terça-feira, 10 de setembro de 2013

CURA-TE PELA FÉ


Basta crer e tudo pode acontecer. Foi usando esta frase que um homem de nome João Ferreira Bigulinho cativou a atenção de milhares de fiéis para a sua congregação religiosa “Cura-te Pela Fé”, fundada por ele mesmo.
João sem dúvida tinha uma inteligência brilhante. Teve uma ideia que nenhum outro fanático religioso teve antes. Este homem poderia ser chamado de muitos adjetivos malignos da Língua Portuguesa, com exceção ao adjetivo vagabundo que é aquele que vagabundeia ou é vadio mesmo. João trabalhava e muito. Montou um armazém no porão de sua congregação e ali, tinha de tudo, tipo: raizadas milagrosas, urina de cabra preta, pomadas pra coceiras em geral: frieiras, hemorroidas, joanetes e chulé; gel massageador pra dor; água de batata para purificar o estômago, suco de gengibre, hortelã, mel e agrião para os males dos pulmões, suco de cebola, alho e morango para má circulação e para fortalecer o coração, óleo de tubarão para curar artrose e osteoporose, extrato de tomate com alecrim e pêssego em caldas para cura total da depressão, catuaba do norte com esperma de bode preto para trazer de volta o saudável gozo do vovô; chá de folhas da laranjeira com óleo de fígado de tamanduá bandeira para a cura da diabetes, rins de capivara para diarreia e desinteira, fígado de cabrito em conserva para a cura da anemia, hipoglicemia e leucemia, enfim, tinha de tudo e mais um pouco naquele armazém.
João Ferreira Bigulinho, aparentemente, um velhinho amável, amava em especial os irmãos doentes e citava sempre aquela frase das antigas que dizia o mestre Jesus: “Os sãos não têm necessidade de médicos, mas sim os enfermos” (Mateus 9: 10-12). Então, ele fazia uma belíssima pregação e, enquanto pregava observava minuciosamente cada membro daquela congregação. Os doentes, que eram muitos, no final do culto faziam uma fila enorme para receber dele uma oração e, comprar seus produtos, é claro.
João tinha uma lábia certeira. Daquela que não é em vão. Conseguia dominar a todos os seus membros e, quanto aos irmãos velhinhos aposentados, ele fazia em até dois pagamentos porque seus produtos eram caríssimos. A irmandade vendia até seus bens para compra-los. Para reforçar a venda de seus produtos ele dizia:
- Amados irmãos, o sangue de Jesus tem poder e, vocês sabem por quê? Porque é um sangue limpo, puras feitas às águas limpas que nunca lavaram as bundas dos bebês. Seja lá qual for o teu problema, eu digo: nem todo dia é dia de Maria. É dia das Betes também e, muitas delas estão aí por toda a parte contaminando o sangue de muitos de vocês. Ao persistirem os sintomas procure-me já. E quanto a vocês irmãozinhos velhinhos derrubados? Saudade dos bons tempos? Creiam: só eu tenho a fórmula do legítimo e autêntico elixir do rejuvecimento e, digo mais: não tem vencimento. Se o melhor da vida é viver, então vamos formalizar a ideia de que o melhor também é fomentar essa vontade de viver, viver e vencer.
O povo batia palmas e dava glórias.
- A revelação divina que vem sempre do alto está aqui comigo e agora é a horam porém, não vai ter milagre para todos. Meus produtos são porradas na bandeira invasora. Quem tiver a bênção de pegar, pegue o que tenho a oferecer. Quanto aos tímidos, aos covardes, aos duros, aos cheira-peidos, vão embora da minha congregação. Para crer é preciso ver acontecer ou para ver acontecer é preciso crer e, para crer é preciso ter fé. É tomar do meu chá para sentir a presença de Jeová; provar do meu mel para sentir-se no céu. Ou provar do meu elixir para descobrir o que realmente é existir. É pegar ou largar. Quantos vão querer pegar? Calma! Não tenho pra todos. Calma!
E o povo sobrecarregado de problemas diversos fazia uma aglomeração total no armazém do porão daquela congregação. João vendia tudo, porque, como já citei: ali tinha de tudo. E assim, João pegou uma fama mundial. Não extorquia dinheiro dos fiéis como fazem muitos que manipulam as cabeças dos coitados. Pelo contrário: exercitava nas cabecinhas humanas tanto a fé que a coisa pegava e estourava mesmo. Muita gente se curou de diversos males, porque era como ele costumava dizer e, isso foi comprovado até mesmo por Freud: “Basta crer e tudo pode acontecer”.



doutorboacultural.blogspot.com/


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