Meu nome é Merdanácio. Se meus pais estivessem vivos, juro
que eu iria dá-los umas cabaçadas de pau pelo fato de terem me dado este nome.
Fui criado por Jocréia, minha avó materna, surda, muda, cega
e aleijada. Cansei de comer arroz e feijão doce e saladas de pepinos com mel.
Quando a velha morreu, eu já tinha 16 anos. Dei graças por morar sozinho e,
poder preparar meus alimentos.
Eu morava num sítio perdido no sertão do Mato Grosso e, a
vendinha única e mais próxima dali ficava a 8 km, até que não era tão longe pra
quem tivesse um carro, uma moto, uma bicicleta, um avião, um trem ou um cavalo,
seu idiota. Eu tinha apenas pernas e pés para chegar até lá, caso precisasse
comprar alguma coisa.
Certo dia, quando eu cozinhava arroz e feijão, faltou sal.
Não havia sequer um vizinho naquele deserto dos infernos que pudesse
emprestar-me uma xícara de sal. Fui até a vendinha do Zé Cochilo e, chegando
lá, ele estava cochilando, é claro. Quase derrubei a porta da vendinha de tanto
dar pontapés. Zé Cochilo despertou e me vendeu o sal.
Quando eu voltava pra casa, no sítio, formou um temporal da
porreta condensada no céu e fiquei com muito medo. Ventava, raiava, trovejava
e, é claro que chovia, sua anta. Eu, todo molhado, fui atingido por um raio. O
sal foi pro espaço ou voltou pro mar, sei lá, porém, eu sobrevivi. Cheguei em
casa mancando e, pra não cair de tanta fraqueza, comi arroz e feijão sem sal.
Pois é, minha vida do zero aos 20 anos foi marcada por muito
azar. Eu trabalhava na roça, cortando cana e, não tinha tempo de estudar e
também não havia escola naquele deserto. Longe do sítio, pelo menos, a uns 20
km havia um baile e, eu precisava arrumar uma namorada para clarear minha vida.
É impossível, um sujeito ficar e viver sem mulher.
Bati os olhos em Heloise Cristina e ela bateu seus lindos
olhos em mim e, começamos a namorar. Todos olhavam pra gente, principalmente os
rapazes, pois, Heloise Cristina era muita areia pro meu caminhão. Eles morriam
de inveja.
Heloise Cristina, se não era, parecia ser uma deusa. Pele
macia, feito bumbum de bebê, olhos tão verdes feitos cebolinhas com alface e
agrião, lábios suaves e doces como o mel e melado, corpo esbelta feita uma
girafa. Que mulher linda, Jesus! Casei-me com ela.
Heloise Cristina era a rainha do lar. Não a deixava, sequer,
lavar uma caneca de leite pra não danificar suas mãos delicadas, macias e
lindas. Quem fazia a faxina de casa era eu. Chegava da roça com calos nas mãos
e nos pés, com dores lombares e bundares e, ainda cozinhava para o meu amor. Eu
a amava demais.
Num domingo, meu amor, Heloise Cristina, declarou-me que
estava grávida. Dei pulos feitos pulguinhas crianças de tanta alegria. Disse
que tinha desejo de comer macarronada à grega. Fui preparar para ela e, cadê o
sal? Fui até a vendinha de o Zé Cochilo
comprar o sal. Quando eu voltava, formou uma gigantesca tempestade. De novo
não, Pedrão! Bateu um raio na minha cabeça e fiquei desacordado debaixo de
chuva, sabe-se lá por quanto tempo. Sobrevivi e, quando acordei, o quilinho de
sal estava a meu lado. Voltei pra casa e, deparei-me com uma velha tão feia
feita a carniça vomitada do urubu. Calculei que devia ser minha sogra, mãe do
meu amor. A velha era de assustar.
Perguntei a ela:
- Quem é a senhora? Onde está minha Heloise? Desde quando
está aqui? De onde surgiu à senhora?
Aquela bruxa me diz sorrindo:
- Você bebeu, amor? Eu sou Heloise Cristina, o amor da sua
vida.
Botei aquela velha imunda pra correr a pauladas, porque ela
não queria ir. Por pouco não a matei. Gritei dia e noite por minha Heloise
Cristina, mas, nunca mais ela voltou.
Pra encurtar a minha história, eu pergunto pra vocês: Heloise
Cristina era ou não aquela velha? Fui vítima de dois raios na cabeça e, hoje
estou louco. Ajudem-me.
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