do estômago. Ele tinha um saco de
moedas nas mãos e tudo o que queria era matar a sua fome antes que ela o
matasse. Circulou feito um louco subindo e descendo ruas e nada de encontrar um
mercadinho ou um misero botequinho para ao menos comprar um ovo cozido ou em
conserva. Bateu palmas nas casas pra pedir informação de que lugar maldito era
aquele e nada. Não havia sequer uma alma vivente para atendê-lo. Ficou
desesperado. Que diabo de lugar era aquele?! O sol de quarenta graus queimava
até seu escroto e ele não estava nu não. Nem uma árvore para lhe dar sombras
havia. Danou-se tudo.
Aquele
andarilho pensou em voltar pelo mesmo lugar de onde veio, porém, se perdeu. Ele
não lembrava que caminho fez para ter chegado ali. E agora? Morrendo de fome e
sede lascou-se. O que mais se via naquela cidadezinha de ninguém era mato. Ele
ficou com ódio do verde. Se pelo menos tivesse ali umas azeitonas estaria bom
demais. Estava com tanta fome que via vultos a sua volta. Via porquinhos
brincando e pensava logo numa porção de torresmos, bistequinhas ou
linguicinhas. Eta fome da porca miséria! Andou léguas e mais léguas e não via
gente não.
- O de
casa!
Não teve
outro jeito: ninguém veio lhe atender porque naquela casa também não havia
ninguém. O que ele fez? Invadiu aquela casa feito o sol desvirginando a
madrugada e encontrou apenas um cabritinho amarrado berrando.
- Que
coisa é essa agora?! Um cabritinho magrinho amarrado?! O bichinho está até
verde de fome.
E o
andarilho desamarrou aquele cabrito e o levou para o pasto. O que não faltava
naquele lugar era mato. O cabritinho realmente estava com muita fome. O
andarilho ficou observando aquele animalzinho comer capim e pensou: “E agora,
Jeová Giré, meu Deus! Como mato a minha fome?”.
O
cabritinho se fartou de tanto comer que veio até dar umas lambidas no andarilho
como forma de agradecimento, talvez.
- Sai
pra lá, fio da peste!
Com
muita fome e muita sede o andarilho deixou pra traz aquele cabrito e continuou
andando na esperança de encontrar pelo menos um ovo cru ou cozido, o que era
mais difícil. Veio à noite e ele ficou mais apavorado:
- Que
frio, fome e sede da peste! E agora?!
Deitou-se
no mato e resmungou:
- Quem
sabe uma cobra me engole e dentro dela eu coma suas tripas.
E ele
dormiu chupando seus dedos. Sonhou que dentava um filé e acordou gritando
porque quase lhe vai um dos seus dedos. Falou com Deus:
- O que
é isso Jeová dos Giros?! Será que eu morri e não to sabendo? Tire-me desse
lugar aqui, seu menino!
Andou
léguas e mais léguas e nada. Aquele lugar fora esquecido até pelo diabo. Dobrou seus
joelhos e novamente falou com Deus:
- Meu
Deus, assim como eu matei a fome daquele cabrito atendei ao meu pedido: que
seja frito, assado ou cozido, mate a fome deste andarilho, teu filho.
Desta
vez, Deus não tardou não. Quem apareceu por ali a sua frente e lhe lambendo foi
aquele cabrito. E o andarilho fraco das ideias porque estava muito fraco
conversou com aquele cabrito:
- Está
feliz, não é?! É claro: está com a barriga cheia. E eu?! Está achando que eu
vou comer mato como tu, pobre diabo?!
Deixou o
cabrito pra trás e andou léguas e mais léguas. Chorou muito que até desistiu de
chorar. Opa! Parece que seu problema estava resolvido. Encontrou uma
churrasqueira, um litro de álcool quase cheio, uma caixa de fósforos e até um
saco. Pensou: “É carne”. Que nada! Tinha panelas de todos os tipos,
frigideiras, talheres, etc. Ficou revoltado:
- Vou
fritar, assar ou coser o que?!
E falou
novamente com Deus e, desta vez intimando-o:
- Vai me
enviar ou não um rango? Tem que ter muita fé pra lidar contigo, hein Giré!
Novamente,
quem aparece por ali? O cabritinho lhe lambendo.
- Mas
que diabo de cabrito! O que é que te prende a mim, Exu mirim?
E ele
meditou, meditou com uma faca em mãos e disse para aquele cabrito:
- Bom,
estamos sós aqui neste maldito lugar e, não tem outro jeito...
De
repente, surge de uma das moitas da grande mata duas onças famintas: mãe e
filha e atacam o andarilho e aquele cabrito. Mas elas devoraram aqueles dois!
Que fim cruel teve aquele andarilho! Pelo menos, uma coisa é certa: o cabrito
não morreu de fome.
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