sábado, 17 de novembro de 2012

MAVERICK AZUL



Marcus Vinicius era um grande músico. Um excelente pianista. Brasileiro, natural de Mogi Mirim (SP). Residia em Berlim, na Alemanha com sua esposa Olga e seus dois filhos Hanz e Ruth, todos alemães.
Movido por uma intensa saudade do Brasil, de sua terra e, principalmente de seus pais que, há dez anos não tinha notícias, resolveu matar tal saudade. Seus pais eram humildes agricultores e residiam numa pequena chácara na pacata cidade de Mogi Mirim.
Chovia muito forte quando Marcus Vinicius desembarcou no aeroporto Vira Copos, na cidade de Campinas, próxima de Mogi Mirim, sua terra natal. Resolveu se aventurar pela madrugada; pegar uma carona na estrada como fazia em sua adolescência. Não teve dificuldade. Logo parou um maverick azul e quem se surpreendeu foi ele.
- Valéria! Eu não acredito que é você.
- Pode acreditar que sou eu mesma.
Valéria era a sua amiga de infância. Cresceram juntos, porém, não se viam há dez anos. Nos 50 km rodados conversaram muito, matando a saudade dos velhos tempos.
- Seus pais estão bem Marcus e, por sinal, já devem estar acordados. Até qualquer dia.
E Valéria deixa Marcus Vinicius bem em frente à chácara e segue com o seu carro. Que surpresa maravilhosa! Os pais de Marcus já estavam acordados junto ao fogão de lenha preparando o café. Muitos abraços e lágrimas, pois, afinal, não se viam há dez anos.
Dona Lourdes, sua mãe, pergunta para Marcus:
- Como é que você conseguiu chegar tão cedo aqui, meu filho? Ônibus não circulam a esta hora da manhã.
- Vim de carona, mamãe.
- Mas, isso é muito perigoso. Quem te deu carona?
- A Valéria, a filha do João leiteiro.
Sua mãe sorri.
- Capaz! Valéria está morta e tem mais de cinco anos.
Seu pai, seu Joaquim confirma:
- É isso mesmo, meu filho. Entendo o que aconteceu com você. O importante é que está tudo bem agora.
Marcus estava inconformado.
- Não aconteceu nada comigo, meu pai. Eu não estou louco. Valéria me deu carona em seu maverick azul.
E seu pai confessa:
- Pois foi com esse tal de maverick azul que ela morreu na estrada há cinco anos quando vinha de Campinas para Mogi.
Marcus Vinicius não quis acreditar.
- Deve estar havendo algum engano. Só pode!
Uma hora depois, seu pai leva o filho ao cemitério e mostra a ele a sepultura de Valéria. Ele chora convulsivamente e diz:
- Não sei como! Ela me deu carona, meu pai!
Seu Joaquim o consola:
- Só os diamantes duram para sempre, meu único filho. Você não deu notícia suas e nem ficou sabendo de notícias nossas daqui. O importante é que agora está conosco. Venha comigo.
Andaram alguns minutos naquele cemitério, quando, de repente, seu Joaquim mostra outras duas sepulturas para o filho.
- Aqui jazz, eu e sua mãe, meu filho.
Marcus Vinicius sai correndo daquele cemitério e volta para a chácara. Ele estava totalmente confuso, sem absolutamente nada entender. Aquela casa estava abandonada. Mais confuso ainda ele fica quando vê na cozinha o fogão a lenha e sobre ele um bule de café, que, por sinal, estava quente. Ele sai correndo daquela chácara e teria que chegar até a rodoviária onde pegaria um ônibus para chegar a Campinas, depois um avião até São Paulo, e, finalmente, Berlim. A estrada, além de deserta estava em pura lama devido à chuva. Ele muito amedrontado, observa que atrás dele vinha um maverick azul. Dentro daquele carro estavam Valéria, seu pai Joaquim e sua mãe Dona Lourdes. Diz o seu pai com um olhar triste:
- Entre meu filho.
- Não. Eu não vou entrar.
Valéria sorri:
- Não tenha medo de nós. Estamos tão vivos quanto você.
- Eu estou vivo. Vocês estão mortos.
Seu pai aponta com o dedo e pede que Marcus olhe para frente.
- Olhe meu filho. A polícia está recolhendo o seu corpo da estrada. Você foi atropelado pela madrugada quando vinha para casa. Não tenha receio. Agora está tudo bem.
Marcus Vinicius entra naquele maverick azul que, desaparece pela a estrada de terra.

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