Maria das Dores era uma mulher religiosa e fanática ao
extremo. Congregava numa igreja evangélica bastante avivada e de doutrina
rígida. Segundo os preceitos desta doutrina, ter em casa ou no trabalho um
televisor, um rádio, um computador, etc., era pecado. Praia, futebol,
maquiagens, pintar as unhas das mãos ou dos pés, era proibido, menos o dízimo
dos amados, porque isso era sagrado.
Lamentavelmente, e isso é sério: no mundo moderno, o qual
vivemos hoje, aquele que não tem um televisor, ou um rádio em sua casa, é
considerado, ao menos para mim como um bicho
do mato. E era exatamente assim que vivia Maria das Dores.
Maria das Dores vivia clamando, clamando, dando glórias e
glórias a Deus, para que este tivesse misericórdia de seu marido alcoólatra e
seus oito filhos perdidos nas drogas e na prostituição. Orava fervorosamente e
de voz alta incomodando até mesmo o sono dos cachorros da vila, os quais
trabalham o dia inteiro e, à noite querem descansar, caramba.
Mário Bento, marido de Maria das Dores morreu alcoolizado.
Ela acreditou que Deus quis assim para que ele não sofresse mais.
Arantes, um dos seus filhos traficante e também cadeirante
morreu nas mãos de um Almirante. Olhem só com quem ele foi mexer.
Peixoto, um dos seus filhos foi encontrado morto no esgoto.
Cheirou tanta cola que morreu na sola.
Augusta, uma de suas filhas, era prostituta e acabou morrendo
numa gruta. Pode ser perigoso fazer amor lá.
Maria das Dores clamava, clamava e dava glórias e glórias
achando que tudo isso era permissão de Deus. Era analfabeta, mas, mesmo assim,
andava com a Bíblia debaixo do sovaco e, sua hora mais sagrada era a do culto.
Lá ela encontrava seus irmãos de igreja e colocava as fofocas em dia. Era
revelada pelo pastor e tudo mais.
Sucedeu que numa noite, enquanto Maria das Dores e mais
noventa e nove irmãos da fé estavam no culto, orando fervorosamente, caiu uma
chuva tão forte, mas, tão forte que, não tiveram sorte e esta foi a causa
morte. Caiu um raio do céu dentro daquela igreja e não sobrou ninguém. Nem um
nenê para contar a história.
Orar é uma atitude bonita daquele que tem fé. Mas, é
importante lembrar que Deus conhece todos os nossos pensamentos e isto desde o
nascimento. Não é necessário orar alto, porque, além disso, ser um absurdo,
Deus não é surdo. Repetitivas palavras podem não significar nada para Deus.
Pensem bem, fanáticos, antes de clamarem, clamarem e dar glórias e glórias e
esta é mais uma das minhas histórias.
( HISTÓRIAS DA VELHA GLÓRIA 3)
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