sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O VELHO E A JOVEM



Patrícia era uma moça muito linda, educada e simpática. Filhinha de papai, querida por todos. Universitária, inteligente que só a peste. Cursava administração de empresas e já estava para se formar. Seus pais, parentes e amigos se orgulhavam dela.

A jovem lourinha dos olhos tão verdes quanto às matas do Amazonas tinha apenas 23 anos. A rapaziada fazia fila quilometrada para pedi-la em namoro, porém ela, simpática que só a peste sorria para cada um deles e dizia:

“Já sou comprometida. Esqueça-me”.

Epa! Epa! Quem seria seu namorado misterioso? Alguns imaginavam e diziam: “É um lord. É um príncipe. É o dono das casas Bahia, etc.”.

Patrícia era cobiçada até pelos anjos do céu de tão linda que era. Só que a gata não era exibida não. Quando ela percebia que a festa estava se animando demais se retirava deixando simplesmente seu perfume pelo ar. E ela era cheirosa que só a peste. Se a moleca soltasse um peido já vinha uns quatro querendo encubá-lo.
No dia de sua formatura até o Papa esteve lá. Michael Jackson, John Lennon, Cazuza também estiveram, porém, em espírito. Para surpresa de todos ela aparece abraçada com um velho tão feio feito o capeta do inferno. O velho era desengonçado, barrigudo e tinha um bundão que arrepiava até a galera do funk. A figura tinha dentes estragados e podres na boca.


Pais, parentes e amigos da jovem Paty ficaram chocados com a tal cena: “Quem é este velho? Será que essa imundície é o dono das Casas Bahia ou será que é  o desastre da nossa família?” E os comentários eram muitos. Paty pega um microfone e fala em voz suave para todos os presentes:

- Gente! Esse é o homem da minha vida! Para ele dou ei de dar e darei tudo de mim. Ele não é rico não, mas, conseguiu comprar o meu coração.

O povo ficou tão indignado que promoveu naquela festa de formatura uma guerra sem frescura. Voavam garrafas de cervejas, champanhes, copos e taças num único objetivo: acertar o alvo e o alvo era o velho. Queriam exterminar aquela imundície da festa e, principalmente da vida de Paty. E os comentários eram muitos: “O que é que a droga não faz?! Será que Paty se perdeu nas drogas? Que nada! O velho é o dono das Casas Bahia”.

Naquele tumulto de voação de copos, taças e garrafas o velho e Paty sumiram daquela festa. Foram mais ligeiros do que um peido soltado junto de um espirro. Ninguém escuta o peido, pode apostar.

Os pais de Patrícia se enfartaram juntos, na mesma hora. Não se sabe como é que eles fizeram isso. Freud explica? Não sei.

Onde é que aquele trapo se escondeu com a jovem encantadora Patrícia? A polícia foi acionada e a procura foi grande: ruas, avenidas, bares e em todos os lugares e nada. Sumiram feito fumaça. Os amigos de Paty contrataram um detetive inglês e o homem era bom: achava até areia no deserto e o desaparecido Roberto. Depois de um mês de sérias investigações o detetive matou a charada: foi tão simples como matar uma barata. Reuniram parentes e amigos da jovem Paty e disse-lhes:

- O velho e a jovem estão morando aqui mesmo na vila. Eu diria mais do que isso: estão morando naquela humilde casinha de sapé ao lado daquela mansão.

Peraí! Ele apontou para a mansão dos falecidos pais de Paty. Ao lado dela realmente tinha uma casinha de sapé e, para surpresa de todos o velho e a jovem Paty estavam lá mesmo. Invadiram aquela humilde casinha pela madrugada e pegaram o velho de pijama. Deram-lhe uma surra da peste e capturaram Paty levando-a para a mansão. Não adiantou nada. Foi só amanhecer o dia e a jovem apaixonada volta para os braços do velho que, mesmo com dentes podres na boca tinha um sorriso bonito.

O povo se revoltou de vez e a ordem agora era matar o velho. Foram até a casinha de sapé três capoeiristas e lhe deram outra surra e nada do velho morrer. Chamaram o Paulo ´Paulada e nada; até o Cipó foi chamado e nada do velho morrer. Foi quando gritou desesperado o tio de Paty:

- Chamem o Rambo.

Outro tio dizia:

- Mas Silvester está longe.

Pois é: nem mesmo o Rambo conseguiu derrubar aquele velho que, quanto mais apanhava mais sorria. As forças armadas do Paraguai também fora chamada, mas nada. A jovem Paty rasgou o seu diploma na frente de todos e disse emocionada:

- Não preciso desta porcaria se tenho ao meu lado o homem da minha vida, o pai da minha alegria. Com ele passarei a minha eternidade.

E os parentes e amigos de Paty choravam muito. O que teria acontecido com aquela jovem tão inteligente e tão linda Giré, meu Deus?
 Aquele velho desdentado parecia a encarnação do demo, o perfume exuberante da carniça, o Black Sabbath da missa, o desespero do bezerro indo para o matadouro pra virar salsicha, o sanduíche do pobre: pão sem lingüiça.
Tentativas de matar aquele velho foram muitas. Fazer o que? O velho era mais sadio do que um nenê peidão. A praga não morria não.
Para surpresa de todos, numa manhã de natal dois corpos foram encontrados num matagal: o diabo do velho e da jovem Patrícia. Estavam abraçados e afirmam até hoje que estavam dormindo um sono tão profundo que jamais acordariam neste mundo. E, os comentários eram muitos: “Quem era aquele velho? Aquele velho era quem? Afinal, quem era aquele velho?”.
Sábios do mundo todo afirmam que aquele velho era Deus, porque só ele pode todas as coisas. Como o dono do mundo tem manhas e artimanhas, se materializou num velho e conquistou a jovem Paty que abandonou tudo e todos e escolheu aquele velho para passar ao seu lado toda a eternidade. Sem dúvida, aquele velho não era fraco não.

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