sexta-feira, 17 de maio de 2013

POR AMOR A ESCRITA


Marvin desde menino sempre gostou de escrever. Apaixonado por literatura em geral, lia de tudo, inclusive fotonovelas e histórias em quadrinhos. Fez belíssimas composições e músicas e, lamentavelmente, até o dia de sua morte, nunca foi reconhecido pelo público.
No primário escolar era elogiado pela sua professora Neusa devido ao seu bom comportamento e esforço para aprender e, também pela sua caligrafia legível e muito bonita. Na quarta série primária deixou sua professora Claudete emocionada com suas composições de redação sempre bem boladas.
Sempre gostou das artes em geral, em especial a música. Aos 16 anos já apreciava Maria Bethânia (sua cantora predileta) ouvindo cantar músicas do irmão Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda, Lupicínio Rodrigues, Gonzaguinha, entre outros monstros sagrados.
Seu grande sonho, antes de morrer, era poder divulgar o seu nome e, o maior, dos seus sonhos era poder ouvir uma de suas músicas cantada por Maria Bethânia.
Aos 17 anos era querido por todos na casa do sítio do Barracão de Laranjas em Mogi Mirim, interior de São Paulo. Lá cantava preferencialmente “Mundo Colorido”, um de seus sucessos e, ficava emocionado vendo a alegria do pássaro preto cantar com ele. Dormia sempre na casa daquele sítio e, numa noite, quando voltou do colégio, estava tão cansado que nem jantou como de costume. Apagou-se sobre a cama e, pelas altas horas da madrugada acordou com uma picada de aranha. Ficou triste em mata-la, por acaso, quando se coçou. Deixou aquela aranha sobre uma folha em branco de seu caderno e voltou a dormir. No dia seguinte, logo pela manhã, aquela pequena aranha não estava mais sobre a folha de seu caderno.
Com o passar dos dias, tinha constantes visões de aranhas e, o interessante era que ele podia estar dormindo, mas, acordava para vê-las como se tais lhes chamassem. Essas visões acompanharam Marvin por muito tempo e, ele nunca conseguiu entender isso.
Casou-se muito jovem e sem quaisquer preparos. Dizia ele, que cometeu a maior das loucuras em sua vida, mas, que faria tudo de novo por amor a seus filhos. Marvin nunca os sustentou e, literalmente, os abandonou ainda quando estes eram pequenos. Muito tempo passou e sentiu que já era tarde para fazer reparos de seus erros, porém, tentou. Tudo acabou em sonhos, que ele, lamentavelmente, nunca conseguiu realizar.
Já adulto, olhou a sua volta e caiu em depressão: não tinha nada de concreto em sua vida, nem mesmo um bom emprego que, seria o primeiro passo para se realizar. Suas músicas, suas composições ficaram gravadas em sua mente e em seu coração e, por ilusão, achava ele que um dia, faria muito sucesso e todos os seus entes queridos, em especial, seus filhos, teriam muito orgulho dele um dia. Desejava muito, mas, muito mesmo ser um grande pai. Não conseguiu ser grande, nem pequeno e, em vida, culpava-se por isso. Nunca conseguiu, em vida, abster-se do álcool e do tabagismo e, estes, sem dúvida, foram os principais causadores de sua morte.
Marvin perto dos 50 anos criou Dr. Boa, um personagem que, por intenção primária, levaria sempre o bom humor as pessoas. Seu maior prazer era o de arrancar risos de seu público, em especial das crianças que sempre amou. Ele nunca foi feliz e o mundo nunca soube disso.
Criou um Blog na internet de nome Doutor Boa Cultural e, todos os dias, tinha por missão, escrever diversas histórias a seu público do mundo inteiro. Sua pretensão não era a de visar lucros monetários com suas escritas, mas, sim a de ser reconhecido como escritor. Suas histórias eram sem dúvida, muito criativas e, nem sempre havia dose de humor nelas. Marvin baseava suas escritas no seu dia a dia. Nunca suportou a profissão de vendedor, porém, se viu obrigado a optar por isso para sobreviver.

Em 2013, no dia 27 de janeiro, aniversário de Matheus, seu filho mais chegado, foi picado por uma aranha marrom e o veneno dela costuma ser fatal como o foi para ele. Esperou seu veneno se espalhar pelo sangue antes de ir ao médico. Sem condições, comprou medicamentos caros e os desprezou em poucos dias o rígido tratamento, preferindo as cervejinhas de colegas na mesa de um bar. Esqueceu-se que não era mais jovem, pois, temia um dia em ficar velho. Não resistiu. Partiu deste plano, talvez, levando consigo seus sonhos, aqueles que ele nunca conseguiu realizar. Fez um único pedido antes de despedir-se da vida: Por amor à escrita, vou embora, porém, Doutor Boa não pode e não deve morrer.

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