Certa vez, entrou em meu consultório um rapaz, aparentemente
muito bonito, de nome Cresmaldo Pinto de Jesus Júnior. Preferi chamá-lo de
Júnior.
- Bom dia, Júnior! Tudo bem com você?
- Se estou aqui é porque não está tudo bem comigo.
- Qual é o teu problema?
- Eu não tenho mais problemas. Estou morto.
- Isso é pessimismo, menino. Você é jovem, bonito e tem uma
vida inteira pela frente.
- Eu sou feio.
- Você quer dizer-me que é feio por dentro?
- Por dentro e por fora, eu sou feio.
Giré, meu Deus! Aquele jovem tirou a sua máscara e, fiquei
sem saber o que dizer. Eu podia jurar que ele não estava usando máscara. Era
horrível e assustador.
- Então, Dr. Boa, o que tem a me dizer? Seja sincero: sou ou não
sou feio?
Ás vezes entendo os mentirosos, porque há situações na vida
em que é difícil falar a verdade, porém, fui sincero com ele, já que me pediu
para ser.
- Sim, você é feio, porém, tenho coisas lindas para lhe
dizer: a beleza exterior não importa. O que importa são os valores que você tem
por dentro.
- Não tenho valores dentro de mim.
- Procure tê-los, ora! Isso sim é moral e o que realmente
importa para Deus.
- Alguém que mentiu a vida toda e, pior do que isso:
abandonou esposa e filhos, é possível que ainda tenha alguma moral?
- Sim. Alguém que mentiu no passado, que abandonou esposa e
filhos, sem dúvida, não tinha moral quando fez estas coisas, porém, o pecado
traz conseqüências pesadíssimas na vida de um errante. Não pense que este
alguém levou vantagem na vida por fazer isso. Só que nunca é tarde para se
arrepender e recomeçar uma nova vida.
- Bem, tudo isso que me disse é muito bonito, porém, para mim
não serve mais.
- Mas, por quê?
- Você não está morto, querido. Está desempregado?
- Há séculos. Eu sou muito feio.
- Bem, já falamos sobre isso. Já pensou em arrumar um
trabalho no mundo artístico para assustar as pessoas, de brincadeira, é claro?
- Isso é ficção. É mentira.
- Não, meu caro. Obras de ficção são arte e, nada tem haver
com mentira.
- Então, o que você é?
- Dr. Boa.
- Acaso, está de máscara?
E nós dois choramos muito. Não vi como aquele jovem saiu do
meu consultório. Talvez, ele nunca esteve lá.
Somos todos personagens de uma vida mística, onde ninguém,
absolutamente ninguém, tem a certeza de nada.
doutorboacultural.blogspot.com/
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