quinta-feira, 26 de setembro de 2013

PAPO DROGADO

É evidente que uma pessoa chapada de drogas na cabeça não tem um diálogo agradável. Delira nas ideias, viaja em pensamentos absurdos num mundo ilusório criado por ela mesma. E aí, fica aquele assunto vago, sem nexo.
Chico Lobo era um cara louco, porém, não rasgava dinheiro e também não comia bosta. Não era agressivo, mas, era capaz de tirar a paz de cães e cadelas fiéis e honestos da vila onde morava. Queimava uma erva, não a daninha, mas, a danada mesmo e, ficava conversando com a lua feito um débil mental. Bastava Chico Lobo passar pelas ruas e a cachorrada já protestava. Muitos cães e cadelas, pais de famílias, se enfartaram e, nos atestados de óbito fora comprovado que era de pura raiva.


 Lúcia Pura era uma santa até se envolver com Chico Lobo. O único vício estranho da menina donzela era roer as unhas dos pés com sua boca. Tirando isso, Lúcia Pura estudava a Bíblia com as testemunhas de Jericó e boa. Pois é, a menina se envolveu com Chico Lobo, começou a queimar ervas e aí o barulho na vila se multiplicou.

Muitas velhinhas, cito aquelas fofoqueiras que adoram uma janela, morreram sem saber como é que Chico e Lúcia sobreviviam, pois, eles não faziam nada, absolutamente nada de concreto na vida, exceto perturbar a paz dos inocentes.

Certa noite, o casal chapado viaja num assunto que, como dizia a crente Maria: Só pela misericórdia de Deus. Lúcia Pura lia a Bíblia, quer dizer: ria das letrinhas. Chico Lobo, muito louco pergunta:

- Está lendo o livro de Genésio?

- Ainda não cheguei lá. Estou em Gênesis.

- O barato mesmo é o livro de Júnior, pode crer!

Lúcia pura discorda:

- Júnior? Júnior não escreveu livro nenhum da Bíblia.

- Não?!

- Júnior escreveu o Alcorão.

- E Jesus? Não escreveu nada?

Lúcia Pura sorri:

- Só escrevia na areia pelo que estou sabendo.

- Pô meu, pode crer! Que viagem foi aquele barato de fazer a água virar vinho?

- E a multiplicação dos pães e dos peixinhos?

- Será que já vieram fritos?

- Vai saber, né?

Chico Lobo e Lúcia ficam observando uma mosca voando, até que a coitada cai de corpo e alma num panelão de sopa. Chico Lobo da uma risada diabólica.

- Chapada pra caracas essa mosca, pode crer!

- Teve uma morte bonita. Morreu na fartura.

De repente, sobe pela parede uma barata e Lúcia Pura diz:

- Olha outra louca lá. Para onde será que ela está indo?

- Provavelmente numa reunião dos tomates. Olha só as antenas dela. Estão captando alguma coisa.

De repente, Chico Lobo e Lúcia Pura ouvem tiros diversos e, por instantes, parece que o efeito daquela droga passa. Ouvem mais tiros e se ajoelham e choram. Seria os traficantes? Seria a polícia? Ouvem mais tiros. Oram e choram. Ouvem mais tiros. Acalmam-se quando ouvem o plim plim. A TV estava ligada na Globo e o filme era de bang bang.

Chico Lobo da uma gargalhada.

- Caracas! Até a Globo está tirando uma com a gente, cara! Muda de canal. Bota no Gugu.

Pois é, não tem jeito. O papo drogado é assim mesmo. Que absurdo, Sô! Livro de Genésio? Livro de Júnior? Júnior escreveu o Alcorão? Peixinhos fritos? Mosca que morreu na fartura? Barata indo pra reunião de tomate? Bota no Gugu? Pode parar! Internem estes loucos.



 doutorboacultural.blogspot.com/

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