terça-feira, 24 de setembro de 2013

SACANAGEM DOS ANJOS


O clima parecia ser bom no sul do Brasil. Nem muito frio, nem muito quente, entende? Sabe aquele “arzinho” fresco assim, que dá vontade na gente de fazer umas frescurinhas também? Viam-se nas cidades interioranas aqueles velhinhos comendo pipocas, estreando suas dentaduras e contando “causos”; as velhinhas assassinando as galinhas pelo pescoço pra fazerem uma canja da hora; as caipirinhas paquerando em fila os boys do circo que vieram das grandes cidades e elas adoram palhaços e palhaçadas; molequinhos vendendo picolés para torrarem todo o dinheiro que ganharem em fliperamas; casaizinhos apaixonados num grude de cheira e lambe bocas que da até nojo; o peão que chega do serviço e tira as botas de borrachas pra refrescar os pés cheios de feridas, frieiras, joanetes e chulé; cachorros apostando corrida com pilotos de motos; enfim, o clima realmente estava bom para todos.

Sucedeu que num desses dias de clima bom, ar fresco e tudo mais, uns anjinhos fresquinhos, malvadinhos que viam tudo do céu, resolveram fazer umas sacanagens com os humanos. Coitados dos terráqueos, gente.
Um homem, estilo galã de cinema, usava um lindo sobretudo, pois, parecia que a frescura do clima queria gelar e gelou mesmo por causa dos anjos. O bacana era paquerado até mesmo pelos homens barbados de tão chique, elegante e bonito que estava com aquele sobretudo. E aquele homem pisava até diferente, olhando com desdém pra muitos que batiam seus queixos de tanto frio, que usavam apenas camisetinhas ou aquelas camisas tergais finas sem graça. De repente, rápido feito um raio, mudou o tempo. Mas, foi uma virada radical mesmo. Baixou um calor tão forte daqueles de molhar cuecas e calcinhas, de fazer suar as axilas das vovós e sai de perto porque a coisa fede. E aquele bonitão ficou sem graça, é claro. O povo queria linchá-lo achando que ele era um psicopata. O que?! O povo o botou pra correr de sobretudo e tudo.
Como estava muito quente, a chinesada que não sorri nem mesmo para uma mosquinha simpática, tão séria feita uma aranha menina concentrada na mosca, neste dia, ria feita a hiena adolescente. É claro, suas lanchonetes estavam lotadas porque o povão queria tomar cerveja e, aliás, veja também pastéis e coca colas para as crianças. O que?! O tempo virou feito um virado, que, aliás, nunca vi algo que fosse mais virado do que um virado. A temperatura caiu tanto que aquelas cervejas explodiram nas mesas e, o povo entrou em pânico. As velhinhas reumáticas, com osteoporose e artrose foram pro pau. Morreram como morrem as goiabas. Pensem num frio. E passava pelas ruas sorrindo feito o inventor do Sonrisal, aquele homem do tipo galã e, desta vez, além de estar com sobretudo, usava um cachecol peludo da hora. Deixando esse babaca de lado, o que saiu de gente daquela lanchonete chinesa sem pagar a conta não foi brincadeira.
Na região nordeste brasileiro, cito especificamente, o sertão, não chovia há mais de um ano. Juntava toda aquela sertanejada numa reza fatal, forte feito trovão e nada de chuva no sertão. O sol, testemunha sádica tem o único prazer de queimar e queimava as bundinhas dos bebês. Os polaquinhos sofreram mais. E o povo queria chuva. O fedor dominava feito chulé de gambá e, fico imaginando a catinga que deve ter um escroto velho. Deve ser horrível.
Quem disse que os anjinhos não têm sentimentos? Se o povo queria chuva tiveram chuva. As nuvens celestiais entraram num clima de dancyn days da peste nordeste e pensem numa chuva. Choveu até prata. Foram quarenta dias e quarenta noites de chuva. O sertão virou mar na marra e as baleias sulinas comeram toda a sertanejada nordestina. Pensando por outro lado: morreram nadando e, isto, sem dúvida, é melhor do que nada.
A sacanagem dos anjos estava demais com os seres humanos da terra. Aproveitaram que Deus estava de férias, mas, um dia ele voltou, assim como o Roberto que parou em frente ao portão. Só que Deus fez diferente: delicadamente deu umas porradas numas nuvens passageiras que estavam embaçando a sua chegada e pegou os autores do clima em flagra.
- Seus sacanas! Imagino se vocês tivessem sacos, pois, a sacanagem seria dupla. Que prazer é esse de aborrecer meus bichinhos na terra? Sumam do meu reino, víboras asentas.
Deus não é violento. Deu apenas um soprinho e aqueles anjos foram parar no inferno, bem lá nos quintos. Fico imaginando se ele tivesse dado um tapa. Provavelmente aqueles anjinhos malvadinhos iriam parar nos sextos, sétimos do inferno. Sei lá.
E assim, a paz provisória voltou a reinar na terra. Só que, segundo a meteorologia do Diabo, esse arzinho fresco vai acabar, viu? Deixa escapar da prisão pra vocês verem.




doutorboacultural.blogspot.com/

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