sexta-feira, 4 de abril de 2014

MÁSCARAS


Certa vez, entrou em meu consultório um rapaz, aparentemente muito bonito, de nome Cresmaldo Pinto de Jesus Júnior. Preferi chamá-lo de Júnior.
- Bom dia, Júnior! Tudo bem com você?
- Se estou aqui é porque não está tudo bem comigo.
- Qual é o teu problema?
- Eu não tenho mais problemas. Estou morto.
- Isso é pessimismo, menino. Você é jovem, bonito e tem uma vida inteira pela frente.
- Eu sou feio.
- Você quer dizer-me que é feio por dentro?

- Por dentro e por fora, eu sou feio.


Giré, meu Deus! Aquele jovem tirou a sua máscara e, fiquei sem saber o que dizer. Eu podia jurar que ele não estava usando máscara. Era horrível e assustador.
- Então, Dr. Boa, o que tem a me dizer? Seja sincero: sou ou não sou feio?
Ás vezes entendo os mentirosos, porque há situações na vida em que é difícil falar a verdade, porém, fui sincero com ele, já que me pediu para ser.
- Sim, você é feio, porém, tenho coisas lindas para lhe dizer: a beleza exterior não importa. O que importa são os valores que você tem por dentro.
- Não tenho valores dentro de mim.
- Procure tê-los, ora! Isso sim é moral e o que realmente importa para Deus.
- Alguém que mentiu a vida toda e, pior do que isso: abandonou esposa e filhos, é possível que ainda tenha alguma moral?
- Sim. Alguém que mentiu no passado, que abandonou esposa e filhos, sem dúvida, não tinha moral quando fez estas coisas, porém, o pecado traz conseqüências pesadíssimas na vida de um errante. Não pense que este alguém levou vantagem na vida por fazer isso. Só que nunca é tarde para se arrepender e recomeçar uma nova vida.
- Bem, tudo isso que me disse é muito bonito, porém, para mim não serve mais.
- Mas, por quê?
- Você não está morto, querido. Está desempregado?
- Há séculos. Eu sou muito feio.
- Bem, já falamos sobre isso. Já pensou em arrumar um trabalho no mundo artístico para assustar as pessoas, de brincadeira, é claro?
- Isso é ficção. É mentira.
- Não, meu caro. Obras de ficção são arte e, nada tem haver com mentira.
- Então, o que você é?
- Dr. Boa.
- Acaso, está de máscara?
E nós dois choramos muito. Não vi como aquele jovem saiu do meu consultório. Talvez, ele nunca esteve lá.

Somos todos personagens de uma vida mística, onde ninguém, absolutamente ninguém, tem a certeza de nada.



doutorboacultural.blogspot.com/

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