Duas comadres quando se encontram meus amados, podem relaxar
os seus ouvidos, porque o papo vai longe. Vocês vão ouvir de tudo um pouco;
coisas absurdas que nunca ouviram antes. O interessante é que, se prestarem bem
atenção no papo das tagarelas vão descobrir, sem dúvida, que existe certa
cultura; muita coisa se aprende com elas.
Lora esperava seu maridão sair para o trabalho, para ir
visitar Léia, sua comadre que morava a duas quadras de sua casa. Duas
fofoqueiras de primeira, sô! Gostavam de um fuxico do pinico.
Lora:
- Comadre Léia, a encrenca do meu marido já foi trabalhar, e
o teu?
Léia:
- O meu tá preso, comadre Lora.
Lora:
- Preso?! Desde quando?
Léia:
- Ta preso no banheiro desde as cinco da manhã. Também, a
praga me come mortadela com bacalhau e leite condensado. Ta numa caganeira dos
diabos lá no banheiro. Escuta só como ele geme.
Lora:
- Coitado dele, comadre! Bota uma colherzinha de fermento em
pó em meio copo d!água gelada com umas gotinhas de limão e, ele já sara já.
Léia:
- E é?
Lora:
- É tiro e queda, comadre.
E Léia vai dar o fermentinho com limão pro maridão no
banheiro. Minutos depois, ele sai aliviado do banheiro, cumprimenta a comadre
Lora e sai para o trabalho soltando um peido fermentado, porém, saudável.
Léia:
- Obrigado, comadre Lora. Já que sua receita é das boas.
Lora:
- To achando que vai chover e a chuva vai ser feia, comadre
Léia.
Leia:
- O que é isso, comadre Lora? Ta um céu tão azul logo pela
manhã.
Lora:
- Isso é ilusão. As nuvens vem vindo do Japão e vem junta com
toda a Ásia. Quando sinto agulhadas no meu olho de peixe na sola do meu pé,
pode botar fé que vem chuva.
Léia:
- O que é isso, comadre? Ainda não se livrou desse olho de
peixe?
Lora:
- Ainda não, comadre! O olhinho cresceu tanto que parece até
olho de tubarão.
Léia:
- Eu te ensino um remédio que é tiro e queda, comadre.
Lora:
- E é?
Léia:
- Tem uma pomadinha abençoada chamada: “Banha de Peixe Boi”.
Tem que ser legítima. Com uma pontinha de faca macete bem um comprimidinho de
AAS ou Melhoral, não importa, mas, tem que conter ácido acetil salicílico,
entendeu? Misture o ácido macetado com a pomada e faça um curativo. Pode deixar
chover comadre. É tiro e queda.
Lora:
- E é?
Léia:
- E é.
E Lora e Léia saem à procura da tal pomada do peixe boi e,
por sorte encontram Rubens, um retratista desempregado e fodido perdido nas
ruas de Curitiba, Paraná que há meses não vendia uma sequer pomadinha.
Lora:
- Você tá vendendo a banha do peixe boi?
Rubens fica branco feito um algodão, disfarçadamente até
solta um peido de tanta emoção e, se atrapalha um pouco nas palavras.
- Então, é pá e pum, compreende? Quer dizer eu, não é bem eu,
mas é isso aí mesmo.
Lora:
- Você vende ou não?
Rubens:
- Posso vender, se bem que meu ramo é desenho e sou um
artista artelista e...
Lora:
- Tem duas dúzias aí? Quanto sai?
Rubens se amarela todo e pensa até na cirrose que teve no
passado.
- Quanto sai o que? Depende do tamanho do quadro. Eu trabalho
assim. Mediante a foto eu...
Lora:
- Quanto eu pago pelas pomadinhas?
Rubens:
- Ah! Da qual?! Do Peixe Boy? Então, pá! Uma é cinco e três
são dez. Aí vai dar, espere aí, eu tenho uma calculadora aqui e...
Lora:
- Se uma é cinco, três são dez vinte e quatro pomadas são
oitenta reais, certo?
Rubens:
- O que?! Certo? É isso aí mesmo: oitenta reais.
Léia:
- Eu também quero duas dúzias.
Rubens se atrapalha todo e não resiste: solta uns peidos,
mas, as comadres entendem a sua emoção. Nessa brincadeira ele ganha cento e
sessenta reais. As comadres já estavam indo embora, enquanto Rubens todo
atrapalhado, não sabia em qual dos bolsos de sua calça ia guardar o dinheiro.
As comadres voltam.
Lora:
- Você pinta retratos?
Rubens se atrapalha de vez, olha pro céu e vê uma nuvem. É
capaz de jurar que por detrás daquela nuvem tem um anjinho enviando-lhe
bênçãos.
- Então, pá! É isso aí. Eu trabalho assim. Quer dizer, tudo
depende de uma foto nítida e...
Lora:
- Façamos o seguinte: tá a fim de almoçar em minha casa?
Depois do almoço vou selecionar umas fotos pra você e...
Rubens:
- Eu topo.
Léia:
- Também vou querer meu retrato.
E ele se amerelou todo e só por Deus, gente! Por essa ele não
esperava. Graças aquelas comadres ele se levantou na vida. Vender banha de
peixe boi? Nem agora, nem depois.
Conversa de comadres também é cultura, gente!
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