sexta-feira, 10 de maio de 2013

UM PRESENTE DIFERENTE



Patricinho era um filhinho de papai dos mais insuportáveis e impertinentes que se podia encontrar na sociedade. Dizia os religiosos que ele era a pura encarnação de Satanás, o Diabo. O molequinho era maldoso demais. Amarrava o rabo do seu cachorrinho no pé da cama só pra vê-lo chorar; batia em sua avó surda, muda, cega e aleijada; rabiscava os livros da biblioteca de seu pai; soltava bombinhas e morteiros no galinheiro dos vizinhos só pra ver o pânico dos bichinhos, enfim, o molequinho era um diabinho.
Patrício, seu pai lhe dava presentes caríssimos e, em poucos minutos, Patricinho destruía tudo. E, que paciência de Jó tinha esse pai, sô!
- Meu filhinho, você botou no fogo o aviãozinho de controle remoto que o papai lhe deu com tanto carinho? Custou-me tão caro, filhinho abençoado.
Filhinho abençoado?! Aquilo era um capeta de sunga na sauna do inferno, sô!
Pereira, compadre de Patrício e padrinho de Patricinho veio do Amazonas para São Paulo, passar uns dias na mansão onde morava aquele demônio e, por pouco não enfartou. Vendo seu afilhado fazer tanta maldade achou melhor tomar um porre de uísque. Pereira cochilou no sofá da sala e, como calçava nos pés tênis daqueles de cadarços deu nó nos dois. Soltou um morteiro próximo do padrinho que sonhava e gritou bem alto:
- Pega ladrão!
Pereira levou um susto tão grande que, ao levantar, querendo correr, não conseguiu. Bateu com a cabeça na quina da mesa central da sala. O corte em sua testa foi tão profundo que afetou seu cérebro. Não teve jeito: ficou lelé da cuca.
Patricinho mostrava a língua e a bunda para os criados da casa; botava mel no feijão, sal e pimenta nos pudins, enfim, esse moleque era uma peste. Sua mãe se livrou dele logo que o pariu. Partiu para outro plano por sorte.
Finalmente, uma luz acendeu no cérebro pacífico quase parando de Patrício, pai do pentelho. Levou o moleque amarrado para um médico psiquiatra que ficou louco em poucas horas. A direção geral de um dos mais famosos hospitais psiquiátricos do mundo chamou Patrício para uma conversa franca e séria numa salinha.
- Seu Patrício, fizemos de tudo e mais um pouco, porém, chegamos a uma única conclusão: seu filho não tem cura não.
Patrício ficou com os olhos rasos d’água.
- Mas como?! É meu único filhinho. Literalmente, saiu de mim primeiro.
A equipe médica ficou comovida com as lágrimas de Patrício. Fazer o que né? Tirou o filho daquele hospital e o levou de volta para a sua mansão. O moleque voltou a fazer peraltices e maldades ainda piores.
Patrício ainda sentia-se jovem e resolveu arrumar uma companheira. O que?! A negra Teresa não era fraca não e Patricinho a odiou logo na primeira vista.
Sucedeu que um dia Patrício precisou fazer uma viagem de negócios para o exterior e ficaria por lá cerca de dois meses. Quando ele voltou para o Brasil, para a sua mansão ficou boquiaberto feito um bocó louco. Seu filho Patricinho não era mais o mesmo, sô! O molequinho agora era obediente, caprichoso nos estudos, não salgava nem apimentava mais pudins, enfim, Patrício teve que perguntar a sua amada negra Teresa que milagre era aquele, no que ela respondeu:
- Percebi que teu filho não tinha nada de louco, não. Ao vê-lo fazer tantas maldades dei-lhe uma daquelas surras que meus antepassados levaram na escravidão e, para não vê-lo e ouvi-lo chorar tanto dei-lhe minhas tetas.
Patrício ficou pálido.
- O que?!
A negra Teresa lhe explicou:
- Dei-lhe de mamar, seu homem. Seu filho me confessou que nunca havia mamado na vida e esse seria o melhor de todos os presentes que ele queria ganhar. Agora é só beleza e alegria, mamará nos peitos da negra Teresa todos os dias.
Eu morro e não vejo tudo, viu sô?


doutorboacultural.blogspot.com/






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