sábado, 19 de julho de 2014

O CORNO






Pensem num homem trabalhador. Imaginem mãos calejadas, cheias de rachaduras. Um homem honesto, marido fiel, excelentíssimo pai que sustentava sua linda mulher e seus oito filhos. Grande Geraldo. Este era o homem. Este era o cara.
Beatriz, linda feita uma atriz de Hollywood lembrava um pêssego de tão formosa que era. Rainha do lar, incapaz de lavar um pinico, porém, à espera do marido, estava sempre cheirosa, perfumada feita uma borboleta adolescente. Pra que ia ferrar sua coluna encerando a casa? Pra que ia torcer seus lindos dedos lavando roupas se tinha Agnalda, a empregada que fazia tudo sorrindo porque o que Geraldo lhe pagava era lindo?
Geraldo era de tudo um pouco. Pedreiro, carpinteiro, jardineiro, latoeiro, construía até poço porque era um profissional de primeira. Grande Geraldo. Este era o homem. Este era o cara.
Beatriz nunca trabalhou na vida. De línguas entendia tudo. Inglês? Francês? Isso para ela era como comer goiaba. Gostava de usar aquelas roupas assim bem chamativas, entendem? Tinha bom gosto. Seu marido era um moço, quer dizer, já foi moço, porque com o tempo tudo envelhece. Até o coco.
Geraldo fazia de tudo e mais um pouco para agradar sua linda e exuberante mulher. Tinha ele bom gosto e era tão manso feito um veado aposentado, porém, tão trabalhador como um peão de buraco que, de tanto cavoucar chega no mar. Grande Geraldo. Este era o homem. Este era o cara.
Beatriz gostava tanto de um shopping e também de um superlativo que vivia comprando. Comprava de tudo e que se dane o mundo. Geraldo pagava porque era o homem, era o cara.
Indiferenças não matam porque Zezé continua vivo. Apesar de Geraldo e Beatriz serem completamente diferentes se amava demais e, digo mais: amavam tanto animais que tinham até mesmo um corno. Pensem num boi gordo e chifrudo, gente.


doutorboacultural.blogspot.com/


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