segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O CÃOZINHO BIJÚ




Era uma vez um cachorrinho pobre, sem dono, vira-latas, que vivia pelas ruas da cidade. Muito magrinho, bem raquítico mesmo, apanhava das cadelas e, principalmente de outros cachorros. Tadinho! Ele chorava feito um bezerrinho desmamado. Mendigava carinho e, um ossinho, até que cairia bem em seu estômago faminto. Mas, a população chutava seu traseiro e dizia: “Sai pra lá, cão vira-latas”. Que tristeza! Não o deixavam nem entrar na igreja para assistir uma missa. O pobrezinho ficava às vezes nas portas dos açougues na esperança de ganhar, ao menos, um pescocinho de frango. Saía dos açougues cada senhora com sacolão de carne que só provocava mais e mais suas lombrigas caninas. Mas, ninguém dava-lhe nada.
Aquele cãozinho não estava mais suportando viver. Subiu numa ponte bem alta e, pensou em pular, mas, não teve coragem. Atravessou uma BR super movimentada de olhos fechados e, não foi atropelado. Não foi sua intenção, mas, ele conseguiu provocar naquela BR muitos acidentes. Felizmente, ninguém morreu, porém, o estrago dos carros e, principalmente, dos ferimentos das pessoas foram feios. O cãozinho ficou com sua consciência pesada e chorou muito por causa disso. Passou em frente de um cemitério e entrou. Em cima de um dos túmulos, ele viu uma pratada de galinha caipira assada e, olha que tinha até maionese. Suas lombriguinhas caninas ferveram dentro dele. Até as pulgas e os carrapatos ficaram agitados e, quando ele abriu seu focinho para matar sua fome, ouviu uma voz: “Não faça isso, Bijú”. Ele estranhou: Bijú?!  Então, ele viu uma alma penada saindo de dentro daquele túmulo e ficou muito assustado. Que alma penada feia! E a alma penada dizia para o cãozinho:
- Em vidas passadas eu fui sua dona. Você já foi pastor alemão, pitbull, rotweiller e até puldo. Só que você só fazia maldades. Comia do bom e do melhor e ainda mordia as bundas das pessoas. Por isso é, que nasceu cão vira-latas nesta vida: para aprender a ser humilde. Não toque nesta oferenda e, tire os olhos dela, pois ela, não te pertence. Procure uma senhora de nome Dona Nena, na Rua dos Prazeres s/n, é a última casa de uma rua sem saída. Esta mulher vai te adotar. Vai te dar muito carinho. Não precisa falar nada, porque, aliás, você não sabe falar mesmo. Fique lá, bem em frente à casa dela abanando seu rabo e, logo ela vai abrir o portão e recolher você para dentro. “Te dará o nome de Bijú”.
O cãozinho não gostou nem um pouco desse nome “Bijú”, mas, saiu correndo para esse tal endereço. Depois de três dias, ele encontrou finalmente. Estava com uma fome da bexiga. Ficou por quase uma hora abanando seu rabo e, de repente, quem vem lá? Dona Nena, uma velhinha bem velhinha mesmo. Ela lhe deu a maior das recepções.
- “Bijú! Que coisinha linda! Deve estar com fominha. Vem, meu docinho. Mamãe vai lhe dar um bregdézinhos”.
Bregdézinhos?! Que coisa seria essa?!” Pensou Bijú. Vixi Nossa Senhora das lombrigas que choram! Dona Nena era vegetariana. Os “bregdézinhos” eram uns bolinhos de couve com jiló tão amargo feito fel. Ele odiou esses bolinhos, mas, teve que engolir para não fazer desfeita.
Bijú foi se acostumando aos poucos com sua nova vida e, acabou se convertendo de vez ao vegetarianismo. Dona Nena fez um teste um dia com Bijú, jogando no chão umas tripinhas de galinha e, ele nem sequer cheirou. Até suas “lombriguinhas caninas” se converteram ao vegetarianismo e, boa.
Bijú, agora, era um cãozinho dócil, não tinha raiva de ninguém, como nunca teve antes e, não perdia tempo com latidos. Latir pra que? Tudo para ele era alegria. Amava as crianças, os jovens e, até mesmo os velhinhos. Ninguém no mundo era mais importante para ele do que sua dona, que não tinha família.
Numa manhã de domingo, como sempre, Dona Nena preparava uma macarronada com jiló e repolho cozido que Bijú adorava. E, Bijú estava ansioso esperando sua dona acordar para preparar o rango, é claro. E nada da velha levantar da cama. As horas foram se passando, se passando e, nada. Bijú ficou preocupado e foi até o quarto da velha. Que tristeza! Dona Nena estava morta. Ele, apavorado, corre para uma vizinha próxima e começa a latir em choro. A vizinha entende e corre para a casa de Dona Nena. Tarde demais. Não tinha mais nada o que fazer. Ela estava morta.
Bijú não comeu naquele dia, nem no dia seguinte e, recusava comer aquilo que não fosse dado por Dona Nena. Ele chorava muito de dia e de noite com saudades da pessoa mais importante de sua vida. Infelizmente, ele acabou morrendo em cima do túmulo de Dona Nena.


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