segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O CRENTE E O ATEU


 

Murilo e Marcos eram amigos desde a infância. Tinham uma amizade muito bonita, transparente e verdadeira. Tiveram destinos diferentes na vida: Murilo, aos 30 anos se formou em medicina e era um excelente neurologista; Marcos não estudou e, trabalhava desde menino como servente pedreiro. Ambos tinham a mesma idade.

Murilo era cético e ateu e, nunca se casou, ao passo que Marcos era crente religioso, casou-se com uma mulher cristã, a qual lhe deu duas filhas.

Um dos sonhos de Marcos era o de ver seu amigo Murilo converter-se ao cristianismo, porém, isso parecia praticamente impossível. Murilo afirmava ao amigo Marcos:

- Não adianta amigo, você nunca vai conseguir me convencer. Eu não creio nessa fantasia; nesse Deus imaginário, invisível e que nunca existiu.

- Saiba que esse Deus vivo existe e, um dia, espero que ainda em vida, você possa conhecê-lo.

- Você já viu esse Deus?

- Nenhum homem pode vê-lo, mas, pode senti-lo, pois ele é Onisciente, aquele que possui todo o conhecimento, toda a ciência; é Onipresente, aquele que está em toda a parte; e Onipotente, aquele que pode todas as coisas.

Murilo, às vezes, ficava irritado com este diálogo a respeito de Deus.

- O que existe, de fato, é a ciência, sua descoberta, seu conhecimento e sua evolução. Tudo isso não é confuso e, pelo contrário: é muito transparente. Não quero ofendê-lo, mas, você nunca estudou e, geralmente, pessoas que não estudam se prendem nesse ilusionismo; nessa crença inventada pelo homem da existência de Deus. Veja bem, não quero dizer com isso que somente aqueles que não estudaram creem em Deus. Tenho muitos amigos formados como eu que também, como você, creem na existência desse Deus, porém, eu não me prendo a estas ilusões.

Marcos ficava triste por não saber expressar palavras como o amigo. Simplesmente concluía:

- Um dia, você irá conhecer esse Deus.

Sucedeu que um dia, Marcos sofreu uma queda do 2- andar de um prédio em construção onde trabalhava como servente pedreiro. Feriu gravemente a sua cabeça e, ficou em coma por nove dias correndo risco de vida. Felizmente ele sobreviveu e, no leito do hospital tinha boas novas ao amigo Murilo.

- Estive morto por nove dias clinicamente, porém, lhe asseguro do que digo: estava vivo e num lugar lindo, bem diferente daqui deste mundo doentio. Não vi a face do meu Criador, porém, senti fortemente a sua presença; sua luz era muito mais transparente do que o sol. Confesso que, jamais, queria voltar para cá, meu amigo, mas, se voltei, não foi em vão. Creio que foi para lhe dar esta boa nova: Buscai a esse Deus enquanto ainda se pode achar.

Murilo sorria.

- Amigo Marcos, não estou zombando de você, eu juro que não, mas, como já lhe disse um dia: nunca irá conseguir me convencer a crer nesta fantasia. Desejo profundamente que você se recupere e, conte comigo sempre, porque não sou um amigo imaginário, invisível como é esse Deus que você tanto acredita. Sou real, visível e, seu melhor amigo.

Devido aos fortes medicamentos, Marcos adormecia ouvindo as palavras de Murilo.

- Os remédio que você está tomando são tão fortes feita a pancada que levou na cabeça e, por causa disso, você delira, exatamente naquilo em que acredita. Isso é normal. Trabalho com isso, você sabe.

Quarenta dias depois, Marcos recebe alta médica daquele hospital e volta para a sua casa, na companhia de sua mulher e filhas. Pelo menos duas vezes por semana, Marcos recebia a visita do amigo Murilo.

- Está se recuperando rápido, amigo e, graças ao milagre da ciência.

Marcos não concordava com esta teoria.

- Não descarto a medicina porque sei que ela é permitida por Deus, porém, primeiramente, dou graças a ele, que guardou a minha vida, não permitindo que eu morresse naquele dia. Ainda não era a minha hora.

- Deixe de ser fanático, homem! Você não morreu naquele dia porque teve sorte, só isso. Quando uma coisa tem de acontecer, ela acontece e, não tem força do além que possa impedi-la. Mudando de assunto, sua esposa e filhas estão tão doentes como você. Nem sequer me cumprimentaram.

Marcos se entristece e chora.

- Roguei tanto a Deus por você, meu amigo. Creio que deve estar sofrendo e muito, porque mesmo morto, continua brincando de viver.

Murilo se aborrece.

- Primeiramente, não estou sofrendo e muito menos brincando de viver. Estou vivo e, por sinal, muito mais saudável do que você.

Marcos olha triste para Murilo e o perguntas:

- Onde vai passar a eternidade, meu amigo? Num lugar lindo feito aquele que conheci ou num lugar como este em que está, que já não lhe pertence mais?

Murilo fica impaciente;

- Sinto em lhe dizer: você está louco. Não sabe o que diz. Quando eu fechar os meus olhos e morrer, tudo estará definitivamente acabado para mim.

Marcos diz suas últimas palavras.

- Você já fechou os seus olhos há duas semanas, meu amigo Murilo. Morreu num trágico acidente automobilístico quando voltava da farra com seus amigos que sobreviveram. Estive no seu velório e enterro. Seu semblante estava horrível. Você ainda não descansou e, sinto em lhe dizer que nenhum medicamento do mundo, nenhum milagre da ciência poderá ajuda-lo, porque você não pertence mais a este mundo. Espero e desejo profundamente que Deus tenha misericórdia da sua alma que vaga e, quem sabe um dia, possamos nos encontrar naquele lugar divino do qual lhe falei um dia.

Murilo sente tudo girar à sua volta e consegue ver nitidamente cenas chocantes do trágico acidente que sofreu. Ele entra em pânico. Percebe que está morto e grita apavorado até desaparecer.

Deus, o Autor de nossas vidas, não nos obriga a crer nele, porém, partir daqui, sem qualquer boa esperança, pode ser muito triste.

 
doutorboacultural.blogspot.com/

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