sábado, 27 de abril de 2013

CONSCIÊNCIA PESADA



Uma mente sadia só tende a ficar perturbada quando, por acaso, sem medir, sem pesar, manipula pensamentos destrutivos contra o seu próximo. É uma mente doente, que se não tratada de imediato, pode ser tardia a sua cura.
Roberto era um sujeito pacato, tranquilo e de poucas palavras. Natural de Criciumal, interior do Rio Grande do Sul, tinha sonhos em ser “alguém” um dia na vida. Tinha 20 anos, morava com seus avós maternos há 17 anos, desde que perdeu seus pais num terrível e trágico acidente.
Ernesto era um grande amigo de seus pais falecidos e, mais do que isso, era padrinho de Roberto. Tinha um mercado de porte médio e ofereceu emprego para Roberto, que em pouco tempo, passou a gerenciar tal estabelecimento. Sim, Ernesto era um homem de negócios, viajava muito e depositava total confiança em seu afilhado.
Nasceu certa soberania no coração de Roberto. Um rapaz que outrora era humilde passou a ser arrogante e orgulhoso. Humilhava os empregados, já que tal poder de gerenciá-los estava em suas mãos. Então, discretamente, começou a roubar seu patrão. Sua ganância e ambição falavam mais alto em sua consciência: “Terei o meu próprio negócio. Sou capaz disso”.
Roberto abriu contas em vários bancos e já tinha um bom dinheiro depositado. Ernesto, seu patrão e padrinho era um homem sozinho, não tinha mulher nem filhos. Estava sendo traído, golpeado pelo afilhado sem sequer suspeitar disso.
Certa noite, após fechar o mercado, Ernesto fica surpreso com o que ouve de Roberto.
- Pretendo ter meu próprio negócio, padrinho. Peço-te demissão.
- Como assim guri?
Conversaram muito e, quem fica surpreso de vez desta vez foi Roberto, com a proposta que lhe fez seu padrinho.
- Este mercado é teu. É pegar ou largar. Pague-me quando puder.
É claro que Roberto não dispensou tal presente. Depois de roubar seu padrinho por quase três anos ainda ganha dele um excelente presente.
Friamente, Roberto interna seus avós num asilo, compra uma boa casa e, enfim, muda de vida radicalmente. Seu negócio rendeu tanto que, em pouco tempo, já comandava uma rede de supermercados. Desprezou seu padrinho e, nunca mais lhe pagou nada.
Tudo o que Ernesto tinha na vida era uma boa casa, um automóvel, um dinheiro guardado no banco e, agora, uma linda mulher.
Rafaela era uma morena jambo muito atraente. Tinha 25 anos, enquanto Ernesto 65 anos. Mas, parecia não haver interesse na jovem quando se uniu com Ernesto. Viveram momentos felizes.
Certa vez, (era véspera de Natal) Ernesto e Rafaela vão ao supermercado de Roberto e fazem uma imensa compra de mercadorias diversas. Antes de chegar ao caixa, Ernesto chama seu afilhado e lhe diz:
- Roberto, estou levando estas coisinhas como parte do pagamento daquilo que me deve.
Roberto sorri cinicamente.
- Coisinhas, padrinho?! Não lhe devo nada. O que me destes anos atrás, com escritura reconhecida em cartório e tudo foi um simples mercadinho. Graças a minha inteligência e trabalho fiz o negócio render. Hoje tenho uma rede de supermercados. Tudo aqui tem um preço e, querendo levar qualquer coisa daqui, vai ter que pagar.
Ernesto ficou tão envergonhado diante de tal humilhação que baixou a cabeça, pegou na mão de Rafaela e foram embora. Preferiu não pronunciar nunca mais sequer o nome de seu afilhado. Estava velho, porém, saudável e com o amor de sua vida. O dinheiro era pouco, mas, dava para sobreviver.
Numa noite, sua linda mulher Rafaela o surpreende:
- Estou grávida, amor.
Ernesto sua frio.
- Como pode isso, mulher?! Sou estéreo, não posso produzir filhos e...
- Nunca te enganei, Ernesto e, não é agora que vou fazer isso. Estou grávida de outro homem, é claro.
O velho Ernesto por pouco não enfarta. Chora muito, pois amava demais sua linda mulher.
- Quem é este homem? Diga-me: quem é este homem?
- Isso não importa. Não é dele que eu gosto. Saí com ele algumas vezes e aconteceu. Acabou.
- Falas como uma piranha. Arrume tudo o que é teu e caia fora da minha vida.
Naquela noite, Rafaela embebeda de vinho seu companheiro Ernesto que se apaga num sono profundo sobre a cama. Friamente, Rafaela abre um pequeno baú e espalha sobre o corpo de Ernesto, vários escorpiões. Deixa-o lá no quarto estirado na cama com os escorpiões e vai para a sala fazer uma ligação.
- Fiz aquilo que me pediu, Roberto. E agora?
- Agora é só esperar o velho morrer. Enterre o baú no quintal para não deixar vestígios. Quando perceber que este maldito velho se apagou de vez, ligue para o hospital. Será um crime perfeito.
E Ernesto morre agonizando com o veneno mortal dos escorpiões. Rafaela dramatiza bem fingindo ter crises de choro e desespero.
Alguns dias depois do enterro de Ernesto, Roberto e Rafaela decidem morar juntos, o que chama a atenção de todos daquela pacata cidade.
No decorrer dos dias, Rafaela adquire um comportamento estranho. As noites não conseguia dormir mesmo com tranquilizantes. Quando conseguia dar breves cochilos devido às altas doses de medicamentos, acordava assustada.
- Ele está aqui Roberto. Eu juro que aquele velho está aqui.
- Você está louca, mulher! Aquele velho está morto e enterrado e, cale-se se não vai botar tudo a perder.
- Não! O que fizemos com ele foi estúpido demais.
- Fizemos? Eu não fiz nada. Você o matou. Quer apodrecer na cadeia sua assassina?
- Não!
Roberto esbofeteia o rosto aflito de Rafaela e a violenta sexualmente.
- Então, cale-se vadia!
O clima naquela casa estava tenso demais. Rafaela estava ficando louca. Jurava que via e ouvia o velho Ernesto rondar pelos quatro cantos da casa. Roberto fez Rafaela escrever um bilhete, sob tortura.
“Roberto, espero que me entenda. Não consigo esquecer o grande amor da minha vida que é Ernesto, seu finado padrinho. Nunca vou aceitar a forma como ele morreu. Estou indo embora para sempre e nem mesmo sei para onde. Ficarei bem e, espero que você também. Adeus”.
Na sequência, Roberto sufoca Rafaela com um travesseiro e a última entra em óbito em poucos minutos. Friamente, ele a esquarteja e separa em pedaços todo o seu corpo e enterra em seu quintal. Queima todas as roupas e pertences de Rafaela até que vire cinzas, junta-as e lança-as num lago.
- Estou livre de mais esta imundície.
No decorrer dos dias, quem agora estava tenso, abatido e preocupado era Roberto. Funcionários do supermercado flagram Roberto várias vezes falando sozinho e, o mesmo passa a temer a todos e, principalmente a polícia que a procura. Ainda era muito jovem, porém, segundo os médicos passaria o resto de sua vida num manicômio, pois ficara louco.

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