quinta-feira, 20 de setembro de 2012

LOS ANGELES





Sabe aquele sujeito mentiroso que, pra chamar atenção de alguém, conquistar alguém, tem por hábito, a mentira na ponta da língua? Aquele que leva todo mundo na lábia? Assim era João Luiz. O cara chegava num boteco, pedia uma pinga e ali ficava um bom tempo falando “abobrinhas” com outros bêbados. Ninguém dava mais crédito a suas palavras não.
João Luiz vivia literalmente “fodido”: fazia uns bicos como servente pedreiro, porém, o que ganhava, não cobria sequer as despesas do boteco que freqüentava assiduamente.
Um dia, logo pela manhã, João Luiz chega ao boteco e, ele estava bem alinhado: boa pinta. Parecia até um galã da Globo. “Xique no úrtimo”, e, ele não queria pinga não e nadinha que tivesse álcool. Pediu foi logo uma coca cola pro Zé Vicente, o dono do boteco que o estranhou.
- Vixi Maria, homem! Converteu-se ao cristianismo ou é gracinha mesmo?
João Luiz deu um sorriso tipo de “primeiro mundo” e disse-lhe:
- Nada disso, Zé Vicente. Consegui um excelente trabalho e ficarei três meses fora do Brasil. Estou indo para Los Angeles. Já ouviu falar?
E Zé Vicente o mediu dos pés a cabeça, e lhe perguntou:
- Los Angeles não é a capital do Paraguai?
E João Luiz dá uma gargalhada.
- Tá por fora mesmo, hein “nego véio”? Los Angeles fica nos Estados Unidos.
- Que chique João Luiz! Vai trabalhar nos Estados Unidos? O que vai fazer lá?
- Farei em Los Angeles um prédio.
E ele pede mais uma coca, depois outra e, depois, é claro: outra e, aquele papo se prolonga. Vai chegando outros botequeiros e, só se falava em Los Angeles.
Assim que João Luiz vira as costas para ir ver o novo trabalho, os botequeiros, incluindo o Zé Vicente descem o pau no nome dele.
- Esse cabra é um safado, mentiroso e vagabundo, gente!
- Vocês acham que uma praga dessa tem como ir para o estrangeiro? É mentira, é mentira e, digo mais: é mentira.
Parece que desta vez, João Luiz estava falando a verdade, gente. Ia realmente para Los Angeles. Parou até de beber. O bom dele era que, pelo menos, para sua mulher e filhos ele não mentia. E, em sua casa era só pura alegria.
- Pois é mulher, até que enfim, minha vida mudou e, digo mais: a tua e de nossos quatro filhinhos também. Chega de pobreza.
E Joana, sua mulher lhe pergunta.
- E aquele barato de passa porte, visto, como é que fica?
E diz João Luiz.
- Eu perguntei pro meu patrão e ele simplesmente sorriu e, isto me fez entender que o cabra já arrumou tudo para mim. Disse-lhe também que, a única coisa que sei falar em inglês é: “I love you” e, ele caiu na gargalhada e, isto me fez entender que ele vai mandar pros states comigo um intérprete.
Sua mulher ficou preocupada.
- Ou uma intérprete, não é meu amor?
E João Luiz ficou metido que só a peste. Chegava ao boteco do Zé Vicente sempre bem vestido e dizendo: “I love you babes”, tomava coca cola e dizia: “Eu vou para Los Angeles, não é “Os”, é “Los” Angeles. Que nojo de cara metido, sô! E os botequeiros o rodeavam:
- João Luiz, pretende levar a esposa e seus quatro filhos para os states também?
- Los Angeles é a terra da Disney?
- Se encontrar com Silvester lá longe, mande um abraço pra ele e diga-lhe que sou fã do Rambo.
- Diz para Ronald Reagan vir pro Brasil e que não se preocupe com diárias de hotel, pois, ele pode se hospedar em minha casa.
Pois é, tudo isso, gente, rolou em Guarapuava, interior do Paraná. Finalmente, chegou o grande dia da viagem para Los Angeles. João Luiz esta ansioso demais a ponto de querer tomar uma pinga para acalmar os nervos e matar tanta tensão. Chegou ao escritório do patrão com uma mala tão pesada feito barrigada de baleia ou bunda de elefante. Seu patrão lhe explica detalhes da viagem.
- João Luiz, Los Angeles, para onde você vai fica num bairro de Curitiba, capital do nosso Paraná. Você ficará por lá por uns três meses trabalhando na obra da Dinda, uma paraibana porreta de legal que, atualmente, mora num mocó simples e muito humilde. Lá num quartinho você ficará com mais uns oito peões (o problema será o chulé, né). Boa viagem.
Bairro de Curitiba? Obra da Dinda? Quartinho com oito peões? Por essa, João Luiz não esperava e digo mais: nem eu.


Nenhum comentário:

Postar um comentário