Vida de trecheiro é triste, gente. Não tem parada e, quando
para, logo tem que se retirar da parada e, eu explico por que. Paga um preço
muito caro por isso, nas suas andanças. Suas roupas começam a feder devido ao
suor de seu corpo e, ele, parando em hoteizinhos
de quinta, do tipo ralés, mocós, é
expressadamente proibido sequer lavar uma cueca, um par de meias, quem diria
uma camisa ou uma calça.
O trecheiro em seu quartinho humilde acende um cigarrinho
para se relaxar, pensar no trecho do dia seguinte e, os hóspedes, seus vizinhos
de quarto já reclamam do fedor da fumaça.
No dia seguinte, a camareira dopada feito um sapateiro, vai
limpar o seu quartinho, passar um paninho e, já protesta:
- Que fedor da peste é esse, menino?
O miserável compra aquelas varetinhas de incenso indiano para
perfumar o seu quartinho, mas, o problema aumenta. Perfume na carniça, o padre
cancela a missa.
O coitado chega cansado do trecho, às vezes, molhado feito um
cachorro na chuva, em seu quartinho, tira suas botas guerreiras e, já vem o
porteiro batendo em sua porta convidando-o a se retirar do recinto.
O trecheiro sofre, gente. O chulé domina e predomina e,
quando é demais, fede bosta. Catinga
macumbeira de primeira. Cheirem para identificar. E o sovaco do trecheiro chega
num ponto, que nem sabão de côco, meu irmão. Sua cueca cola no cú feito
chiclete na dentadura do vovô e, olhe quem vem vindo lá: o vento. Sim, passou
por ali e, rindo, o miserável do vento que levou o fedor do trecheiro, mas,
também deixou. É como se fosse o diálogo de dois amigos:
- Vá com Deus, amigo.
- Fique com Deus também, amigo.
Nas andanças do trecheiro, é evidente que ele pega tudo o que
é tipo de pereba, principalmente nos pés. Chulé ainda é chique, pior são as
frieiras, esporões, rachaduras, joanetes, feridas, olho de peixe e outras. Sua
coceira vira sarna. Seu sangue se contamina de tanto comer salgadinhos em
promoção. Seu estômago arde mais do que um cú doce no formigueiro. Quando o
trecheiro peida, aquele gás vem carregado de frituras das antigas e quando caga
então, o ossinho da coxinha entala na privada e aí, minha amada: Pensem num
fedor de bosta.
Ninguém quer um trecheiro a seu lado, porque ele é uma
espécie assim de fedor ambulante.
Vida de trecheiro é triste, gente.
doutorboacultural.blogspot.com/
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