sexta-feira, 21 de setembro de 2012

UM MOLEQUE CURIOSO




Virgolino e Ferreira eram compadres e, por sinal, muito amigos também. Gostavam de uma prosa que só por Deus. Virgolino aonde ia, levava com ele o pentelho do seu neto Raimundo. Que moleque curioso, sô! Tudo ele perguntava, tudo ele queria saber. As prosas dos compadres aconteciam com freqüência na casa do velho Ferreira. Lá, arrastavam umas cadeiras e ficavam horas proseando e, Raimundo (o pentelho) de ouvidos bem afiados, não perdia nenhum detalhe da prosa.
Ferreira:
- Sabe quem esteve aqui mais eu em minha casa na semana passada, compadre?
Virgolino:
- Não faço idéia não, compadre.
Ferreira:
- O Sílvio.
E o moleque já aborda a prosa.
- O Sílvio Santos?
Ferreira:
- Não. O Sílvio Gonçalves, filho do compadre Agostinho e da comadre Maria.
E o velho Virgolino dá uma tapa na careca do neto.
- Sai pra lá, peste. Vai contar as estrelas, moleque curioso que tudo quer saber.
Ferreira:
- Pois é, compadre: o Sílvio toca um violão que não é brincadeira. Me fez até chorar e lembrar do Roberto. O Roberto ta sumido, né compadre?
E lá vem o moleque Raimundo de novo:
- O Roberto Carlos?
Ferreira:
- Não. O Roberto, filho do compadre Vicente e da comadre Maria.
E o velho Virgolino dá mais uma tapa na careca do neto.
- Suma daqui grude chulé! Vai plantar morango no nordeste, “fio” da peste.
Ferreira:
- Grande Roberto! O sonho dele era ser jornalista.
E lá vem o pentelho:
- Jornalista é quem vende jornal?
Ferreira:
- Quem vende jornal é jornaleiro, moleque. Jornalista é formado em jornalismo. Pesquisa e escreve fatos reais e transforma isso em notícia pra rádios, televisões, etc.
Desta vez, o moleque Raimundo não levou tapa na cara não, porque pergunta inteligente é sempre pergunta pra frente, entende?
Virgolino:
- E o Nenê? Dizem que ele tem um montão de filhos, né compadre?
Ferreira:
- O Nenê do falecido compadre Vicente ou o Nenê do falecido compadre Jacó?
Virgolino:
- O Nenê do falecido compadre Vicente. Parece que o cabra tem uns oito filhos.
E lá vem o intrometido do moleque Raimundo:
- Mas, nenê também faz filhos?
Desta vez, Raimundo (o pentelho) leva vários tapaços em sua careca. Seu avô Virgolino estava a ponto de se enfartar:
- Imundície! Escrôto do saco! Suma daqui cabeça de bagre! Vá ouvir Cauby cantar.
Ferreira:
- Esse teu neto é curioso demais, compadre.
Virgolino:
- Isso daí é pior do que ácido úrico, frieira, coceira, joanete e chulé no pé, compadre.
Ferreira:
- Tem que educar ele no cinto. Só tapa na careca vai deixar ele mais bobo do que já é.
Virgolino:
- O compadre tem razão. Já levou tanto tapas que uma veia do seu cérebro se soltou.
E o intransigente moleque Raimundo pergunta pros dois velhos:
- Qual de vocês dois que soltou um peido? Porque eu não fui e, olha que peido de velho fede, viu?
E Virgolino tiro o seu cinto e da uma surra da peste em seu neto, que diz revoltado:
- Não fui quem peidou, vovô!
Virgolino:
- Não está apanhando porque peidou e, sim porque perguntou. Quem peidou foi o compadre Ferreira.
Ferreira:
- Eu não! Aposto que foi tu quem peidou, compadre Virgolino.
E quando o gambá viu que os compadres entraram no tapa por causa dele, saiu numa corrida reta, sem curvas, sem pausa e muito menos sem olhar pra trás.

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