Perinildo era um sujeito trabalhador
e honesto demais. Era analfabeto por completo. Amava sua esposa Perereba e
seus doze filhos.
Perenildo morava num barraco bem no
pico de uma montanha, no sertão do Piauí. Era difícil chegar lá, viu? Às vezes,
quando ele vinha do trabalho, cansado, contando os minutos para chegar a seu
barraco, tropeçava numa pedrinha ou numa minhoca e escorregava montanha abaixo.
O coitado já estava todo quebrado e, ainda assim, trabalhava de roçador de
jardins.
Certa vez, uma linda mulher bateu na
porta de seu barraco. Nem Freud conseguiria explicar como é que aquela deusa de
sapatos de saltos altos conseguiu chegar lá. Ela era mesma: Madonna. Ele, com
toda a sua humildade, não sabia da fama daquela mulher e muito menos, quem era
ela, diz:
- Pode entrar moça. Agora que entrou,
pode sentar. Agora que sentou, aceita tomar uma xícara de café?
E Madonna, linda e exuberante, fica
admirada de ver o número daquela grande família de Perinildo. Ela toma o
cafezinho e ainda pede um bolinho.
- Yes, I do. I Love you. Tem
bolinho de fubá?
E Perenildo responde:
- Não tem. Mas, minha velha vai fazer
agora.
E Perenildo lasca um tapaço no ouvido
da velha Perereba e diz:
- Vá ao galinheiro e pegue uns ovos
antes que nasçam pintos e, faça bolinhos de fubá para a dona Xuxa.
Madonna protesta:
- Yes, I do. I Love you. Eu não ser
Xuxa. Eu ser Madonna.
- Pois é dona, além de cafezinho e
dos bolinhos de fubá, o que trouxe vosmecê prá cá?
- Yes, I do.
I Love you. Eu querer contratar o senhor para
roçar my garden in Boston.
Perenildo fica bravo.
- Não roço galho e muito menos,
bosta.
- Yes, I do, ou seja: Yes, I not. Eu
não dizer galho e sim garden, jardim, entender? Boston fica em Massachussets,
Estados Unidos, onde eu morar.
Danou-se tudo. Foi aí que Perenildo
ficou confuso de vez.
- Coma bolinhos de fubá, dona. Deve
estar com muita fome.
E Madonna come uns oito bolinhos de
fubá e toma algumas xícaras de café.
- Yes, I do.
I Love you. Onde ficar toilet?
- Quer chiclete?
- No, I not. Eu querer WC.
- Sim, aqui é o Piauí.
- No, I not. Onde ficar banheiro?
- Aqui nós toma banho de canequinha,
dona. Tem uma privadinha ali, ó.
Vixi! Sabem aquela privada que tem um
buraco? Bem diferente de um vaso sanitário, sabem? Mas, Madonna não se
importou. Afinal, ela queria contratar Perenildo para roçar um de seus jardins
nos states, só isso. Assim que saiu da privada, ela volta a conversar com
Perenildo.
- Yes, I do.
I Love you. Quanto eu pagar para o senhor roçar
meu jardim?
Perenildo era simples demais, gente.
- Bem roçadinho eu cobro “vinte
reais”.
Madonna sorri.
- Yes, I do. I Love you. O senhor ser
muito engraçado. Semana que vem passarei aqui com meu jatinho e voaremos até o
Rio de Janeiro e, de lá para os Estados Unidos. Mandarei Jesus, cuidar de seu
passaporte, ok?
Perenildo não entendeu foi nada.
Assim que Madonna partiu de seu barraco, os filhos explicaram detalhadamente
para o pai do que se tratava.
Jesus, o homem de Madonna, aparece lá
no pico da montanha no dia seguinte e leva Perenildo para dar um passeio. Vixi!
Comprou pro velho até um sapato vulcabras. Tirou uns documentos assim tão
rápido, como quem tira piolho da cabeça da nenê, já que no Brasil, o que manda
é o dinheiro e, sendo verde, melhor ainda.
Uma semana depois, Perenildo vai pra
Boston. Cagou-se todo no interior do avião e, a aeromoça teve que lhe dar uma
cabaçada de pau para que ele desmaiasse e só acordasse chegando lá no destino.
Mas, correu tudo bem. Perenildo
conheceu uma das mansões da rainha Madonna e nunca viu tanto luxo antes. Roçou
seu jardim enquanto ela foi fazer seus shows. Quando ela chegou, ficou tão
admirada com o trabalho feito por Perenildo que, nossa!
- Yes, I do.
I Love you. Eu pagarei pelo teu trabalho em
tesouros de ouro e diamante, ok?
Perenildo não gostou.
- Dona, não me enrola não que isso
fica feio pra senhora. Eu quero “vinte reais” pelo que combinamos lá no Brasil.
Madonna sorri:
- Yes, I do. I Love you. O senhor
realmente é muito engraçado. Tem ideia de quanto está avaliado este tesouro? Isto
vale mais do que cem milhões de dólares, meu senhor.
Perenildo coça a cabeça, não entende
nada.
- Eu quero somente os vinte reais,
dona.
Madonna lhe paga vinte dólares e ele
protesta.
- Esse dinheiro verde pra mim não
vale nada. Eu quero ver meus conterrâneos nas notinhas. Pode ser duas de dez,
quatro de cinco, ou uma de vinte.
Madonna tira da boceta (pequena
bolsa), uma nota de vinte reais e entrega para Perenildo, que fica muito feliz.
Pede para Jesus levá-lo até o aeroporto e adeus. O velho volta para o Brasil
com vinte reais no bolso. Passa na vendinha do Bilú e compra umas misturinhas
para levar pro barraco e boa. E aquele ignorante, em seu barraco, reúne sua
família e diz:
- Estão vendo como é que eu sou um
cabra inteligente? Aquela mulher queria me enrolar com tal de
tesourinho que na vendinha do Bilú se compra por 1.99; depois, veio com umas
notinhas verdes, que com certeza, seus filhinhos pintaram. Ah! Ah! Pra enganar
o velho aqui, é difícil, viu sô?
E assim, Perenildo e sua grande
família ficaram morando lá no pico da montanha do sertão piauiense e foram felizes para
sempre.
doutorboacultural.blogspot.com/
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