Bobynho era um cãozinho nojentinho demais, sô! Latia até para
o vento e ai do galo se soltasse um peido. Ele estraçalhava o coitado cantador.
Bobynho tinha nojo de cadelas, principalmente quando elas entravam no cio,
devido o cheiro de sangue que lhe provocava náuseas e vômitos. Sua comida tinha
que ser de primeira e feita na hora. Sucos só naturais e, água, somente
filtrada.
Contudo, Bobynho vivia mau humorado. Não abanava o rabo para
qualquer pé-de-chinelo, aliás, não abanava o rabo para ninguém, com exceção à
sua dona. Caso ele tivesse comendo e alguém arrotasse ou soltasse um peido
perto dele, vixi nossa! Bobynho virava uma fera. Se visse uma baratinha
passeando sozinha ou com sua família, perdia o apetite na hora. Que cachorrinho
nojentinho, sô!
Se Bobynho pudesse dizer, diria talvez: “Tenho horror e nojo
de cadelas. Todas elas são porcas”. Só existia uma paixão guardada em seu
coração: sua dona Maricréa. Ele amava essa velha demais. Gostava de ouvir
canções de Nelson Gonçalves (inesquecível) e choramingava pelos cantos da casa
por amor à velha.
Sucedeu que, um dia, a velha Maricréa solteirona desde a
mocidade resolveu se desencalhar. Botou uns anúncios na rádio e, vixi! Cada dia
era um velho diferente em seu portão, só que não entrava porque Bobynho não
deixava. Que ciúme maluco, sô! Ninguém podia sequer olhar para a velha
Maricréa, quem diria falar.
Um dia, a velha Maricréa adoeceu e dois dias depois morreu. O
cãozinho Bobynho ficou tão desiludido com isso que deu fim em sua vida canina.
Tomou umas pingas (não se sabe como e onde. Ele conseguiu fazer isso) chegou a
casa trocando as patas e botou pra rolar na sonata só som das antigas, em
especial: Nelson Gonçalves e Altemar Dutra. Não se sabe como e onde ele conseguiu
fazer isso. No que a música parou de tocar, seu coração parou de bater. Nada
foi escrito, falado ou comentado sobre a ressurreição dos bichos no livro
sagrado, porém, o cãozinho Bobynho aguarda uma ressurreição e um juízo justo.
Ele afirma que é um cão diferente de todos os outros cães, porque é racional e
jura que em vidas passadas teve um relacionamento lindo com uma cadela
excepcional que é a velha Maricréa, e que com ela quer passar toda a sua
eternidade.
doutorboacultural.blogspot.com/
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