terça-feira, 12 de agosto de 2014

AMOR DOENTIO


Francisco era um homem muito rico. Tinha terras espalhadas por todo o Brasil. Fazendeiro dos bons que enriqueceu importando e exportando café, soja, feijão, arroz, cana de açúcar e muito gado. Muito religioso também.
Francisco ficou viúvo de Ruth que morreu no parto da única filha do casal: Rita. Uma menina bonita, carinhosa, excepcionalmente inteligente. 
Cresceu aos mimos do pai. Aos 17 anos, muito estudiosa que era, com uma inteligência brilhante, já dominava cinco línguas.  Muitos rapazes desejavam namorá-la, mas, Rita não era chegada em romance e tinha aversão a sexo. Para ela, seu grande, verdadeiro e único amor era Francisco, seu pai, seu herói e melhor amigo.
Francisco freqüentemente aconselhava a filha:
- Minha querida, você ainda é jovem e muito bonita. Una-se com alguém. Têm muitos rapazes de boas famílias que te desejam. Dê-me ao menos um neto.
Rita sorria e lhe dizia:
- Não amo ninguém com exceção ao senhor, meu pai. Sei que este amor é diferente, porém, é o único que tenho.
Rita amava seu pai demais, ao ponto de vigiá-lo até mesmo quando ele dormia. Na ponta dos pés, ela entrava no quarto do pai, colocava sua mão sobre o coração dele para ter a certeza de que ele estava vivo.
Rita não era apegada a nada material. Não era vaidosa e também não tinha amigos. Sua maior paixão era a de ficar ao lado do pai que tanto amava.
Quem administrava os bens materiais de Francisco era Benedito, que, lamentavelmente morreu, vítima de uma congestão alimentar na grande casa da fazenda de Francisco, seu patrão. Francisco sentiu muito por isso e, nessas horas de dor, quem sofria com ele, era Rita, sua filha mimada.
Francisco adotou um cachorro de rua e, quem cuidava dele era Rita. Dava-lhe banhos, boa comida e especial carinho. Tudo isso por amar demais o seu pai que já estava velho.
Rex, o cachorro morreu intoxicado por algo diferente que comeu. Francisco caiu em depressão porque o amava demais. Rita consolava seu velho pai.
- Não quero lhe ver triste, meu pai. A vida é assim mesmo. Tudo tem o seu tempo.
Rita caiu em depressão e, o motivo desta era por via de seu pai. Temia muito em um dia perdê-lo.
O tempo passou e Francisco completou 100 anos de vida. Já estava velho demais e muito doente. Rita não confiava em ninguém para lhe dar medicamentos e cuidados especiais. Ela mesma era quem passava 24 horas ao seu lado. Presenteou o pai com um lindo terno de primeira, dizendo-lhe:
- Meu pai, hoje é o teu dia. Quero lhe vestir este terno e convidá-lo para um jantar especial.
O velho Francisco chora emocionado.
- Filha, antes de sairmos para jantar, preciso ir orar em meu quarto. Eu logo volto.
Enquanto o velho Francisco vai orar em seu quarto Rita toma um bom vinho italiano e acaba cochilando no sofá. Acorda com seu pai lhe chamando.
- Estou pronto minha filha. Vamos jantar?
Rita coloca seu velho pai em seu carro e sai em alta velocidade. Ela estava com um comportamento estranho e isso assustou o velho.
- Não corra tanto, minha filha. Isso é perigoso.
- Cale a boca, seu velho gagá! Quem conduz a sua vida agora sou eu. Desejei a sua morte desde quando era menina. Toda a sua fortuna agora é minha e de mais ninguém. Sou sua única herdeira e, por isso não quis me unir a ninguém. Tenho cinqüenta anos, a metade da sua idade e, ainda sinto-me jovem. Tenho a vida toda pela frente e, o senhor?
Rita para o carro bruscamente numa estrada deserta e arrasta o pai para um grande matagal. Havia entre as matas um profundo buraco, provavelmente feito por ela. Rita empurra seu pai para dentro daquele buraco, corre para o carro, abre o porta malas e pega uma grande pá e cobre todo o corpo do pai com terra.
- É difícil acreditar meu velho pai, mas, eu sempre te amei. Tive nojo de seus amigos, do maldito Benedito, daquele maldito cachorro. Eu mesma os matei. Nunca suportei ninguém que chegasse próximo de ti. Morra seu velho.
Rita volta para o seu carro e chora convulsivamente, depois vai para a casa da fazenda que agora era só sua. Não importava a ela se estivesse que esperar alguns anos para herdar a fortuna do pai. O corpo do velho nunca seria encontrado. Assim pensava ela.
Chegando a casa da fazenda, tudo o que mais queria era tomar um banho. Antes disso, tomar um bom vinho italiano é claro. Cochilou em lágrimas no sofá e acordou com seu velho pai lhe chamando. Mas, como?!
- Estou pronto minha filha. Vamos jantar?
Rita enlouqueceu nesta hora. Começou a gritar e a quebrar tudo à sua volta. Graças aos empregados da casa, foi socorrida até chegar à ambulância e levá-la para o hospital e, de lá, para o manicômio.
O velho Francisco faleceu aos 115 anos desejando profundamente ver a recuperação de sua única filha.

A vida é complexa demais para podermos defini-la. Ela sempre nos surpreende com bons ou maus acontecimentos. Os pais educam seus filhos para que estes tenham um futuro melhor, porém, nem sempre tais resultados são satisfatórios.
Como definir o amor que é tão complexo quanto à vida? De repente, podemos estar convivendo com um psicopata, um doente, um bandido. Boa conduta, bom comportamento, muitas vezes podem não significar nada.
Rita amava tanto seu pai ao ponto de idolatrá-lo e, pior do que isso, de querer este amor só para ela. Planejou mata-lo e, conscientemente o matou mesmo. Sua mente insana estava acreditando que era uma assassina. Felizmente, tudo não passou de um sonho.

Devemos amar a todos com um coração puro, com uma mente limpa. Sei que isso é muito difícil, porém, é só assim que teremos real vitória e poderemos dar e viver glórias e glórias e, esta é mais uma das minhas histórias.




doutorboacultural.blogspot.com/

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