Pedro era um homem muito religioso. Era membro de uma comunidade
evangélica da cidade de Navegantes, Santa Catarina, cerca de 114 km distantes
da capital Florianópolis. Tudo fazia de bem e do melhor para agradar a Deus.
Ajudava a todos sem fazer acepção.
Pedro era um homem bem sucedido na vida. Herdou de seu pai
uma grande fortuna. Tinha muitas casas, um grande sítio e uma bela chácara,
além de um luxuoso apartamento em Navegantes. Sua renda mensal chegava a três
milhões de reais, porém, Pedro não era ganancioso, nem ambicioso. Seu amor a
Deus e ao próximo superava a ele, toda a sua fortuna.
Certo dia, após um culto fervoroso, cujo tópico pregado era o
amor, Joãozinho Ferreira Bigulinho, um velhinho muito crente, muito humilde,
chama Pedro ao lado.
- Irmão Pedro, Deus me revelou que somente tu, podes me
ajudar.
O amoroso Pedro da um forte abraço em Joãozinho e lhe
pergunta:
- Em que posso lhe ajudar, querido irmão?
E Joãozinho desabafa em lágrimas:
- Por eu amar a Jesus, fui expulso de casa pela minha mulher
e filhos a pontapés. Minha bunda está cheia de calos e hematomas de tantos
chutes que levei. Quer ver?
- Não é necessário, irmão. Prossiga.
- Quero servir a Deus, porém, não tenho onde morar entende? Esta
noite passada dormi debaixo da ponte. Pra encurtar a conversa, o irmão não
daria uma casinha humilde pro velhinho?
Pedro, muito amoroso lhe diz:
- Por amar ao meu próximo como a mim mesmo, não posso lhe dar
uma casinha humilde, irmão Joãozinho.
- Não pode?
- Vou lhe dar uma de minhas casas e, digo mais: a melhor
delas.
Como fazer caridade é bom, irmandade! Pedro deu com escritura
e tudo uma excelente casa para Joãozinho. Tinha até piscina. Imagina.
Pedro conheceu Pedrita, obreira daquela igreja. Ela que trabalhava
antes como empregada doméstica, limpando cocô de cachorro de madame, agora
cuidava dos negócios de Pedro. Casaram-se e, pelo menos, um milhão de reais,
Pedro gastou na festa do seu casamento. Mais de cinco mil evangélicos estavam
na festa das glórias e glórias.
Outro dia, Joana, irmã da igreja, procurou Pedro no final do
culto.
- Irmão Pedro, Deus me revelou que só o senhor pode me
atender.
- O que é isso, irmã? Senhor é somente Deus. Em que posso lhe
ajudar?
- É que minha avó de noventa e oito anos precisa fazer uma
cirurgia do coração e, esperar pelo SUS, melhor por Jesus. Deus me revelou em
sonhos que minha avó saía de um hospital famoso na Califórnia, Estados Unidos
e, lhe digo mais: com um coração novo.
Vixi! Essa tal cirurgia, com passagem, hospedagem e tudo saiu
caro para Pedro. A velha Pirineu morreu. Não resistiu a cirurgia. Seu caixão,
velório, flores e enterro foram tudo bancados por Pedro.
Outro dia, o Pastor Pinheiro, logo no final do culto, chama
Pedro ao lado.
- Irmão Pedro, Deus me revelou que tu, somente tu, és o homem
que podes me ajudar. Se não, “babau”, tudo vai pro pau. Vou direto ao assunto
sem ficar enrolando, pois, um homem de Deus como eu, tem que ser claro, exato
nas suas palavras e...
Pedro o interrompe:
- Em que posso lhe ajudar, pastor?
- Preciso de um dinheiro emprestado, mas, eu pago. Minhas
duas filhas estão devendo pra faculdade e estou precisando reformar meu sobrado
e, um dos meus carros está na oficina e...
- Quanto é que o pastor precisa?
- Creio que um milhão de reais resolve tudo.
Pedro lhe diz:
- Quem resolve tudo é Deus, pastor.
Pedro faz um cheque de dois milhões de reais e entrega nas
mãos do pastor Pinheiro.
- Pague-me quando puder.
Na residência de Pedro, o telefone não parava de tocar. Eram instituições
de caridade pedindo uma oferta, hospitais, escolas, igrejas, parentes, enfim,
Pedro ajudava a todos.
Seus dois sobrinhos, filhos de Gorréia, irmã de Pedrita, sua
esposa, se envolveram com drogas e ficaram devendo uma fortuna para os
traficantes. Foi o sítio e a chácara de Pedro pro pau, nessa brincadeira.
Só os diamantes no sol duram para sempre. Um dia, tudo se
acaba. Pedro ficou no vermelho total. Ficou decepcionado com o que sua mulher
Pedrita lhe fez. A traíra vendeu o luxuoso apartamento de Pedro, e fugiu com o
pastor Pinheiro, com quem tinha um caso. Por causa disso, Pedro ficou muito
doente e, pior do que isso: não tinha dinheiro para se tratar. Jesus!
Mais um na fila do SUS!
Pedro, um homem que dizimava antes, trezentos mil reais para
a igreja, não tinha agora trinta centavos no bolso. Ficou no “lambisco” da
vida. Teve que vender sua casa, a única que lhe restou, para pagar algumas
dívidas de Pedrita para com os agiotas. E não paga pra ver. Pedro ficou sem
lar. Coitado!
Peraí! Nem tudo, parecia estar perdido para ele. Lembrou-se
do irmão Joãozinho Ferreira Bigulinho, aquele velhinho que ganhou uma casa de
Pedro. Foi até lá, é claro. Tocou a campainha, mas, devido ao canto dos
passarinhos, Joãozinho demorou em vir atender, porque era meio surdo e, pelo
menos, uns dois mil passarinhos, o velhinho tinha em sua casa.
- A paz do Senhor, irmão Joãozinho.
Joãozinho estava de sunga e todo molhado. Tinha acabado de
sair da piscina.
- Direto ao assunto, irmão Pedro. Estou com visitas em minha
casa e, a única coisa que eu posso lhe dar é um copo de leite. Quer um copo de
leite? Tem leite. Vai querer leite?
Coitado de Pedro, gente! Notícias ruins correm logo. Todos já
sabiam que ele estava falido. Foi mal recebido por Joãozinho que, antes, era um
velhinho tão humilde e, pior do que isso, aquela irmandade da igreja que antes o rodeava agora corria dele. Doente, pobre, falido e sozinho, terminou
seus dias num asilo.
Lembre-se: Não há na face da terra um justo sequer; ninguém
que ame a Deus sobre todas as coisas e, muito menos a seu próximo como a si
mesmo. É claro: Pedro foi apenas uma exceção.
doutorboacultural.blogspot.com/
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