quarta-feira, 18 de julho de 2012

UM VELHINHO HUMILDE


Consultei outro dia um senhor bastante idoso e fiquei admirado com o tamanho da sua humildade. Engraçado, geralmente, pessoas, na regra geral, que são conformistas diminuem tudo, até mesmo a vida. Acompanhem.
DR. Boa:
- Como é o seu nome?
Ele:
- Pode me chamar de Nelinho, por causa que o meu nominho é muito complicadinho.
DR. Boa:
- Sem problemas, Nelinho, mas, como eu admiro também os nomes complicados, por curiosidade: qual é o seu nome?
Ele:
- Nelo.
DR. Boa:
- Realmente, é um nome complicado. Qual é o seu problema, Nelinho?
Nelinho:
- Eu tenho uns probleminhas como todo mundo tem, né Doutorzinho Bonzinho, porém, nós vamos levandinho e tocandinho a vidinha com seus porénzinhos e tudinho vai se ajeitandinho, né?
DR. Boa:
- Porém, quais são seus probleminhas?
Nelinho:
- Eu tenho uns filhinhos que até que já são meio crescidinho, só que eles não quer ir tocandinho a vidinha e sugam todinho o meu dinheirinho da minha aposentadoriazinha. Eu queria tanto que eles arrumasse um trabalhinho e fosse trabalhandinho pra pelos menos garantir o leitinho e os docinho dos meus netinhos.
DR. Boa:
- Quantos filhos o senhor tem?
Nelinho:
- Tem o Vicentinho, o Rubinho, o Fernandinho, o Celsinho, a Lucinha, o Robertinho, a Selminha, A Wilminha. Acho que no totalzinho dá uns oitinho. Não são todos vagabundinhos não, mas, a maiorinha é, doutorzinho.
DR. BOA:
- Não sou doutorzinho, sou um Doutor.
Nelinho:
- É verdade mesmo, doutorzinho. Por enquanto eu vou levandinho a vidinha que o paisinho do céu me deu né? E chamandinho pelos anjinhos que me derrame umas bencinhas, e boa, mora?
Confesso que me assustei. De repente, aquele velhinho humilde começou a falar em gírias e me assustei. Parecia estar incorporado pelo espírito do Raul, o Seixas.
DR. Boa:
- Mas, em que posso ajudá-lo, Nelinho?
Nelinho:
- O negócinho é o seguintinho, doutorzinho, tô no baratinho de dar uns rolezinhos pelos mundinhos de Deus.
DR. Boa:
- Não seria “deusinho?”
Nelinho:
- Não, porque Deus já é meio grandinho, né tiozinho?
Essa já foi demais. O velho com a idade de ser meu avô me chamando de tiozinho?
DR. Boa:
- Tiozinho?! Não sou tio de ninguém e muito menos do senhor. Acho uma boa idéia o senhor dar um rolezinho sim, vovô. Aceita um café?
Nelinho:
- Mas é cafézinho?
DR. Boa:
- Sim, é cafézinho.
Nelinho:
- Mas é café ou cafézinho?
DR. Boa:
- Cafézinho.
Nelinho:
- Mas, tiozinho...
Dei um murro na mesa e por pouco não quebrei meus dedos.
DR. Boa:
- Vai tomar ou não, vovô?
E aquele velhinho tomou umas três xícaras do meu café curtido a vapor “raspe fora”. Rajadas de peidos multiplicativos fizeram com que ele fosse embora.
Pois é, gente, nem sempre posso ajudar a todos. Fiquei pensando: o que será que eu poderia fazer para ajudá-lo? Afinal, o que será que ele queria? Mas, desconfio que ele ainda volta.

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