Você sabe o que quer dizer indireta? É uma forma de você dizer algo a respeito de alguma coisa
ou de alguém, mas sem fazer uso de algum acontecimento explícito, há certa
subjetividade no seu diálogo e que pode até mesmo vir acompanhado de um teor
irônico a respeito do fato e da afirmação.
Direta – que logo se pode ver o sentido da
oração.
Ás vezes, indiretas não funcionam, ou como diz a linguagem
popular: não colam. Talvez, porque o indiretado tem raciocínio lento e por
isso não captou tal indireta ou quem sabe, por outro lado, espera de você uma
franqueza de palavras, ou seja: seja direta, sua anta. Se o calo dos seus pés
está doendo, não culpe os sapatos. Trate de seus calos.
Zé Ruela era um vendedor de panelas. Tinha apetite de
galinha, aliás, nunca vi um bicho comer tanto. Cito a galinha.
Sucedeu que, um dia, Zé Ruela foi vender suas panelas numa
vila já fora do mapa geográfico e, lá, não havia restaurantes e, tudo quanto
foi boteco que ele entrou não encontrou sequer um salgado cru, frito, assado,
em conserva ou cozido. Só tinha doces.
Zé Ruela vendia panelas como quem vende cuecas e calcinhas em
promoção de liquidação total pra fechar a loja do turco maluco, porém, o cabra
precisava comer. Bateu palmas num portão e sentiu vindo à sua direção um
delicioso cheirinho de linguicinhas fritas. Pensou animado: “É aqui”. Uma
senhora gorda, simpática, com cara de cozinheira italiana veio lhe atender.
- O que deseja, meu senhor?
- Estou vendendo panelas e...
Aquela senhora já diz sorrindo:
- Dio santo! Chegou à casa certa. Eu quero frigideiras,
panela de pressão e uma panela de taxo. Quanto é? Eu pago.
Zé Ruela com uma fome de abutre faz uma boa venda para aquela
senhora e, na sequência, com o dinheirinho no bolso, joga uma indireta.
- Por acaso, minha senhora, sabe me dizer se existe um
restaurante ou alguém que vende comida por aqui, nesta vila?
E aquela simpática mulher responde:
- Dio santo! Moro aqui há 30 anos desde que foi fundada esta
vila e nunca ouvi dizer que por aqui tem um restaurante, tio.
- Tio?!
E aquele cheirinho de linguicinhas estava atentador de mais
para a fome de Zé Ruela.
- Tio, foi um prazer imenso te conhecer. Obrigado pelas
panelas, mas tenho que entrar se não minhas linguicinhas italianas vai queimar.
Zé Ruela bate palmas em outro portão, atraído dessa vez, por
um cheirinho de peixe frito. Vem lhe atender um pescador. O sujeito compra-lhe
umas panelas e, desta vez, Zé Ruela joga uma indireta diferente:
- Amigo, estou com uma fome assustadora. Onde posso pagar por
uma refeição por aqui?
- Sei não, meu senhor. Deve ter não. Obrigado e boas vendas.
E assim, as horas foram passando e a fome de Zé Ruela
aumentando. Ele bate em sua própria cabeça e diz: “Deixe de ser besta, homem.
Vou ser direto”. Bate palmas noutro portão e, desta vez, não sente cheiro de
nada. Vem uma velhinha lhe atender, tão magra feita uma cana de açúcar. Zé
Ruela não vende nada ali, porém, é direto:
- Minha senhora, sou vendedor e estou com muita fome. Dou-lhe
seis panelas que são as últimas que me restaram, por uma refeição, pode ser ou
não?
A velhinha lança lhe um sorriso simpático:
- Pode entrar, meu filho. Vai comer tanto até teu reto criar
barbas.
Zé Ruela nota que ser direto costuma dar certo, porém, fica
decepcionado minutos depois.
- Zé menino, se tu me chega meia hora antes ias comer uma
deliciosa feijoada, porém, a última pratada que sobrou, dei pra minha
cadelinha. Olha só a carinha dela de satisfeita. Ela não é bonitinha? Mas tem
doce. Quer doce?
Fazer o que né? Diretas costumas dar certo, porém, na hora
certa. O infeliz de Zé Ruela estava achando que em plena cinco horas da tarde
iria almoçar. Coitado! Deu seis panelas em troca de um prato de doce, pois, se
não comesse, não teria forças para se arrancar daquela vila. É mole?
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