sexta-feira, 3 de maio de 2013

UM CONVITE ESPECIAL



Genésio era um nordestino porreta, trabalhador e muito saudável. Tinha apetite de leão para a comida. Trabalhava na roça e, sempre ao meio dia, chegava a sua humilde casa, no topo do morro do sertão, com uma fome do cão. Uma panelada de buchada de bode cozida para o cabra sertanejo era pouca. Gesiléia, sua mulher, ficava feliz de ver seu marido como assim com tanto gosto, com tanto apetite.
Sucedeu que, um dia, Genésio recebeu um convite por telefone, que vinha do sul do Brasil. Era Jupira, um amigo catarinense.
- Como está você, amigo Genésio?
- Estou bem.
- Que tal vir conhecer minha terra, minha gente e nossa cultura?
E assim, Genésio pega todas as suas economias, deixa sua mulher e seis filhos chorando e se manda para o sul, para a cidade de Mafra. Foram três dias de viagem e, seu dinheiro acabou. Não temeu o perigo, pois, disse a si mesmo:
- Pegarei um trabalho de peão de obra aqui no sul e logo terei o dinheiro da volta para a minha terra.
Chega à rodoviária de Mafra amarelado de tanta fome. Tinha umas moedas no bolso e pensa logo nuns torresminhos ou umas linguicinhas fritas. O que?! Coitado! Isso não existia ali não, sô! Só viu nas estufas umas coxinhas que não foi com a cara e café era requentado e, pior do que isso: seu pouco dinheiro não dava para consumir aquilo não. Liga para Jupira a cobrar, como combinaram e duas horas depois, Jupira chega até lá.
- Estava vendo o jogo. Que satisfação revê-lo amigo Genésio. Tais meio amarelado. É fome? Tais com fome? É fome? Chegou na hora certa. Vamos para a minha casa.
Genésio estava com um bafo quente na boca do estômago, de tanta fome que dava dó, sô! Finalmente agora, tiraria a barriga da miséria na casa de seu amigo Jupira.
- Antes de chegarmos a minha casa, amigo Genésio, vamos dar uma passadinha na casa do Pastor Alaor. Este homem é um amor. É uma bênção e suas orações são boas. Consegui um bom emprego de servente pedreiro graças às orações dele. Tens fé? Tens que ter fé. Tem fé?
Chegam à casa do tal Pastor Alaor. Vixi! Pensem num homem falante. Pensaram? O homem era chegado num bate papo “crente fanático” que só pela misericórdia da paciência. O homem conta para Jupira e Genésio histórias bíblicas desde Gênesis a Apocalipse. Genésio de amarelo ficou azul de tanta fome. Não lhe foi servido nada e, após duas horas de bate papo, o Pastor Alaor diz:
- Nem só de pão vive o homem, mas de cada palavra que sai da boca de Deus. Vão em paz irmãos e levem suas bênçãos.
Finalmente, seguem a caminho da casa de Jupira.
 Louriça, mulher de Jupira da à notícia:
- Pensei que não vinham mais. A costela assada e a baciada de maionese se foram. Chegaram aqui uns irmãos de longe e aí rasparam até a grelha da churrasqueira.
Jupira fica preocupado.
- Se bem que eu almocei bem antes de ir busca-lo na rodoviária, amigo Genésio, porém, estou preocupado com você. Tais com fome? Tens fome? Mulher traga uma copada de café com leite e bolo de fubá doce pro meu amigo que veio de longe.
Vixi! Sinceramente, quando se está com fome de sal, matar a fome com açúcar é indiscutivelmente terrível, sô! As lombriguinhas nordestinas odiaram isso, porém, para que não entrassem em óbito aceitaram, mas, mostrando os dentes.
Quando chega a noite, Genésio estranha o sistema daquela gente. O fogão, impecavelmente limpo e, pior: desligado. Não se via panela alguma cozinhando algo.
Jupira, meio sem jeito, diz ao amigo:
- Não temos o hábito de jantar aqui no sul, amigo Genésio. Mas, tais com fome? Tens fome? Daqui a pouco vai sair um leite quente e ainda tem uns bolos de fubá doce. É doce. Gosta de doce?
Fazer o que, não é? A princípio, Genésio estava odiando tudo, mas, não deixou transparecer isso.

No dia seguinte, Genésio acorda pelas 5 h da manhã ouvindo o galo Catarina cantar. Vixi! Estava avermelhado de tanta fome. Não o galo, mas, Genésio. Topou na cozinha com o amigo Jupira.
- Veja bem, amigo Genésio, vou trabalhar daqui a pouco e, não vai me levar a mal, porque, entende? Vou trabalhar daqui a pouco e, espero que me entendas, entende? Primeiramente, bom dia. Para que o povo daqui do sul não fique comentando, deixa-lo aqui a sós com minha mulher, não vai pegar legal, entende? Quer ir trabalhar comigo? Topa encarar uma obra? Vai receber um dinheiro legal e...
- É claro que eu topo, amigo Jupira.
E assim, Genésio e Jupira, após tomarem uma copada de café com leite e comerem bolo de fubá doce vão para o trabalho. Custou para chegar meio dia. As lombrigas nordestinas de Genésio estavam revoltadas como se pudessem perguntar: “Cadê o sal seu animal?” Finalmente, voltam para casa de Jupira e, desta vez, ambos famintos. Louriça, a mulher de Jupira, dá uma triste notícia:
- Pois é, e não é que faltou o gás? O leite está meio morno e o bolo de fubá doce acabou. Fritei uns bolinhos de trigo doce na casa da vizinha. Está uma delícia.
O que é isso Jesus do SUS?! Chega de doce, Nenê! Fazer o que, né? Foram três dias de copadas de leite com bolinhos de trigo doce, até que Jupira e Genésio receberam e compraram o gás. Genésio queria bancar o almoço.
- Amigo Jupira, me leve num supermercado que quero comprar uma carninha e, faço questão de preparar uma comida pra gente.
Foram ao supermercado e, Genésio, com todo o prazer faz uma compra de carne fresca.
Eta peste! As lombrigas nordestinas faziam festa dentro de Genésio. Chegaram famintos a casa de Jupira e, vixi! Danou-se tudo de vez! Toparam de cara com um urso Catarina no interior da casa. Ô louco, sô de Souza ou qualquer coisa! De onde veio aquele urso? O miserável ainda saiu arrotando. Louriça serviu aos famintos biscoitos de fubá doce com leite quente e boa. Foi quando Genésio, aperreado soltou um peido estúpido, deu uma porrada na mesa de mármore e disse:
- Glória! Amanhã estarei voltando para a minha terra, amigo Jupira e amiga Louriça.
Só que o coitado ainda teve que trabalhar mais três dias para juntar o dinheiro da volta para o nordeste. Nestes dias, só comeu doce. Jupira queria economizar para comprar uma rede.
Genésio, finalmente recebe seu sagrado dinheiro e, quando ia para a rodoviária comprar sua passagem, veio um tornado com Tony e tudo. Aquilo era um ciclone. Voou tudo pelos ares, Buenos! Gritava Genésio: “E meu dinheiro?” Dinheiro? O coitado caiu num desespero da peste. Decidiu ir embora daquele lugar predisposto a nunca mais voltar. Foi para a estrada tentar conseguir uma carona. Finalmente conseguiu. Que alegria! O cara ia para a Bahia.
- Da Bahia até Alagoas tu vai encontrar muita gente boa, vice?
Genésio, totalmente enfraquecido se apaga num sono profundo e acorda mais fraco ainda ouvindo o motorista baiano do caminhão lhe falar:
- Rapaz! Só faltou mesmo eu lhe dar um beijo na boca para lhe acordar, vice? Parei para abastecer num posto e tinha lá uns políticos honestos pagando rodízio de carne pra toda a galera. E tu, tatú? Parecia um bobo louco roncando, vice? Perdeu a carne. Tem uma caixinha de leite ai pra ti. Quer leite? Tem leite. Gosta de leite?
Genésio pensou em morrer naquela hora. Suas lombrigas nordestinas ao ponto de entrarem em óbito e, finalmente, chegam à Bahia. Eta, peste! Sarapatel, caruru! Vai tomar no copo ou vai tomar no bico da garrafa, amigo Genésio? O que mais tinha na Bahia era carne, sô! Gosta de carne? Tem carne. Vai querer carne? Ao sentir um cheirinho temperado de carne assada, Genésio fica tão louco que cai, bate a cabeça na guia da calçada baiana e só acorda três dias depois no hospital tomando soro na veia. Vixi! Sua mulher veio lhe buscar lá de Alagoas e, o homem estava tão fraco, mas tão fraco que, se soltasse um peido calmo, o coração não iria resistir. Genésio se recuperou. Conseguiu alegrar suas lombriguinhas nordestinas comendo carne. Eta peste! Uma semana depois, liga para Jupira, o amigo Catarina.
- Como está você, amigo Jupira?
- Estou bem.
- Que tal vir conhecer minha terra, minha gente e nossa cultura?
E assim, Jupira recebe seu pagamento e decide ir para Alagoas. Metido feita uma besta quadrada ou redonda vai de avião até Maceió (capital) e, de lá pega um taxi até Palmeira dos Índios, onde morava seu amigo Genésio.
- Que satisfação revê-lo, amigo Jupira. Chegou bem na hora da bóia. Tais com fome, homem? Não te avexe não, vice?
E Gesiléia, esposa de Genésio serve num tigelão uma buchada de bode bastante apimentada para Jupira, que parecia não ter gostado daquela comida.
Genésio falava com a boca cheia.
- Rapaz, passei foi é fome na tua terra, vice? Tu pareces que vive feitas as formigas, homem! Só come doce. Aqui tem é fartura e não essas frescuras de frituras de bolo doce não, vice?


De repente, Genivalda, uma das filhas de Genésio solta um peido.
- Saúde, minha filha! Vice que bonito, Jupira? Isto significa a gratidão das lombrigas. 

Josicriléia, uma das filhas de Genésio arrota e também solta um peido.
- Saúde, minha filha! Olha só que bênção, amigo Jupira! É uma satisfação para um pai ver seus filhos arrotarem e peidarem, vice? Na tua terra eu não escutei foi nem um peido. Mulher, sirva mais uma tigelada de buchada de bode para Jupira, meu amigo Catarina.
Jupira se avermelha todo.
- Não, amigo Genésio! Estou satisfeito;
- Deixe de mentira, cabra! Tu nem peidastes. Não vai querer fazer desfeita da buchada da minha mulher, não é?

E Jupira tenta comer forçada aquela comida. 


De repente, Julisnácio, um dos filhos de Genésio arrota e peida.

- Saúde, meu filho! Papai fica feliz com isso.
Gesiléia também arrota e peida.
- Saúde, mulher!
Jupira estava tendo uma congestão alimentar e não resistiu: vomitou tudo o que comeu sobre aquela mesa. Genésio fica admirado.
- Vixi! Que coisa feia! Tu és um cabra fraco demais, homem!
Jupira defeca na calça porque não deu tempo de chegar ao banheiro. Horas depois acorda num hospital tomando soro na veia. Genésio vai lhe visitar.
- Amigo Jupira, dei uma ordem porreta aqui pra enfermeira, vice? Como você é meu convidado especial, não era pra ter vomitado aquela buchada de bode, vice? Este soro que tu tomas na veia é puro caldo de buchada de bode doce, entendestes? Vai voltar pra tua terra forte feita uma cabra da peste doce, vice?
Jupira desmaia. Dias depois, recuperado, da um perdido naquele hospital e volta de avião para a sua terra. Por pouco não jogam ele das alturas, pois, o homem arrotava e peidava feito um bode, sô!







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