terça-feira, 28 de maio de 2013

INDIRETAS E DIRETAS


Você sabe o que quer dizer indireta? É uma forma de você dizer algo a respeito de alguma coisa ou de alguém, mas sem fazer uso de algum acontecimento explícito, há certa subjetividade no seu diálogo e que pode até mesmo vir acompanhado de um teor irônico a respeito do fato e da afirmação.
Direta – que logo se pode ver o sentido da oração.

Ás vezes, indiretas não funcionam, ou como diz a linguagem popular: não colam. Talvez, porque o indiretado tem raciocínio lento e por isso não captou tal indireta ou quem sabe, por outro lado, espera de você uma franqueza de palavras, ou seja: seja direta, sua anta. Se o calo dos seus pés está doendo, não culpe os sapatos. Trate de seus calos.
Zé Ruela era um vendedor de panelas. Tinha apetite de galinha, aliás, nunca vi um bicho comer tanto. Cito a galinha.
Sucedeu que, um dia, Zé Ruela foi vender suas panelas numa vila já fora do mapa geográfico e, lá, não havia restaurantes e, tudo quanto foi boteco que ele entrou não encontrou sequer um salgado cru, frito, assado, em conserva ou cozido. Só tinha doces.
Zé Ruela vendia panelas como quem vende cuecas e calcinhas em promoção de liquidação total pra fechar a loja do turco maluco, porém, o cabra precisava comer. Bateu palmas num portão e sentiu vindo à sua direção um delicioso cheirinho de linguicinhas fritas. Pensou animado: “É aqui”. Uma senhora gorda, simpática, com cara de cozinheira italiana veio lhe atender.
- O que deseja, meu senhor?
- Estou vendendo panelas e...
Aquela senhora já diz sorrindo:
- Dio santo! Chegou à casa certa. Eu quero frigideiras, panela de pressão e uma panela de taxo. Quanto é? Eu pago.
Zé Ruela com uma fome de abutre faz uma boa venda para aquela senhora e, na sequência, com o dinheirinho no bolso, joga uma indireta.
- Por acaso, minha senhora, sabe me dizer se existe um restaurante ou alguém que vende comida por aqui, nesta vila?
E aquela simpática mulher responde:
- Dio santo! Moro aqui há 30 anos desde que foi fundada esta vila e nunca ouvi dizer que por aqui tem um restaurante, tio.
- Tio?!
E aquele cheirinho de linguicinhas estava atentador de mais para a fome de Zé Ruela.
- Tio, foi um prazer imenso te conhecer. Obrigado pelas panelas, mas tenho que entrar se não minhas linguicinhas italianas vai queimar.
Zé Ruela bate palmas em outro portão, atraído dessa vez, por um cheirinho de peixe frito. Vem lhe atender um pescador. O sujeito compra-lhe umas panelas e, desta vez, Zé Ruela joga uma indireta diferente:
- Amigo, estou com uma fome assustadora. Onde posso pagar por uma refeição por aqui?
- Sei não, meu senhor. Deve ter não. Obrigado e boas vendas.
E assim, as horas foram passando e a fome de Zé Ruela aumentando. Ele bate em sua própria cabeça e diz: “Deixe de ser besta, homem. Vou ser direto”. Bate palmas noutro portão e, desta vez, não sente cheiro de nada. Vem uma velhinha lhe atender, tão magra feita uma cana de açúcar. Zé Ruela não vende nada ali, porém, é direto:
- Minha senhora, sou vendedor e estou com muita fome. Dou-lhe seis panelas que são as últimas que me restaram, por uma refeição, pode ser ou não?
A velhinha lança lhe um sorriso simpático:
- Pode entrar, meu filho. Vai comer tanto até teu reto criar barbas.
Zé Ruela nota que ser direto costuma dar certo, porém, fica decepcionado minutos depois.
- Zé menino, se tu me chega meia hora antes ias comer uma deliciosa feijoada, porém, a última pratada que sobrou, dei pra minha cadelinha. Olha só a carinha dela de satisfeita. Ela não é bonitinha? Mas tem doce. Quer doce?
Fazer o que né? Diretas costumas dar certo, porém, na hora certa. O infeliz de Zé Ruela estava achando que em plena cinco horas da tarde iria almoçar. Coitado! Deu seis panelas em troca de um prato de doce, pois, se não comesse, não teria forças para se arrancar daquela vila. É mole?


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