Pensem num
cara chato. Mas, pensem num cara chato mesmo. Aquele que, a natureza humana
ainda não conseguiu desvendar o “por que” de sua existência. Um ser que vive
por acaso, sabem? Uma criatura que não se toca que já foi tocado, empurrado
pela vida. Um personagem capaz de assustar e botar pra correr a própria morte;
uma figura impertinente, sem nexo.
Setubaldino
era um homem irritante demais, sô! Vivia dando uma de palhaço para chamar a
atenção das pessoas, arrancar risos delas, porém, nunca conseguiu isso.
Gente que
fala demais irrita. Setubaldino falava até mesmo quando defecava. Desde
nenenzinho, quando descobriu o poder da língua, lascou-se tudo. E o sujeito
tinha a língua presa, sua voz suava assim com um “s”, e era muito irritante de
ouvir.
Bobin era um
cachorro bravo que morava bem ao lado da casa de Setubaldino. O cão babava de
tanta raiva quando Setubaldino o irritava.
-
Cas-sorinho querido, por que late tanto, mocinho? Estou as-sando que tu queres
um ossinho. Queres um ossinho? Deis-as o titio ver se tem aqui em minha bolsa
um ossinho pro mocinho.
E Bobin
parava de latir na hora. Ficava com as orelhas em pé e nem sequer piscava os
olhos, enquanto Setubaldino mexia na bolsa.
- Síí! Titio
não as-sou ossinho, au, au! Mas, tem halls. Quer halls? Tem halls. Quer halls?
E Bobin
babava, mordia o portão de tanto ódio desse cara. Pra que irritar o
cachorrinho, sua praga?
Por milagre
do destino, Setubaldino arrumou uma namorada. Coitada da menina! Aninha devia
estar muito carente ou com chulé cerebral quando se uniu com um cara infernal
feito Setubaldino. Caracas, meu! Aninha era bonita demais. Surgiu um comentário
de que ela caiu de um prédio de vinte andares, bateu a cabeça, mas, sobreviveu.
Num domingo,
Setubaldino levou Aninha ao cinema e, no caminho, como sempre, não parava de
falar.
- Amor, esse
filme que vamos ver, eu já vi doze vezes. O cara mata sua mulher no final e,
ela, em espírito e em verdade volta para vingar sua morte. Ele já havia se casado com a irmã dela, que na verdade, era irmã dele, filha do padrasto dela, entendeu?
Que cara
chato, gente! Era véspera de Natal e, Setubaldino presenteia Aninha.
- O que será que tem, hein? Uma dica: Com ele você pode falar por tempo ilimitado gastando apenas vinte e cinco centavos. O que será que é, hein? Você tem que adivinhar para ganhar.
- O que será que tem, hein? Uma dica: Com ele você pode falar por tempo ilimitado gastando apenas vinte e cinco centavos. O que será que é, hein? Você tem que adivinhar para ganhar.
E Aninha,
muito feliz diz:
- É um
gravadorzinho.
Setubaldino
ri feito um retardado.
- He! He!
Não é! Não é! O que será que é? É um ce... é um ce...
- Um sebo de
carneiro.
- Não é! Não
é! O que será que é? É um ce... é um ce...
- É um
Setubaldino bonequinho.
- Não é! Não
é! O que será que é? É um celu... é um celu...
- É um
Celulari Edson.
E de tanto o
retardado de Setubaldino ficar balançando aquela caixinha, cai no chão e
quebra.
- Quebrou
amor, porque você não acertou.
E Aninha
abre a caixinha e diz chorando.
- Eu sabia
que era um celular desde o princípio. Agora quebrou, danou.
- Danou
nada. Darei-lhe outro se casares comigo agora.
Setubaldino
e Aninha se casaram numa igreja evangélica. O pastor ganhou um troco legal
desse chato, pra o deixar fazer uma declaração de amor para Aninha, no
microfone.
- Alô, som.
Atenção, som. Amor, I love you é pouco, Marisa. Darei à minha amada muito mais
do que o céu, Roberto. Darei o céu, o mar, o chun, chun, chun, o chá, chá,
chá...
E bem
naquele momento, assim prega a história, cai um meteoro da paixão naquela
igreja e o baque foi tão forte que não sobrou ninguém. Matou todos.
Setubaldino
acordou no inferno vendo o Diabo e sua equipe de demônios chupando sorvete de
fogo e enxofre, mas, ficou assustado de vez quando viu vindo em sua direção
Bobin, aquele cachorro, lembram? E Bobin babava de tanta raiva e dizia:
- Agora eu
te pego, demônio!
Vixi! Sai
dessa agora, Setubaldino. Corra porque o bicho te pega, sua praga.
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