segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O BOLO PRESTÍGIO DE LÚCIA




Sô! Um bolinho doce é bom demais, não é? Até as baratinhas gostam. Agora, uma coisa eu vou ter que dizer: Tem que ter mãos combinadas com o tal do “segredinho”, sô! A receita pode ser porreta, mas, se o cabra ou a cabra metidos a confeiteiros não acrescentar o tal do “segredinho”, o bolo vira bola e aí, lasca-se tudo.
Lúcia era uma adolescente esperta. Gostava de ler desde gibi até Jorge Amado. Tinha olhos de coruja, não piscava pra não perder o lance. A muleka pulava da cama, corria pro banheiro com um gibizinho ou uma revistinha e, vixi, sô! Arrumava até encrenca com seus irmãos pela demora no banheiro. Era um silêncio quase que total. Quer dizer, só se ouvia um “tlesc”. Era quando ela virava a folha do gibizinho ou da revistinha.
No tempo de Lúcia não tinha internet não, sô! Sua distração e entretenimento, além de ler, era olhar pro Nenê, seu irmãozinho que mais parecia uma besta. Ela ria do Nenê que dava gosto de ver, sô! De certo pensava: “Será que essa besta vai dar certo na vida, um dia?”
Lúcia era um mistério. Alguns achavam que ela, no futuro, ia ser uma escritora, talvez uma professora, outras uma economista, pois, ela gostava de contar um dinheirinho como ninguém, sô! Foi até tesoureira de banco, sô! Seus pais, irmãos e amigos ficavam boquiabertos vendo a agilidade de seus dedos contando dinheiro. Só se ouvia “tlesc, tlesc, tlesc e tlesc”.
A muleka cresceu e gostava de inventar coisas. Mais um pouco e Ana Maria Braga não seria tão famosa como é hoje, por causa de Lúcia. A danada fazia uma maionese que só pela misericórdia dos ovos, sô! Com certeza, ela botava um segredinho ali porque não sobrava nem um milímetro pra matar a fome da mosquinha que vinha voando de longe, mas, chegava sempre atrasada. O que, sô? A família de Lúcia era grande demais. O que esse tal de Nenê levou de tapas na cabeça para aprender a ter modos, não foi brincadeira. Ele lambia até o motorzinho do liquidificador. Não se sabe até hoje como é que ele conseguia fazer isso.
Um dia, Lúcia apareceu com uma idéia e chamou seu irmãozinho Nenê para lhe contar, porém, pediu segredo. Ia rolar um bolo ali, sô, diferente de todos. O problema maior era a vizinha Nena e sua renca de filhos. Nena e sua filharada tinham um faro feito cão quando a cadela ta no cio viu? E eles costumavam invadir a casa e, ninguém sabia o que é privacidade não, sô!
Os ingredientes saiam caro, sô! Milagrosamente, catando moedinhas daqui e dali, pronto: tudo indicava que surgiria um bolo nas próximas horas. Então, Nenê ia com a listinha no mercadinho do bairro do limão, onde moravam, com uma restrição de Lúcia: “Vigie se Nena não está te seguindo”. Nenê tinha umas perninhas fininhas e sabe-se lá se voava ou não. Ninguém o notava na multidão. Comprava tudo direitinho e, não é que ainda sobravam umas moedas para o tal pingo de leite? Até hoje, sô! O tal do Nenê adora esse pingo de leite que só a peste.
Quando Lúcia tava preparando a massa do bolo, quem vinha cheirando o ar? Ela mesma: Nena. E as crianças vinham atrás. Ainda bem que Lúcia e sua família moravam na última casa de um escadão, pois, assim dava tempo dela esconder o que estava fazendo. Que visita inconveniente, sô! Nena atacava o café, seus filhinhos pedindo doce e, não teve jeito. Enquanto não provaram do bolo de prestígio de Lúcia não saíram dali. E comeram bem, sô! Mas, houve muitas outras boladas e, dessa vez, longe de Nena e suas crianças famintas.

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