Marvin desde menino sempre gostou de escrever. Apaixonado por
literatura em geral, lia de tudo, inclusive fotonovelas e histórias em
quadrinhos. Fez belíssimas composições e músicas e, lamentavelmente, até o dia
de sua morte, nunca foi reconhecido pelo público.
No primário escolar era elogiado pela sua professora Neusa
devido ao seu bom comportamento e esforço para aprender e, também pela sua
caligrafia legível e muito bonita. Na quarta série primária deixou sua
professora Claudete emocionada com suas composições de redação sempre bem
boladas.
Sempre gostou das artes em geral, em especial a música. Aos
16 anos já apreciava Maria Bethânia (sua cantora predileta) ouvindo cantar
músicas do irmão Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda, Lupicínio Rodrigues,
Gonzaguinha, entre outros monstros sagrados.
Seu grande sonho, antes de morrer, era poder divulgar o seu
nome e, o maior, dos seus sonhos era poder ouvir uma de suas músicas cantada
por Maria Bethânia.
Aos 17 anos era querido por todos na casa do sítio do
Barracão de Laranjas em Mogi Mirim, interior de São Paulo. Lá cantava
preferencialmente “Mundo Colorido”, um de seus sucessos e, ficava emocionado
vendo a alegria do pássaro preto cantar com ele. Dormia sempre na casa daquele
sítio e, numa noite, quando voltou do colégio, estava tão cansado que nem
jantou como de costume. Apagou-se sobre a cama e, pelas altas horas da
madrugada acordou com uma picada de aranha. Ficou triste em mata-la, por acaso,
quando se coçou. Deixou aquela aranha sobre uma folha em branco de seu caderno
e voltou a dormir. No dia seguinte, logo pela manhã, aquela pequena aranha não
estava mais sobre a folha de seu caderno.
Com o passar dos dias, tinha constantes visões de aranhas e,
o interessante era que ele podia estar dormindo, mas, acordava para vê-las como
se tais lhes chamassem. Essas visões acompanharam Marvin por muito tempo e, ele
nunca conseguiu entender isso.
Casou-se muito jovem e sem quaisquer preparos. Dizia ele, que
cometeu a maior das loucuras em sua vida, mas, que faria tudo de novo por amor
a seus filhos. Marvin nunca os sustentou e, literalmente, os abandonou ainda
quando estes eram pequenos. Muito tempo passou e sentiu que já era tarde para
fazer reparos de seus erros, porém, tentou. Tudo acabou em sonhos, que ele,
lamentavelmente, nunca conseguiu realizar.
Já adulto, olhou a sua volta e caiu em depressão: não tinha
nada de concreto em sua vida, nem mesmo um bom emprego que, seria o primeiro
passo para se realizar. Suas músicas, suas composições ficaram gravadas em sua
mente e em seu coração e, por ilusão, achava ele que um dia, faria muito
sucesso e todos os seus entes queridos, em especial, seus filhos, teriam muito
orgulho dele um dia. Desejava muito, mas, muito mesmo ser um grande pai. Não
conseguiu ser grande, nem pequeno e, em vida, culpava-se por isso. Nunca
conseguiu, em vida, abster-se do álcool e do tabagismo e, estes, sem dúvida, foram
os principais causadores de sua morte.
Marvin perto dos 50 anos criou Dr. Boa, um personagem que, por intenção primária, levaria sempre o
bom humor as pessoas. Seu maior prazer era o de arrancar risos de seu público,
em especial das crianças que sempre amou. Ele nunca foi feliz e o mundo nunca
soube disso.
Criou um Blog na internet de nome Doutor Boa Cultural e, todos os dias, tinha por missão, escrever
diversas histórias a seu público do mundo inteiro. Sua pretensão não era a de
visar lucros monetários com suas escritas, mas, sim a de ser reconhecido como
escritor. Suas histórias eram sem dúvida, muito criativas e, nem sempre havia
dose de humor nelas. Marvin baseava suas escritas no seu dia a dia. Nunca
suportou a profissão de vendedor, porém, se viu obrigado a optar por isso para
sobreviver.
Em 2013, no dia 27 de janeiro, aniversário de Matheus, seu
filho mais chegado, foi picado por uma aranha marrom e o veneno dela costuma
ser fatal como o foi para ele. Esperou seu veneno se espalhar pelo sangue antes
de ir ao médico. Sem condições, comprou medicamentos caros e os desprezou em
poucos dias o rígido tratamento, preferindo as cervejinhas de colegas na mesa
de um bar. Esqueceu-se que não era mais jovem, pois, temia um dia em ficar
velho. Não resistiu. Partiu deste plano, talvez, levando consigo seus sonhos,
aqueles que ele nunca conseguiu realizar. Fez um único pedido antes de
despedir-se da vida: Por amor à escrita, vou embora, porém, Doutor Boa não pode
e não deve morrer.
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