sábado, 20 de outubro de 2012

"ONDE ESTÁ JEOVÁ?"


Conta-se a história de que Jeová era um sujeito medroso, assustado por demais da conta, sô! Morava na capital paulistana, mas, vivia se escondendo de todos feito um bocó caipira do mato que era. Bastava Jeová ouvir bater palmas em seu portão e pronto: seu coração palpitava, acelerava e até sambava. Talvez ele achasse que era bandido por isso, vivia escondido.
A idade de Jeová “ocê” já perguntou de mais, sô! Uns diziam que ele tinha uns quarenta, outros sessenta e até uns oitenta, sô! O bocó não proseava com ninguém e vivia trancado dentro de sua casa. Com quem ele morava? Mas, que pergunta, sô! É claro que só. O caipira tinha medo de sexo e, caso fosse cantado por mulher bonita ou feia, ele fazia o sinal da cruz e, se bobear, até cruzava o sinaleiro de olhos fechados.
A vizinhança queria entender de onde surgiu essa “coisa”. Por não incomodar, seu silêncio já estava incomodando a vizinhança. Não se ouvia sequer um ronco, um peido de Jeová. Era um silêncio celestial do inferno, sô!
Sabe-se lá, o caipira misterioso devia ter um bom dinheiro guardado porque o cabra não trabalhava não.
Muitos curiosos, que levam a sério suas curiosidades felinas não agüentaram mais:>  queriam investigar a vida de Jeová. Disfarçados de crentes evangélicos, dois homens batem palmas no portão de Jeová. Vinte minutos depois, Jeová deixa transparecer apenas uma pontinha do seu cabeção. E dá-lhe palmas.
Dana-se tudo. Some a pontinha do cabeção e ele fecha a janela. Os curiosos ficam aperreados com isso e, no dia seguinte, voltam lá disfarçados de vendedores de verduras. Desta vez, nem sequer a pontinha do cabeção de Jeová foi vista. Que diabo de criatura ela aquela, meu Deus? Os curiosos roíam até as unhas dos pés de tanta inquietação.
Certo dia, fazia um frio da gota serena de Moscou em São Paulo e, Jeová vestia um sobretudo que não sobrava nada. Como ele era de baixa estatura só se via seu cabeção. Era como se o sobretudo estivesse andando sozinho pelas ruas. Ele não percebeu mas, estava sendo seguido por uma equipe de curiosos. E aquele homenzinho sobre e desce ruas, vira a direita, depois à esquerda e, opa! Entra numa agência bancária e fica lá por duas horas seguidas. Os curiosos não tinham dúvida: Jeová era um homem de negócios. Quando ele sai da agência bancária tinha câmeras por todos os lados. Até mesmo o fotógrafo profissional Fernando estava lá: Jeová pega um táxi que sai na correria. Por esta ninguém esperava, porém, os curiosos chegam a um veredicto: “Jeová está voltando pra casa”. Jeová não voltou não, sô! Desapareceu na real. Cinco dias depois, os curiosos não resistiram: invadiram a casa de Jeová e, o que é isso? Lembraram até daquela música: “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada; ninguém podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão”. Só que a casa de Jeová tinha teto e chão, porém, só isso. Não pensem em mobílias porque não tinha. Nem sequer um pinico havia nela e, o interessante era um cheirinho suave de perfume de borboletas francesas que pairava no ar. Como é que esse homem saiu com sua mobília, gente? Os curiosos ficaram tão atentados de tanta curiosidade que até entraram na porrada. Como é que sucedeu esse mistério, gente? Aquela casa (a casa de Jeová) era a mais vigiada do mundo.
Os curiosos (e eram muitos) fecharam a casa de Jeová e foram atrás de todos os taxistas de São Paulo. Vixi, santa batata que da vida a maionese! Os taxistas eram muitos e as respostas eram as mesmas, repetitivas e cansativas: “Vi não”; “Não vi”; “Peguei não”; “Não peguei”. Inconformados, os curiosos invadem a agência bancária e enchem de porradas o gerente e até os seguranças. Queriam saber de Jeová, só isso. O gerente levou uma surra da peste que até se cagou todo, gente. O tempo passou e, dois meses depois, os curiosos voltam à casa de Jeová e surpreendem. Opa! Ele não estava lá. Credo cruz, chulé de Jesus! Pra onde foi esse homem? E o interessante era sentir no ar da casa aquele cheirinho suave de perfume de borboletas francesas.
Os curiosos (e eram muitos) contrataram detetives, médiuns videntes, cartomantes, tarólogos, pai-de-santos, Padre Segredo, Bispo Pedir Mais Cedo, macumbeiros, feiticeiros, ilusionistas, Nenê e nada. Gastaram uma fortuna na captura de Jeová e nada. Um ano depois, eles voltam na casa de Jeová e ficaram surpresos, de olhos arregalados: Jeová não estava lá. Aquele cheirinho suave de perfume de borboletas francesas já estava irritando, sô! Entraram numa briga nasal da peste perniciosa de tanto cheirarem. Um dos curiosos cheirou tanto que conseguiu quebrar a “veinha” do seu nariz, responsável pelo olfato. Que caldo de batata doce era aquele Giré girei que a ti perguntei? Que bolo de fubá de Alah era aquele Giré girou que alguém te perguntou?
Os curiosos, finalmente, após gastarem todo o dinheiro na captura impossível de Jeová, caíram no lamaçal do sovaco pixaim e chegaram até mim, Doutor Boa, com uma única só pergunta: “Onde está Jeová?”
Doutor Boa Responde:
- A curiosidade matou o gato e, ainda bem que ele tem sete vidas, não tem? O gato é apaixonado por peixe, mas, não pula no rio, no mar ou no aquário para pescá-lo. Curiosamente, fica observando-o e, aposto que ele vai morrer com essa curiosidade: “Como é que peixe não se afoga dentro d’água?”
Desde que o mundo é mundo sempre existiu curiosos. Tem cabra que é tão curioso que enfia uma pimenta no buraco da sua goiaba bichada, só pra ver se mata os bichinhos; tem cabra que é tão curioso que brinca com o fogo e só vai descobrir que o fogo não curte brincadeira quando ele for queimado; tem cabra que é tão curioso que até se mata pra ver se tem vida do lado de lá e, por aí vai.
Jeová está em toda a parte, curiosos. Como é que sabem que o nome daquele bocó caipira era Jeová? Por acaso, ele falou? Se dentro da casa dele tinha mobílias ou não, alguém viu? Quantas bundas sentaram em seu sofá? Sabe-se lá se Jeová tinha sofá. O cheirinho suave de perfume de borboletas francesas, provavelmente, vinha de um de você, curiosos; interrogar taxistas se pegaram fulano, beltrano ou cicrano é idiotice. Se o bocó era inteligente, pegou aquele taxi, desceu duas quadras depois e pegou outro, depois outro, só pra despistar a atenção de vocês, curiosos. Bater no gerente, nos seguranças? Isso é violência das mais estúpidas.
Jeová, José, Joaquim ou Cabelinho Pixaim (não importa o nome) se, de fato era um caipira do mato, jamais iria se habituar numa grande metrópole como São Paulo. Provavelmente, voltou pro campo, já que, graças as suas curiosidades, descobriram que ele não trabalhava.
Pra finalizar, estou certo de que, o tal Jeová é um espírito e, com certeza está nas alturas, no mundo espiritual. Olha ele lá! Estão vendo? Está rachando o bico de tanto rir de vocês, bando de curiosos do inferno.

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