quinta-feira, 4 de outubro de 2012

CARNE HUMANA

Felizberto era um homem feliz como o nome já diz. Cabra da peste, trabalhador, casado com Dona Flor que era um amor e, pai de oito filhos. Eta, família feliz, sô! Final de semana, Felizberto, logo na manhã de domingo já estava lá em sua área assando carne e tomando conhaque. Ria feito uma hiena: “Como Deus é maravilhoso e gostoso, sô!” E rolava só som de primeira qualidade, rapaz. Era sertanejo universitário daquelas letras bem complicadas de entender tipo: “Ai se eu te pego, assim você me mata; eu vou fazer um leilão, quem dá mais pelo meu coração; eu quero chá, eu quero chun, eu quero chá, chá, chá, eu quero chun, chun, chun” e outras.
Num desses domingos, Felizberto bebeu tanto, mas, tanto que acabou assando sua mulher, Dona Flor. Peraí! Mas, como sucedeu isso bexiga de pelúcia do anjinho Gabriel?! Ele sufocou sua mulher de beijos quentes de línguas e linguados mais quentes ainda. Ficou louco e, digo mais: muito louco mesmo. Lá no quartinho do casal acontecia a maior da estupidez. Seus filhos e vizinhos dançavam “chá, chá, chá e chun, chun, chun”, no último dos volumes, portanto, não ouviram nada. Felizberto afiou seu facão com seus dentes e pressionou Dona Flor, sua esposa que morria era de medo dele.
- Eu quero comer hoje pelo menos uma lasquinha dessa tua bunda.
E ela, apavorada dizia:
- Pode não, manga.
E Felizberto não perdeu tempo: com seu facão afiado tirou uma lasca de bunda de sua mulher e levou pra churrasqueira. E a coitada lá jorrando sangue e pedindo socorro. Ninguém ouviu nada. O “fio da peste” volta pro quarto e diz para sua esposa:
- Eu quero agora é o dedão do teu pé direito já que do pé esquerdo tu não tem.
E ela agoniada dizia:
- Pode não, manga.
E Felizberto corta o dedão do pé da esposa e leva pra assar na churrasqueira. Chulénilda, uma de suas filhas acha falta de sua mãe e pergunta para o pai:
- Meu pai, cadê minha mãe?
Felizberto, bêbado diz:
- Tô comendo ela, minha filha.
Chulénilda fica vermelha feito uma tripa de galinha caipira viúva.
- Meu pai! Tu sempre respeitou a gente e nunca disse imoralidades em suas conversações, etc. Pode não, manga! Fiquei sentida.
E Felizberto estava falando a verdade: literalmente, ele realmente estava comendo sua esposa. Voltou pro quarto e cortou mais lascas de carne e, nessas alturas, Dona Flor já estava se despedindo da vida. Até o final daquela maldita festa, de picadinho em picadinho, Dona Flor estava sendo toda assada. Curezenilda, uma das filhas chega em tempo no quarto de seus pais e consegue ao menos salvar a cabeça da mãe, pois, o corpo todo, ele, o sujeito malvado, já havia comido. Ela chama o Delegado Jesus e o Tenente Jó que, com muita fé e paciência chegam ao local do crime: na casa do amigo de infância e compadre Felizberto.
O Delegado Jesus mal podia acreditar no que via.
- Amigo compadre Feliz, o que é que foi isso que tu foi fazer, rapaz?! Se eu mais o compadre Tenente Jó não chegasse a tempo, tu já ia assar até a cabeça da comadre Flor.
O Tenente Jó também estava inconformado:
- É.
O Delegado Jesus estava curioso.
- Amigo compadre Feliz, carne humana é boa de comer?
Felizberto diz sorridente:
- Boa demais! Eu não resisti compadre Delegado Jesus. Filé de bunda assada é bom por demais, sô! Pé também é gostoso de chupar quando ta assim bem assadinho, sabe?
E o Tenente Jó, curioso pergunta:
- É?!
O Delegado Jesus antes de prender seu amigo e compadre Felizberto, mandou o Tenente Jó buscar na vendinha do Zé Fura Rosca, um garrafão de pinga. Que cabra mole sô, esse tal de Tenente Jó. Demorou pra voltar, mas, voltou. Os três garraram a conversar movidos a cachaça e o assunto era só um: carne humana. O Tenente Jó já estava perturbando de tanto falar: ”É?! é, é”. Foi quando o Delegado Jesus piscou pro compadre Feliz que entendeu tudinho. Já que o compadre Tenente Jó não parava de falar “É?! é, é” foi pro eco do escroto. O Delegado Jesus cortou foi as bolas do saco dele e pediu pro compadre Feliz assar. E, em poucas horas terminaram de comer o corpo assado do Tenente. E caíram na folia dançando as paradas “number one”. O compadre Feliz foi preso? Pode não, manga. Foi nada.

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