Alfino era um sujeito trabalhador, cabra da peste macho de
verdade. Para alimentar sua mulher e seus 12 filhos, ele dava um duro danado.
Era simpático, comunicativo e, se encaixava na profissão de vendedor. Saía todos
os dias logo pela manhã nas cantadas do galo, com três sacos de panelas nas
costas e ia para as vilas. Sua intenção era voltar para sua casa segurando os
sacos nas mãos, porém, vazios, é claro.
Certa manhã, ele chega numa tal de Vila Esperança e, pelo número
que viu de casas pensou que ia arrebentar de tanto vender. Tinha panela de
pressão, panela pra fogão, enfim, todo tipo de panela. Bate palmas na primeira
casa e logo já vem uma velhinha desdentada e sorridente lhe atender:
- Bom dia, Dona Maria! Mas, quanta alegria!
E ele tira dos sacos as variadas panelas e ali fica pelo menos
uns quarenta minutos chamando, inclusive, a atenção das vizinhas e da maldita
cachorrada. Por azar, ele não vende ali nem uma panela. Parece que aquelas mulheres estavam literalmente falando “fodidas” mesmo. Alfino sai dali
sorrindo, pula umas quatro ruas e, ainda não tem sorte: a maioria já tinha
falado com ele lá de frente a casa da velha desdentada. Apertou a boca do
estômago e lhe deu uma fome da peste. Ele estava durango, sem nem um real no
bolso, mas, mesmo assim continuava otimista. Afinal, o dia estava só começando.
Na primeira venda de uma panela, ele já comeria uma pratada. Naquela vila não
havia sequer um armazém de secos e molhados e, quem diria um restaurante.
Preocupado, ele suspira e peida, mas, continua otimista. Bate palmas numa casa
e quem vem lhe atender era uma senhora gorda e mau humorada. Ele tenta se abrir
com ela:
- Dona Maria, estou há horas aqui na vila e, infelizmente ainda
não vendi nenhuma panela, mas...
E a gorda mau educada pergunta:
- E o que é que eu tenho com isso? O povo não quer saber de
panela não, tio. Vá vender doriu que todo mundo compra, até eu. Estou com uma dor
de cabeça dos diabos e o senhor me aparece aqui batendo panelas? Vá fazer essa
batucada no inferno, homem da caverna.
Não tinha como dialogar com aquela senhora e, ele parte para outra vizinha. Aquela vizinha pede-lhe umas informações precisas sobre as panelas e ele se anima. Pensou que aquela mulher estava com grana e iria lhe comprar mais de uma panela. E, ela com uma cara de bunda mal lavada diz para Alfino:
Não tinha como dialogar com aquela senhora e, ele parte para outra vizinha. Aquela vizinha pede-lhe umas informações precisas sobre as panelas e ele se anima. Pensou que aquela mulher estava com grana e iria lhe comprar mais de uma panela. E, ela com uma cara de bunda mal lavada diz para Alfino:
- Se eu tivesse dinheiro tio, eu já ia lhe comprar logo duas
panelas quando tu fizestes a demonstração delas no portão daquela velha
banguela. Eu estava lá também, lembra-se de mim? Lamento muito, mas estou sem
um puto.
Alfino era otimista demais:
- Mas, eu lhe dou uma panela em troca de um prato de comida.
E aquela mulher sorri:
- Comida?! Estamos sem gás, tio. Só tem um bocadinho de farinha
que eu vou dar pra minha nenenzinha.
Preocupado, Alfino pede licença, solta mais um peido e se
retira daquelas redondezas, porque o povo estava realmente numa dureza da
peste. Chegou ao topo da vila e, teve problemas com os cachorros e cadelas que
lhe morderam até sua bunda. Ele estava com muita fome e, para acabar de danar
tudo começa a chover e ele se molha muito porque nem sequer uma marquise havia
por ali. Ainda otimista, junta todas as suas forças e solta mais um peido e diz
para si mesmo: “To nas tuas mãos, meu Deus”. Bate palmas numa casinha humilde e
o velho o manda entrar. Conta para aquele velho sua história e, sem querer, faz
o velho chorar.
- Meu filho, tu és um cabra da peste de norte a sul, de leste a
oeste e, preste bem atenção no que vou lhe dizer e, para você entender e crer,
aprender a lição desse velho irmão que de antemão sofreu tribulação, mendigou
casquinha e farelo de pão por este mundo cão, passando fome em vão, desejando
comer arroz e feijão, comeu até poeira do chão até que chegou grande dia para
mim de muita alegria: construí minha família, tive filhos e filhas, grandes
maravilhas, tive João, José e Maria.
As lombrigas de Alfino estavam de fato revoltadas. Entraram
numa luta corporal dentro dele que só a peste e, não teve outro jeito:
Alfino precisava comer.
- Meu senhor, eu precisava comer qualquer coisa.
O velho dá uma escarrada e o catarro sem querer cai por inteiro
num panelão de sopa de fubá que estava destampado. O velho não percebeu, mas
Alfino sim.
- Meu filho, vou esquentar esse sopão, tu vai sair daqui
convertido em meu irmão e...
Alfino muda de ideia:
- Sinto muito, meu senhor, mas, antes de eu comer, preciso mesmo
é ir embora agora. Minha mulher e filhos me esperam e...
- O que é isso, cabra da peste? Será uma desfeita que tu estará
fazendo pra mim e para Alá se não comer da minha sopa de fubá.
Foi difícil Alfino se livrar daquele velho, mas ele conseguiu.
O dia já estava terminando e ele não tinha sequer nem o dinheiro
para pegar uma condução para ir embora para a sua casa. Da um saco de panelas
para o motorista e sai daquela vila feliz prometendo pra si mesmo nunca mais
voltar nela. Chega à cidade e lembra que precisa comprar mantimentos para levar
para sua mulher e filhos. Além de ter que comprar arroz e feijão precisava
pegar mais uma condução. Preocupado, suspira e solta mais um peido, mas continua
otimista. Conversa com vários gerentes de mercados e consegue convencer um
deles que, em troca de dois sacos de panelas lhe dá um quilo de arroz, um quilo
de feijão e mais um dinheiro para a sua condução. Ele sai dali tão feliz que
não tinha outro jeito: solta mais um peido.
Chega a sua casa finalmente. Sua mulher e seus doze filhos
estavam no portão lhe esperando. Pensaram, é claro, que ele iria trazer para
casa bastante alimentos e não apenas um quilinho de arroz e outro de feijão.
Sua mulher e seus doze filhos e até mesmo o cachorro magro entram num conflito
familiar dos diabos. Quem teve que escolher o feijão e cozinhá-lo foi
Alfino. Sua mulher e filhos e, até o cachorro magro abandonaram ele que, otimista, escolhia o feijão.
Opa! Dessa vez ele solta rajadas de peidos multiplicativos.
Encontra dentro daquele saco de feijão um milhão. Sim, um milhão de reais ele
encontra ali. Sai pra fora gritando feito um louco querendo ver sua mulher e
filhos:
- Estamos ricos! Estamos ricos!
Porém, sua família e até mesmo aquele cachorro magro já estavam
longe.
Alfino feliz, escolhe o arroz e, opa! Dentro daquele saco de
arroz encontra mais um milhão. Dessa vez ele se caga todo e diz para si mesmo:
“Amanhã, comprarei com esses dois milhões tudo em panelas”.
doutorboacultural.blogspot.com
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