quarta-feira, 18 de setembro de 2013

OPERAÇÃO NASAL



O sonho de Edilene era simplesmente cheirar. Sim, sentir o perfume exuberante das flores como as borboletas; o cheirinho do café Pelé que todas as manhãs era preparado com carinho por sua vovó Zezé; o queijinho em forma de salgadinhos; o cheiro definido EROS dos machos; enfim, Edilene perdeu seu olfato desde menininha quando escorregou numa casca de banana e caiu de nariz num vaso de cristal que foi pro pau também, é claro. Para que ela voltasse a cheirar, seria necessária uma cirurgia nasal tailandesa, a mais cara do mundo. Danou-se tudo de vez. A pobrezinha nasceu na pereba da goiaba murcha e bichada do sertão. Não tinha jeito não.
Edilene cresceu como cresce toda a raiz e seu único sonho era dar vida a seu nariz. Olhava-se direto no espelho e dizia pra si mesma: “De que me servem estes dois buraquinhos se não inalam sequer nem um agradável cheirinho?” Tadinha de Edilene. Juntou todas as suas roupas, literalmente “trapos”, saiu do sertão e foi pra São Paulo. Arrumou um excelente trabalho de “limpadora de chiqueiros de porcos” e, seu maior hobbie era ficar apreciando de pertinho o famoso Rio Tietê. Os paulistanos diziam que ela não passava de uma doida.
Nas caminhadas da vida, tudo pode acontecer e, observem só o trabalhar de Deus: Edilene conheceu por acaso, Edvaldo. Pensem num homem inteligente, gente. O que?! Cruzes! Tom Cruise perdia feio para ele no que se diz respeito à beleza. Um sujeito do tipo mesmo entende? Dispensou todas as maravilhas da vida, com exceção a Edilene, pois, desde que bateu os olhos nela, gamou. O amor é lindo e é por isso que todos nós temos que ficar sorrindo. Lindo?! O homem, além de lindo era um otorrino. Era tudo o que Edilene precisava e, digo mais: Edvaldo era demais. O maior otorrino do mundo, gente. Edvaldo Pereira de Almeida. Pererês Almeidas podem pular alto, porém, jamais como Edvaldo. Não insistam.
Gente, eu sempre digo que o dinheiro ajuda e muito, porém, não é tudo, porém, novamente, eu pergunto: o que Edilene queria mais? O homem, além de rico era lindo e, além de lindo, um excelente otorrino e pra fechar: vivia sorrindo e, num desses brancos sorrisos, pediu a mão de Edilene em casamento. O que?! Edilene deu-lhe não só suas mãos, como seus pés, seu corpo todo e, isto inclui seu nariz. Seu amado Edvaldo, o grande, incomparável e inimitável cirurgião teria pela frente agora, algo que ficaria na história mundial: “A Operação Nasal”.
Edvaldo trabalhava com carinho naquele nariz, porém, por infelicidade do destino, sua amada Edilene não cheirava não. O tempo passou muito mais do que aquele ferrinho elétrico de última geração e, Edilene não cheirava não. Caramba! O homem ficava praticamente vinte e quatro horas trabalhando no nariz da mulher e, nada. Nem um bom resultado.
Sucedeu que numa noite de sábado, Edilene que também era uma excelente cozinheira, preparou uma deliciosa feijoada que incluía ovos cozidos e repolhos refogados, como sempre fazia. Fartaram-se de tanto que comeram. Edvaldo, naquela noite, botou até seu cachorro magro pra correr. Raspou até o fundo da panela e, na sequência, deu aquele beijo sabor de porco em sua amada. Foram dormir e, aquela noite parecia ser propícia para umas frescurinhas, porque o arzinho estava fresco como veadinhos irlandeses. Pois é, gente. Quando Edvaldo acordou pela manhã de domingo, cadê sua amada Edilene? E o vento levou já é outra história. Ela sumiu dali feitos àqueles ratinhos debaixo da pia da cozinha quando ouviam os peidos da velha Jocréia. Eles ficavam assustados, é claro, exatamente como ficou Edvaldo. Sua amada Edilene, aquela bonitinha que cheirava a leite sumiu e, digo mais: escafedeu. Ué? Por que será, hein?
Foram três dias de choro nos ombros da mamãe de Edilene.
- Mamãe, não me casei com um doutor. Casei-me com um fedor. Pense em quantos peidos já engoli sem saber deste porco. Pense na catinga de uns peidos fedidos, mamãe! Uma catinga tão fedorenta que me dá nojo.
Que destino cruel, meu Deus do céu! O amor supera tudo e, não é possível que não pudesse superar aqueles cheiros de peidos, também. Caramba! Todo mundo peida. Até mesmo Edvaldo Pereira de Almeida.


doutorboacultural.blogspot.com/

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