Que nome se dá a um sujeito
inconveniente, chato, impertinente, irritante, insuportável e arrogante? Você
leitor, já vai saber. Dias atrás surgiu em um dos meus consultórios um cidadão
que conseguiu me tirar do sério.
- Qual é o teu nome?
- Jovino. Filho de dona Jovina e de
seu Juvenal. Tudo gente legal.
- Qual é o teu problema?
- Não tenho problema.
- Em que posso lhe ajudar Jovino?
- Obrigado querido, mas, não vim aqui
lhe pedir ajuda.
- Então, por que está aqui?
- Porque sou o seu admirador.
- Então, quer meu autógrafo?
- Posso até aceitar, mas não encare
isso como ajuda.
Dei-lhe meu autógrafo, apertei sua
mão e disse-lhe:
- Vá na paz de Giré dos giros.
- Ainda não, doutor. Está muito cedo.
Vamos conversar um pouco e vou ver no que posso lhe ajudar.
- Rapaz, não estou precisando de
ajuda.
- Ah é? Que legal! Eu também não.
- Então, boa viagem.
- Que maravilha! Como sabes tu que
vou viajar?
- Eu imaginei.
- Imaginou certo.
- Está indo para onde?
- Pra qualquer lugar. Onde o Sr. me
sugere?
- Vá pra China.
- Que maravilha! Adoro os chineses e
o Sr?
- Nada contra. Aceita um café?
- Adoro um café.
Servi ao cidadão uma xícara do meu
café porreta e o sujeito nem sequer fez cara feia. Muito pelo contrário.
- Que café delicioso!
- Gostou?
- Adorei. Posso tomar mais uma
xícara?
- É claro.
De repente o sujeito levanta sua
perna direita e solta um peido daqueles bem barulhentos.
- Que maravilha! Soltei um peido.
- Eu notei.
O sujeito levanta desta vez sua perna
esquerda e solta outro.
- Que maravilha! Soltei o irmão gêmeo
dele!
Fiquei irritado.
- Meu amigo... Daqui a pouco você vai
querer soltar toda a família e...
O sujeito solta uma rajada de peidos
multiplicativos e, na seqüência se caga todo.
- Que maravilha! Que alívio! Tem um
banheiro? Caguei-me todo.
- Está ali: à sua direita.
O sujeito entra no banheiro e,
descaradamente liga o chuveiro e toma um banho bem demorado cantarolando Amado
Batista; usa meu xampu, meu perfume e ainda veste minha roupa. Sai do banheiro
com seus cabelos penteados e brilhosos.
- O que é isso, rapaz?!
- Que maravilha! A água do seu
chuveiro é excelente. Adorei também seu xampu, seu perfume e, principalmente
essas roupas. Não é que ficaram boas em mim?!
Abri minha gaveta, peguei meu
cassetete e bati bem forte na mesa e gritei:
- Tire imediatamente minhas roupas!
O cara de pau ainda sorri
tranquilamente e me diz:
- Que maravilha! O senhor é um
excelente ator. Quem não lhe conhece pensa até que o senhor está bravo de
verdade.
- Mas estou bravo de verdade.
O sujeito sorri novamente e ainda
acende um cigarro.
- Que maravilha! Adoro fumar
cigarros.
- Não pode fumar aqui.
- Não entendi.
- Eu disse que não pode fumar aqui.
- O senhor não fuma?
- Não.
- Nunca fumou?
- Rapaz, eu não fumo, nunca fumei e,
apague esse maldito cigarro.
- Que cigarro?
- Este que está fumando.
- Esse ou o classic?
- Que classic? Apague esse cigarro.
Nessas alturas o descarado já tinha
fumado todo aquele cigarro e, ainda apaga a bituca na minha mesa.
- Que maravilha! É claro que eu apago
doutor. Mas, tem certeza de que não quer fumar?
Gritei.
- Não!
- Nem o classic?
- Não! Nem o classic, seu doido!
- O senhor está nervoso, doutor:
Fiquei de pé na cadeira com a boca
espumando de tanto ódio e pulei me jogando no chão e gritando como um louco:
- Não! Não estou nervoso!
Bati minha cabeça e me sangrei.
- O senhor se machucou, doutor? Posso
lhe ajudar em alguma coisa?
- Pegue mercúrio na gaveta e
esparadrapo também.
E aquele sujeito me faz um curativo
na testa.
- Não pule mais assim não, doutor! O
senhor poderia ter se machucado mais, sabia?
- Vá embora agora, rapaz!
- Posso fumar mais um cigarro?
- Não, não e não!
- Nem o classic?
Sou totalmente contra qualquer tipo
de violência, mas, desta vez meti meu cassetete nele e lhe dei um chute na
bunda expulsando-o do meu consultório. Sem dúvida “aquilo” deveria ser o capeta
mandado pelo maioral do inferno porque conseguiu me infernizar.
doutorboacultural.blogspot.com/
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