sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

UM CARA CHATO



Pensem num cara chato. Mas, pensem num cara chato mesmo. Aquele que, a natureza humana ainda não conseguiu desvendar o “por que” de sua existência. Um ser que vive por acaso, sabem? Uma criatura que não se toca que já foi tocado, empurrado pela vida. Um personagem capaz de assustar e botar pra correr a própria morte; uma figura impertinente, sem nexo.
Setubaldino era um homem irritante demais, sô! Vivia dando uma de palhaço para chamar a atenção das pessoas, arrancar risos delas, porém, nunca conseguiu isso.
Gente que fala demais irrita. Setubaldino falava até mesmo quando defecava. Desde nenenzinho, quando descobriu o poder da língua, lascou-se tudo. E o sujeito tinha a língua presa, sua voz suava assim com um “s”, e era muito irritante de ouvir.
Bobin era um cachorro bravo que morava bem ao lado da casa de Setubaldino. O cão babava de tanta raiva quando Setubaldino o irritava.
- Cas-sorinho querido, por que late tanto, mocinho? Estou as-sando que tu queres um ossinho. Queres um ossinho? Deis-as o titio ver se tem aqui em minha bolsa um ossinho pro mocinho.
E Bobin parava de latir na hora. Ficava com as orelhas em pé e nem sequer piscava os olhos, enquanto Setubaldino mexia na bolsa.
- Síí! Titio não as-sou ossinho, au, au! Mas, tem halls. Quer halls? Tem halls. Quer halls?
E Bobin babava, mordia o portão de tanto ódio desse cara. Pra que irritar o cachorrinho, sua praga?
Por milagre do destino, Setubaldino arrumou uma namorada. Coitada da menina! Aninha devia estar muito carente ou com chulé cerebral quando se uniu com um cara infernal feito Setubaldino. Caracas, meu! Aninha era bonita demais. Surgiu um comentário de que ela caiu de um prédio de vinte andares, bateu a cabeça, mas, sobreviveu.
Num domingo, Setubaldino levou Aninha ao cinema e, no caminho, como sempre, não parava de falar.
- Amor, esse filme que vamos ver, eu já vi doze vezes. O cara mata sua mulher no final e, ela, em espírito e em verdade volta para vingar sua morte. Ele já havia se casado com a irmã dela, que na verdade, era irmã dele, filha do padrasto dela, entendeu?
Que cara chato, gente! Era véspera de Natal e, Setubaldino presenteia Aninha.
- O que será que tem, hein? Uma dica: Com ele você pode falar por tempo ilimitado gastando apenas vinte e cinco centavos. O que será que é, hein? Você tem que adivinhar para ganhar.
E Aninha, muito feliz diz:
- É um gravadorzinho.
Setubaldino ri feito um retardado.
- He! He! Não é! Não é! O que será que é? É um ce... é um ce...
- Um sebo de carneiro.
- Não é! Não é! O que será que é? É um ce... é um ce...
- É um Setubaldino bonequinho.
- Não é! Não é! O que será que é? É um celu... é um celu...
- É um Celulari Edson.
E de tanto o retardado de Setubaldino ficar balançando aquela caixinha, cai no chão e quebra.
- Quebrou amor, porque você não acertou.
E Aninha abre a caixinha e diz chorando.
- Eu sabia que era um celular desde o princípio. Agora quebrou, danou.
- Danou nada. Darei-lhe outro se casares comigo agora.
Setubaldino e Aninha se casaram numa igreja evangélica. O pastor ganhou um troco legal desse chato, pra o deixar fazer uma declaração de amor para Aninha, no microfone.
- Alô, som. Atenção, som. Amor, I love you é pouco, Marisa. Darei à minha amada muito mais do que o céu, Roberto. Darei o céu, o mar, o chun, chun, chun, o chá, chá, chá...
E bem naquele momento, assim prega a história, cai um meteoro da paixão naquela igreja e o baque foi tão forte que não sobrou ninguém. Matou todos.
Setubaldino acordou no inferno vendo o Diabo e sua equipe de demônios chupando sorvete de fogo e enxofre, mas, ficou assustado de vez quando viu vindo em sua direção Bobin, aquele cachorro, lembram? E Bobin babava de tanta raiva e dizia:
- Agora eu te pego, demônio!
Vixi! Sai dessa agora, Setubaldino. Corra porque o bicho te pega, sua praga.

doutorboacultural.blogspot.com/

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