Severina Aparecida
Leida de Almeida nasceu por alegria do destino na Alemanha. Dona Leida e Seu
Almeida eram seus pais nascidos no sertão da Paraíba e trabalhavam numa das
fazendas do velho Fritz, um ricaço alemão.
O velho Fritz não
tinha mulher, nem filhos e adorava a moleca Severina demais. Agradava ela com
docinhos e balinhas e lhe dava também presentes bons e caros. Para se ter uma
idéia, quando a moleca completou seus 15 anos já dominava pelo menos umas
quatro línguas já inclusa a língua alemã.
A moleca Severina
era virada numa Patricinha de primeira. Só usava tênis e roupas de marcas e não
comia qualquer coisa não. Não se sabe onde foi que ela ouviu um dia que comer
em demasia é antiético e a moleca só beliscava a casca da batata dizendo que
aquilo era social.
Dona Leida e Seu
Almeida lascavam-se na lavoura debaixo de sol ou chuva enquanto Severina e o
velho Fritz de boas vidas tomavam suco de uva. Eta, febre nas virilhas! Que
maravilha! Como a vida é linda!
Dona Leida e Seu
Almeida não tinham direito ao conforto e ao luxo, não, rapá! Quem via o barraco
que eles moravam na fazenda levava um susto. Era feio demais, gente. A moleca
Severina morava no castelo amarelo do velho e tinha um quarto tão grande que se
perdia dentro dele. Eta peste meu! Melhor que isso, só Deus!
Sucedeu que, numa
noite, o velho Fritz assou um marreco gordo, fez um saladão de repolho com
chucrutes e convidou Dona Leida e Seu Almeida para cear mais ele, juntamente da
moleca Severina. “Não baba louco! Vê se come pouco”. Os pais de Severina
estavam tão esfomeados que comeram até a cabeça com bico e tudo do marreco e
dá-lhe vinho pros velhinhos. Horas depois foi aquela peidorreira das
guerreiras. “Mas, que reiva dessa diarréiva”! Os intestinos dos pais de
Severina foram pro pau de vez e nem o SUS do Brasil resolveria essa bexiga de
problema. Os médicos diziam que o melhor que eles poderiam fazer era peidarem
para o excesso de o gás sair. Cada peido vinha água por todos os lados. Só que
eram águas escuras.
Por alegria do
destino do velho Fritz, Dona Leida e Seu Almeida morreram juntos e abraçados e,
os coitados estavam todos cagados. A moleca Severina chorava feito uma doida.
Foi muito triste a falência de seus pais para ela. No dia seguinte, ela mais o
velho Fritz estavam na Disney, lá dos states. O velho Fritz queria consolar a
moleca e não era dando-lhe uma boneca que tudo ficaria resolvido. Por isso foi
que ele a levou para os Estados Unidos.
O velho Fritz
gostava dessa moleca demais, mas demais mesmo. Voltaram para a Alemanha, para o
castelo amarelo e chega de tristeza. O velho queria agora só alegria. Tomou um
porre de vinho paraguaiano e começou a fazer umas gracinhas que deixou Severina
aperreada. Eta gota que sai velho Satanás! Ele queria ver a moleca dançar
aquela do “tchan” e o velho insistia e persistia e nada da moleca ceder.
Prometeu a ela levá-la no show de Luan Santana no Brasil e ela dançou até a
“Pipa do tio”. E o velho babava. Seria o vinho? Não. Ele estava tendo um ataque
de epilepsia. Como estava perdendo o fôlego Severina lhe fez uma respiração
boca a boca e boa. O velho voltou às origens rapidinhas. Foi aí que ele
acertou. Não vacilou. Deu-lhe um beijo de língua e gol. Severina gostou tanto
daquele beijo que até pediu o velho em casamento. Por
pouco ela não matou aquele velho com aquele convite. Na semana seguinte lá
estavam os dois no cartório assinando papéis e aquela coisa toda, Casaram em
regime imparcial de bens. O único bem que Severina tinha era ela mesma, e mesmo
assim, nem dela era, era do velho. “Sacode seu saco, macaco porque se eu entro
neste mato eu te mato”. E o velho deu uma festa das tripas, até o espírito de
Elis Regina tava lá pra cantar com João Mineiro “Alô, alô marciano”. “Eta Leida
que morreu nas peidas”.
O velho Fritz não
queria mais morrer, não. Jurou que se morresse antes de Severina (o que seria
mais provável) viria buscá-la.
Sucedeu que alguns
anos passaram e nada de Severina engravidar e, o sonho do velho Fritz era
deixar sua semente. Não tinha jeito e ele queria um filho mesmo que viesse com
defeito.
Severina estava
muito saidinha para o gosto do velho. A cabra pegava um de seus carros e dava
um rolê pela a Europa e o velho queria morrer de tanto ciúmes. Na realidade,
ela queria mesmo era se livrar da imundície daquele velho, rapá. Assim, ela
ainda jovem, desfrutaria da boa grana dele pro resto da vida. Estava mesmo
querendo que ele morresse, entendeu?
Sucedeu que numa
noite ela preparou um jantar pro velho Fritz a moda brasileira: buchada de
bode. E o velho comeu tanto que queria era mais. E, naquela noite foi um
pesadelo para Severina. O velho soltou tantos gases que se explodiu na cama.
Severina ficou apavorada. Ela se arrependeu de ter matado o velho com aquela
buchada de bode. Chorou feito um bezerrinho.
Depois do velho
enterrado, ela volta pro castelo amarelo e festeja sozinha. A danada toma até
rabo de galo. Finalmente, agora ela era uma viúva rica. Será? Acorda assustada
pela madrugada. Danou-se tudo: Hitler e toda a Alemanha invadiram o castelo
amarelo e ela se caga toda. A pedido de Hitler, ela teria que sair não só do
castelo amarelo como da Alemanha em 24 horas senão Hitler iria judiá-la. Mesmo ela não sendo uma judia, temia muito. Foi se embora da Alemanha pro sertão
paraibano, no Brasil, sem um mísero centavo no bolso. Casou-se com Jubelézio e em pouco
tempo encheu a casa de filhos. Que pobreza! Quantos dias de seca e fome! Se ela
soubesse que Hitler e toda a Alemanha apareceram para ela só em sonhos, não
estaria nessa miséria. O velho Fritz deixou pra ela toda a sua herança. Pelo
menos metade da Alemanha era de Severina.
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