segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O FANTÁSTICO MUNDO DOS PERNILONGOS



Uma bebê pernilonga curiosa pergunta para sua mãe:
- Mamãe, o que eu vou ser quando crescer?
Sua mãe sorridente acaricia suas asinhas e lhe diz:
- Será uma pernilonga, minha  filha.
E a bebê pernilonga fica triste.
- Mas isso não tem graça minha mãe. Já sou uma pernilonga.
- Não, minha filha. Você é apenas uma bebê pernilonga. Tem manhas e artimanhas que você ainda não conhece. Sua mãe, por exemplo, é uma pernilonga gostosa, formada. Siga o meu exemplo e continue voando.
- Mamãe, isso não tem sentido. Que graça tem em ficar voando? Eu queria ser como os bebês humanos que mamam nas tetas, crescem, vão às escolas, jogam bola com seus amiguinhos, namoram se casam...
Sua mãe sorri:
- Que bebê bobinha é você, minha filha! Nosso mundo é muito mais fantástico e divertido do que o mundo dos humanos. Eles pagam um alto preço na vida para sobreviver sabia?
- Mas, isso é o que é vida, mamãe. E, quanto a nós? Ficar só voando e chupando sangue não está com nada. Eles têm variedades de chuparem muitas coisas como picolés, balas, geladinho, etc...
- Mas eles não voam minha filha.
- Voar, voar, subir, subir. Que coisa mais sem graça! Eles andam, correm...
- Mas se aborrecem minha  filha.
- Nós também, mamãe. Pernilongos detestam inseticidas e, antes de protestarem já morrem chapados pelo veneno. Que vida sem graça!
- Não pense nas coisas tristes, minha filha. Está vendo aquela bunda gorda daquele moleque?
- Sim. O que é que tem ela?
- Tem substância, minha filha. Uma gota de sangue daquela bunda me alimenta,  á você e outras famílias de pernilongos, fêmeas, é claro, porque a boca dos machos são muito fracas para dar picadas. Os bobinhos se alimentam apenas de suco de plantas. Que vida!  Ninguém precisa brigar, pois temos comida pra vida toda.
- Que vida sem graça, mamãe! A vida não é só comer não. Eu queria estudar, trabalhar assim como os humanos.
- Que bobinha! Teríamos que tirar um eletro encefalograma para descobrirmos afinal o que é que passa nessa tua cabecinha.
- Eletro o quê?
- Uns raios-X do crânio, minha filha. Só que no nosso mundo não temos médicos pernilongos e muito menos aparelhagem indicada, e, além do mais, nem crânios temos. Olhe só aquela orelha. Vem com a mamãe, vem.
- Que loucura! Eu não estou com fome.
- Mas tem que chupar minha filha. Pelo menos o dedão daquele pé. Venha...
- Não, mamãe!
- Que bebê teimosinha é você! Depois vai querer mamar, não é?
- Não, mamãe. Eu não vou querer mamar.
E aquela bebezinha pernilonga cresceu e se tornou uma adulta inconformada. Alimentava-se de sangue somente para sobreviver mesmo. Seus pais morreram numa bombada de inseticida e ela chorou muito. Dizia pra si mesma: “Até o final  da vida de meus pais foi sem graça. E agora? Vão pro céu ou pro inferno? Serão ressuscitados? Serão julgados por Deus porque Moisés escreveu na Bíblia para absterem-se de sangue?
E aquela pernilonga voava triste e cabisbaixa inconformada com a vida sem graça que levava.
Aquela pernilonga admirava demais os humanos. Adorava tocar em seus ouvidos sua sinfonia pernilongal. Até que um dia e, triste foi esse dia, levou uma bofetada em seu frágil e raquítico corpo e morreu. Que morte cruel! Creio que para algum lugar ela foi. O molequinho que o esbofeteou odiava demais os pernilongos. Fazer o quê? Ela deve ter ido para o céu. Tadinha. Que vida inútil, mosquitinhos.







doutorboacultural.blogspot.com/


Postado por Marvin Di Capri

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