Receber um elogio, uma piscada de olhos, um volte sempre, de alguém, assim tão especial, tão doce e encantador, sem dúvida, satisfaz o ego de qualquer um, não é verdade?
Murilo não era bonito e muito menos lindo, mas, era um cabra de presença. Frequentava o bar da Teng, uma chinesa linda, encantadora, caldosa, um pêssego. Quando Murilo entrava no bar da Teng, Virgem Nossa! Ela podia estar falando ao telefone com sua mãe na China, já interrompia a ligação na hora e ia atendê-lo.
- Você maluco, sumiu né?
Murilo fica roxo feito um alho de tão emocionado.
- Estive aqui ontem.
E a chinesa já lhe servia seu uísque duplo, uma porção de calabresa, na sequência, umas cervejinhas e, o tempo todo ficava paquerando-o, indiscretamente, é claro. Ele acenava com a mão para ela que vinha correndo para a mesa atendê-lo.
- Quer mais um porçon?
- Não. Quanto é que deu minha conta, Teng?
- Síí! Zá vai embora, maluco? Tá muito cedo, né?
E Murilo já falando mole, decidia ficar mais um pouco. Pedia mais um uísque duplo, uma porção de calabresa e mais umas cervejinhas.
- Seu bundão, cadê a mistura? Cadê o dinheiro?
- Tem certeza de que este cabra é meu pai, minha mãe?
- Deixou todo o seu salário no boteco, seu pilantra?
A chinesa Teng acreditava que Murilo era um engenheiro, pois, além dele falar muito bonito, se vestia bem e gastava um dinheiro lindo em seu bar.
Numa noite de sexta-feira, Murilo resolveu pagar uma rodada de comes e bebes para doze camaradas seus. Teng e suas três empregadas redobraram o serviço e deram uma atenção especial para todos, principalmente para Murilo.
Retardésio, um dos amigos de Murilo, metido a doutor diz baixinho:
- Saquei tudo, qual é a parada aqui Murilo. Tá ligado? Tu sabes que eu, como psicólogo não me engano. De besta eu não tenho é nada, entendestes?
E Murilo preocupado pergunta baixinho para Retardésio:
- O que é que tu sacaste? Diga-me.
- Saquei que está rolando um clima entre você e a chinesa, porque ela não tira os olhos de você.
Murilo sentiu-se assim tão cheio que não deu para segurar: soltou um peido caloroso e volumoso, mas, ninguém ouviu não, porque o barulho do bate papo cobria tudo, até mesmo aquele peido nojento.
- Eh! Eh! Ela está gamada por mim, rapaz.
Teng! Teng! Pra que dar tanta bandeira, chinesinha linda? Também, ela não tirava os olhos da bunda de Murilo, sô! Para completar a felicidade, Murilo só pisca para Teng e lá vinha outra rodada de comes e bebes.
Vixi! Quero ver você pular santa! Murilo chega a sua casa daquele jeito que o diabo gosta: “bem bebinho como um bobinho”.
Sua mulher Geovásia, dessa vez, pega o cabo de uma vassoura e dá-lhe nas juntas, na cabeça e nas pernas.
- Tome vergonha caldo de escarro! Cadê o dinheiro do décimo terceiro?
E lá vinham Gecriléia e Gesisléia, suas filhas com pedaços de pau nas mãos.
- Diga-me a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade minha mãe: este cabra é meu pai?
- Deixou todo o décimo no boteco, seu pilantra?
No dia seguinte, não teve como Murilo ir trabalhar não, sô! Ficou com cara de caroço, o moço. Mas, afinal, com o que é que Murilo trabalhava que tinha tanto dinheiro assim, apesar de deixar todo ele no bar da Teng? Vixi! Ele pedia esmola, sô! Como falava bonito feito o homem da cobra, ganhava muito dinheiro, mas, ninguém sabia de nada, nem mesmo sua mulher e filhas. Natais e finais de anos ele ganhava mais, é claro: um tanto daqui, outro tanto dali que, juntando tudo passava de um décimo terceiro ou quarto, só que a grana toda ficava no bar da Teng.
Sua mulher e filhas cansaram de vê-lo naquele estado, sempre bêbado e falido. Deram-lhe um pontapé na bunda e os expulsaram de casa e ai dele se voltasse. Geraldo, o cão guarda-costas da família ficava na espreita.
Teng, a chinesa linda parecia preocupada. Murilo sumiu do seu bar, caramba! Depois de quinze dias, ele resolveu aparecer por lá. Nossa! A chinesa de olhos rasgados arregalou tanto seus olhos que pareciam bolinhas de gude, assim como os olhos dos ocidentais, sabe?
- Você maluco, sumiu né? Eu com muita saudades de você, maluco! Vai querer o mesmo de sempre?
Murilo parecia triste. Na realidade ele estava falido e apaixonado também pela chinesa.
- Hoje não tenho dinheiro, Teng. Posso ficar te devendo uma coca cola?
Teng estranhou.
- Você maluco? Aqui antes, todo dia (né?) toma uísque, ceveja, porçon, agola coca cola?!
- Sim, então, posso te pagar amanhã um uísque, uma cerveja e uma porção?
- Claro. Claro que não! Você maluco? Nem coca cola pode. Ou paga tudo agola ou vai embola.
Vixi! Que bafo de alho, sô! A chinesinha falava sério. E Murilo chegou a achar que ela estava interessada nele. Quer dizer, em partes estava: só que no dinheiro dele.
Que esta história sirva de exemplo para muitos bocós de brasileiros: orientais só gostam dos brasileiros que gastam com eles, entendeu?
doutorboacultural.blogspot.com/
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