Conta-se a história de que Jeová era um sujeito medroso, assustado por demais da conta, sô! Morava na capital paulistana, mas, vivia se escondendo de todos feito um bocó caipira do mato que era. Bastava Jeová ouvir bater palmas em seu portão e pronto: seu coração palpitava, acelerava e até sambava. Talvez ele achasse que era bandido por isso, vivia escondido.
A idade de
Jeová “ocê” já perguntou de mais, sô! Uns diziam que ele tinha uns quarenta,
outros sessenta e até uns oitenta, sô! O bocó não proseava com ninguém e vivia
trancado dentro de sua casa. Com quem ele morava? Mas, que pergunta, sô! É
claro que só. O caipira tinha medo de sexo e, caso fosse cantado por mulher
bonita ou feia, ele fazia o sinal da cruz e, se bobear, até cruzava o sinaleiro
de olhos fechados.
A
vizinhança queria entender de onde surgiu essa “coisa”. Por não incomodar, seu
silêncio já estava incomodando a vizinhança. Não se ouvia sequer um ronco, um
peido de Jeová. Era um silêncio celestial do inferno, sô!
Sabe-se
lá, o caipira misterioso devia ter um bom dinheiro guardado porque o cabra não
trabalhava não.
Muitos
curiosos, que levam a sério suas curiosidades felinas não agüentaram
mais:> queriam investigar a vida de Jeová. Disfarçados de crentes
evangélicos, dois homens batem palmas no portão de Jeová. Vinte minutos depois,
Jeová deixa transparecer apenas uma pontinha do seu cabeção. E dá-lhe palmas.
Dana-se
tudo. Some a pontinha do cabeção e ele fecha a janela. Os curiosos ficam
aperreados com isso e, no dia seguinte, voltam lá disfarçados de vendedores de
verduras. Desta vez, nem sequer a pontinha do cabeção de Jeová foi vista. Que
diabo de criatura ela aquela, meu Deus? Os curiosos roíam até as unhas dos pés
de tanta inquietação.
Certo dia,
fazia um frio da gota serena de Moscou em São Paulo e, Jeová vestia um
sobretudo que não sobrava nada. Como ele era de baixa estatura só se via seu
cabeção. Era como se o sobretudo estivesse andando sozinho pelas ruas. Ele não
percebeu mas, estava sendo seguido por uma equipe de curiosos. E aquele
homenzinho sobre e desce ruas, vira a direita, depois à esquerda e, opa! Entra
numa agência bancária e fica lá por duas horas seguidas. Os curiosos não tinham
dúvida: Jeová era um homem de negócios. Quando ele sai da agência bancária
tinha câmeras por todos os lados. Até mesmo o fotógrafo profissional Fernando
estava lá: Jeová pega um táxi que sai na correria. Por esta ninguém esperava,
porém, os curiosos chegam a um veredicto: “Jeová está voltando pra casa”. Jeová
não voltou não, sô! Desapareceu na real. Cinco dias depois, os curiosos não
resistiram: invadiram a casa de Jeová e, o que é isso? Lembraram até daquela
música: “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada; ninguém
podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão”. Só que a casa de Jeová
tinha teto e chão, porém, só isso. Não pensem em mobílias porque não tinha. Nem
sequer um pinico havia nela e, o interessante era um cheirinho suave de perfume
de borboletas francesas que pairava no ar. Como é que esse homem saiu com sua
mobília, gente? Os curiosos ficaram tão atentados de tanta curiosidade que até
entraram na porrada. Como é que sucedeu esse mistério, gente? Aquela casa (a
casa de Jeová) era a mais vigiada do mundo.
Os
curiosos (e eram muitos) fecharam a casa de Jeová e foram atrás de todos os
taxistas de São Paulo. Vixi, santa batata que da vida a maionese! Os taxistas
eram muitos e as respostas eram as mesmas, repetitivas e cansativas: “Vi não”;
“Não vi”; “Peguei não”; “Não peguei”. Inconformados, os curiosos invadem a
agência bancária e enchem de porradas o gerente e até os seguranças. Queriam
saber de Jeová, só isso. O gerente levou uma surra da peste que até se cagou
todo, gente. O tempo passou e, dois meses depois, os curiosos voltam à casa de
Jeová e surpreendem. Opa! Ele não estava lá. Credo cruz, chulé de Jesus! Pra
onde foi esse homem? E o interessante era sentir no ar da casa aquele cheirinho
suave de perfume de borboletas francesas.
Os
curiosos (e eram muitos) contrataram detetives, médiuns videntes, cartomantes,
tarólogos, pai-de-santos, Padre Segredo, Bispo Pedir Mais Cedo, macumbeiros,
feiticeiros, ilusionistas, Nenê e nada. Gastaram uma fortuna na captura de
Jeová e nada. Um ano depois, eles voltam na casa de Jeová e ficaram surpresos,
de olhos arregalados: Jeová não estava lá. Aquele cheirinho suave de perfume de
borboletas francesas já estava irritando, sô! Entraram numa briga nasal da
peste perniciosa de tanto cheirarem. Um dos curiosos cheirou tanto que
conseguiu quebrar a “veinha” do seu nariz, responsável pelo olfato. Que caldo
de batata doce era aquele Giré girei que a ti perguntei? Que bolo de fubá de
Alah era aquele Giré girou que alguém te perguntou?
Os
curiosos, finalmente, após gastarem todo o dinheiro na captura impossível de
Jeová, caíram no lamaçal do sovaco pixaim e chegaram até mim, Doutor Boa, com
uma única só pergunta: “Onde está Jeová?”
Doutor Boa
Responde:
- A curiosidade matou o
gato e, ainda bem que ele tem sete vidas, não tem? O gato é apaixonado por
peixe, mas, não pula no rio, no mar ou no aquário para pescá-lo. Curiosamente,
fica observando-o e, aposto que ele vai morrer com essa curiosidade: “Como é
que peixe não se afoga dentro d’água?”
Desde que o mundo é
mundo sempre existiu curiosos. Tem cabra que é tão curioso que enfia uma
pimenta no buraco da sua goiaba bichada, só pra ver se mata os bichinhos; tem
cabra que é tão curioso que brinca com o fogo e só vai descobrir que o fogo não
curte brincadeira quando ele for queimado; tem cabra que é tão curioso que até
se mata pra ver se tem vida do lado de lá e, por aí vai.
Jeová está em toda a
parte, curiosos. Como é que sabem que o nome daquele bocó caipira era Jeová?
Por acaso, ele falou? Se dentro da casa dele tinha mobílias ou não, alguém viu?
Quantas bundas sentaram em seu sofá? Sabe-se lá se Jeová tinha sofá. O
cheirinho suave de perfume de borboletas francesas, provavelmente, vinha de um
de você, curiosos; interrogar taxistas se pegaram fulano, beltrano ou cicrano é
idiotice. Se o bocó era inteligente, pegou aquele taxi, desceu duas quadras
depois e pegou outro, depois outro, só pra despistar a atenção de vocês,
curiosos. Bater no gerente, nos seguranças? Isso é violência das mais
estúpidas.
Jeová, José, Joaquim ou
Cabelinho Pixaim (não importa o nome) se, de fato era um caipira do mato,
jamais iria se habituar numa grande metrópole como São Paulo. Provavelmente,
voltou pro campo, já que, graças as suas curiosidades, descobriram que ele não
trabalhava.
Pra finalizar, estou
certo de que, o tal Jeová é um espírito e, com certeza está nas alturas, no
mundo espiritual. Olha ele lá! Estão vendo? Está rachando o bico de tanto rir
de vocês, bando de curiosos do inferno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário