Genésio era um nordestino porreta, trabalhador e muito saudável. Tinha apetite
de leão para a comida. Trabalhava na roça e, sempre ao meio dia, chegava a sua
humilde casa, no topo do morro do sertão, com uma fome do cão. Uma panelada de
buchada de bode cozida para o cabra sertanejo era pouca. Gesiléia, sua mulher,
ficava feliz de ver seu marido como assim com tanto gosto, com tanto apetite.
Sucedeu
que, um dia, Genésio recebeu um convite por telefone, que vinha do sul do
Brasil. Era Jupira, um amigo catarinense.
-
Como está você, amigo Genésio?
-
Estou bem.
-
Que tal vir conhecer minha terra, minha gente e nossa cultura?
E
assim, Genésio pega todas as suas economias, deixa sua mulher e seis filhos
chorando e se manda para o sul, para a cidade de Mafra. Foram três dias de
viagem e, seu dinheiro acabou. Não temeu o perigo, pois, disse a si mesmo:
-
Pegarei um trabalho de peão de obra aqui no sul e logo terei o dinheiro da
volta para a minha terra.
Chega
à rodoviária de Mafra amarelado de tanta fome. Tinha umas moedas no bolso e
pensa logo nuns torresminhos ou umas linguicinhas fritas. O que?! Coitado! Isso
não existia ali não, sô! Só viu nas estufas umas coxinhas que não foi com a
cara e café era requentado e, pior do que isso: seu pouco dinheiro não dava
para consumir aquilo não. Liga para Jupira a cobrar, como combinaram e duas
horas depois, Jupira chega até lá.
-
Estava vendo o jogo. Que satisfação revê-lo amigo Genésio. Tais meio amarelado.
É fome? Tais com fome? É fome? Chegou na hora certa. Vamos para a minha casa.
Genésio
estava com um bafo quente na boca do estômago, de tanta fome que dava dó, sô!
Finalmente agora, tiraria a barriga da miséria na casa de seu amigo Jupira.
-
Antes de chegarmos a minha casa, amigo Genésio, vamos dar uma passadinha na
casa do Pastor Alaor. Este homem é um amor. É uma bênção e suas orações são
boas. Consegui um bom emprego de servente pedreiro graças às orações dele. Tens
fé? Tens que ter fé. Tem fé?
Chegam
à casa do tal Pastor Alaor. Vixi! Pensem num homem falante. Pensaram? O homem
era chegado num bate papo “crente fanático” que só pela misericórdia da
paciência. O homem conta para Jupira e Genésio histórias bíblicas desde Gênesis
a Apocalipse. Genésio de amarelo ficou azul de tanta fome. Não lhe foi servido
nada e, após duas horas de bate papo, o Pastor Alaor diz:
-
Nem só de pão vive o homem, mas de cada palavra que sai da boca de Deus. Vão em
paz irmãos e levem suas bênçãos.
Finalmente, seguem a caminho da casa de Jupira.
Louriça,
mulher de Jupira da à notícia:
-
Pensei que não vinham mais. A costela assada e a baciada de maionese se foram.
Chegaram aqui uns irmãos de longe e aí rasparam até a grelha da churrasqueira.
Jupira
fica preocupado.
-
Se bem que eu almocei bem antes de ir busca-lo na rodoviária, amigo Genésio,
porém, estou preocupado com você. Tais com fome? Tens fome? Mulher traga uma
copada de café com leite e bolo de fubá doce pro meu amigo que veio de longe.
Vixi!
Sinceramente, quando se está com fome de sal, matar a fome com açúcar é
indiscutivelmente terrível, sô! As lombriguinhas nordestinas odiaram isso,
porém, para que não entrassem em óbito aceitaram, mas, mostrando os dentes.
Quando
chega a noite, Genésio estranha o sistema daquela gente. O fogão, impecavelmente
limpo e, pior: desligado. Não se via panela alguma cozinhando algo.
Jupira,
meio sem jeito, diz ao amigo:
-
Não temos o hábito de jantar aqui no sul, amigo Genésio. Mas, tais com fome?
Tens fome? Daqui a pouco vai sair um leite quente e ainda tem uns bolos de fubá
doce. É doce. Gosta de doce?
Fazer
o que, não é? A princípio, Genésio estava odiando tudo, mas, não deixou
transparecer isso.
No
dia seguinte, Genésio acorda pelas 5 h da manhã ouvindo o galo Catarina cantar.
Vixi! Estava avermelhado de tanta fome. Não o galo, mas, Genésio. Topou na
cozinha com o amigo Jupira.
-
Veja bem, amigo Genésio, vou trabalhar daqui a pouco e, não vai me levar a mal,
porque, entende? Vou trabalhar daqui a pouco e, espero que me entendas,
entende? Primeiramente, bom dia. Para que o povo daqui do sul não fique
comentando, deixa-lo aqui a sós com minha mulher, não vai pegar legal, entende?
Quer ir trabalhar comigo? Topa encarar uma obra? Vai receber um dinheiro legal
e...
-
É claro que eu topo, amigo Jupira.
E
assim, Genésio e Jupira, após tomarem uma copada de café com leite e comerem
bolo de fubá doce vão para o trabalho. Custou para chegar meio dia. As
lombrigas nordestinas de Genésio estavam revoltadas como se pudessem perguntar: “Cadê
o sal seu animal?” Finalmente, voltam para casa de Jupira e, desta
vez, ambos famintos. Louriça, a mulher de Jupira, dá uma triste notícia:
-
Pois é, e não é que faltou o gás? O leite está meio morno e o bolo de fubá doce
acabou. Fritei uns bolinhos de trigo doce na casa da vizinha. Está uma delícia.
O
que é isso Jesus do SUS?! Chega de doce, Nenê! Fazer o que, né? Foram três dias
de copadas de leite com bolinhos de trigo doce, até que Jupira e Genésio
receberam e compraram o gás. Genésio queria bancar o almoço.
-
Amigo Jupira, me leve num supermercado que quero comprar uma carninha e, faço
questão de preparar uma comida pra gente.
Foram
ao supermercado e, Genésio, com todo o prazer faz uma compra de carne fresca.
Eta
peste! As lombrigas nordestinas faziam festa dentro de Genésio. Chegaram
famintos a casa de Jupira e, vixi! Danou-se tudo de vez! Toparam de cara com um
urso Catarina no interior da casa. Ô louco, sô de Souza ou qualquer coisa! De
onde veio aquele urso? O miserável ainda saiu arrotando. Louriça serviu aos
famintos biscoitos de fubá doce com leite quente e boa. Foi quando Genésio,
aperreado soltou um peido estúpido, deu uma porrada na mesa de mármore e disse:
-
Glória! Amanhã estarei voltando para a minha terra, amigo Jupira e amiga
Louriça.
Só
que o coitado ainda teve que trabalhar mais três dias para juntar o dinheiro da
volta para o nordeste. Nestes dias, só comeu doce. Jupira queria economizar
para comprar uma rede.
Genésio,
finalmente recebe seu sagrado dinheiro e, quando ia para a rodoviária comprar
sua passagem, veio um tornado com Tony e tudo. Aquilo era um ciclone. Voou tudo
pelos ares, Buenos! Gritava Genésio: “E meu dinheiro?” Dinheiro? O
coitado caiu num desespero da peste. Decidiu ir embora daquele lugar
predisposto a nunca mais voltar. Foi para a estrada tentar conseguir uma
carona. Finalmente conseguiu. Que alegria! O cara ia para a Bahia.
-
Da Bahia até Alagoas tu vai encontrar muita gente boa, vice?
Genésio,
totalmente enfraquecido se apaga num sono profundo e acorda mais fraco ainda
ouvindo o motorista baiano do caminhão lhe falar:
-
Rapaz! Só faltou mesmo eu lhe dar um beijo na boca para lhe acordar, vice?
Parei para abastecer num posto e tinha lá uns políticos honestos pagando
rodízio de carne pra toda a galera. E tu, tatú? Parecia um bobo louco roncando,
vice? Perdeu a carne. Tem uma caixinha de leite ai pra ti. Quer leite? Tem
leite. Gosta de leite?
Genésio
pensou em morrer naquela hora. Suas lombrigas nordestinas ao ponto de entrarem
em óbito e, finalmente, chegam à Bahia. Eta, peste! Sarapatel, caruru! Vai
tomar no copo ou vai tomar no bico da garrafa, amigo Genésio? O que mais tinha
na Bahia era carne, sô! Gosta de carne? Tem carne. Vai querer carne? Ao sentir
um cheirinho temperado de carne assada, Genésio fica tão louco que cai, bate a
cabeça na guia da calçada baiana e só acorda três dias depois no hospital
tomando soro na veia. Vixi! Sua mulher veio lhe buscar lá de Alagoas e, o homem
estava tão fraco, mas tão fraco que, se soltasse um peido calmo, o coração não
iria resistir. Genésio se recuperou. Conseguiu alegrar suas lombriguinhas
nordestinas comendo carne. Eta peste! Uma semana depois, liga para Jupira, o
amigo Catarina.
-
Como está você, amigo Jupira?
-
Estou bem.
-
Que tal vir conhecer minha terra, minha gente e nossa cultura?
E
assim, Jupira recebe seu pagamento e decide ir para Alagoas. Metido feita uma
besta quadrada ou redonda vai de avião até Maceió (capital) e, de lá pega um
taxi até Palmeira dos Índios, onde morava seu amigo Genésio.
-
Que satisfação revê-lo, amigo Jupira. Chegou bem na hora da bóia. Tais com
fome, homem? Não te avexe não, vice?
E
Gesiléia, esposa de Genésio serve num tigelão uma buchada de bode bastante
apimentada para Jupira, que parecia não ter gostado daquela comida.
Genésio
falava com a boca cheia.
-
Rapaz, passei foi é fome na tua terra, vice? Tu pareces que vive feitas as
formigas, homem! Só come doce. Aqui tem é fartura e não essas frescuras de
frituras de bolo doce não, vice?
De
repente, Genivalda, uma das filhas de Genésio solta um peido.
-
Saúde, minha filha! Vice que bonito, Jupira? Isto significa a gratidão das
lombrigas.
Josicriléia,
uma das filhas de Genésio arrota e também solta um peido.
-
Saúde, minha filha! Olha só que bênção, amigo Jupira! É uma satisfação para um
pai ver seus filhos arrotarem e peidarem, vice? Na tua terra eu não escutei foi
nem um peido. Mulher, sirva mais uma tigelada de buchada de bode para Jupira,
meu amigo Catarina.
Jupira
se avermelha todo.
-
Não, amigo Genésio! Estou satisfeito;
-
Deixe de mentira, cabra! Tu nem peidastes. Não vai querer fazer desfeita da
buchada da minha mulher, não é?
E
Jupira tenta comer forçada aquela comida.
De repente, Julisnácio, um dos filhos de Genésio arrota e peida.
-
Saúde, meu filho! Papai fica feliz com isso.
Gesiléia
também arrota e peida.
-
Saúde, mulher!
Jupira
estava tendo uma congestão alimentar e não resistiu: vomitou tudo o que comeu
sobre aquela mesa. Genésio fica admirado.
-
Vixi! Que coisa feia! Tu és um cabra fraco demais, homem!
Jupira
defeca na calça porque não deu tempo de chegar ao banheiro. Horas depois acorda
num hospital tomando soro na veia. Genésio vai lhe visitar.
-
Amigo Jupira, dei uma ordem porreta aqui pra enfermeira, vice? Como você é meu
convidado especial, não era pra ter vomitado aquela buchada de bode, vice? Este
soro que tu tomas na veia é puro caldo de buchada de bode doce, entendestes?
Vai voltar pra tua terra forte feita uma cabra da peste doce, vice?
Jupira
desmaia. Dias depois, recuperado, da um perdido naquele hospital e volta de
avião para a sua terra. Por pouco não jogam ele das alturas, pois, o homem
arrotava e peidava feito um bode, sô!
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