Esta é uma história baseada em fatos reais, ocorrida nos 30 (época que havia respeito. O que prevalecia era a educação, o respeito e, a palavra de um homem valia muito mais do que os seus documentos) até
os anos 80.
Horácia nasceu em 1900, na pacata cidade de Monte Sião,
interior de Minas Gerais, cerca de 484 km distantes da capital Belo Horizonte.
Naquela época, principalmente nas zonas rurais, era comum os
pais arrumarem casamento às filhas e, com Horácia, não foi diferente: conheceu
Brazilino, um homem honesto e trabalhador no dia do seu casamento. Ela
agradeceu a Deus por seus pais terem feito a escolha certa, pois, ela amou
Brazilino.
Horácia tinha apenas 16 anos quando se casou. Era uma menina
ingênua, infantil, porém, muito dedicada às tarefas domésticas. Brazilino
achava engraçado quando chegava em sua casa e encontrava sua mulher Horácia
brincando com bonecas. Sim, a tarefa doméstica fora cumprida por ela. A casa
toda em ordem, arrumada, as roupas todas lavadas e a comida preparada.
Ainda muito jovens, Brazilino e Horácia mudam-se para
Socorro, interior de São Paulo, cerca de 135 km da capital. Uma cidade pacata
também e, naquela época, as pessoas, na regra geral, eram mais passivas; o que
predominava era a educação, o respeito de filho para com os pais, etc.
Moravam num pequeno sítio em Socorro e, com o tempo, nasceram
Cesárea, depois Lazara, Benedito, Maria, Júlia e Guilherme.
Brazilino e Horácia sempre faziam compras no único armazém da
cidade de Socorro. Iam a cavalo sem quaisquer preocupação com seus filhos no
sítio. Cesárea já tinha 16 anos e, na falta dos pais, seus irmãozinhos tinham
que obedecê-la pra não apanharem de vara.
Sucedeu que, numa tarde em que Brazilino e Horácia voltavam
pra casa, no sítio, Brazilino presenciou uma cena que o deixou muito
aborrecido: viu um sujeito pagando pinga para o seu compadre Zé, que sofria de
Hepatite e Cirrose (males do fígado). Enfurecido, Brazilino desce do cavalo e
diz para Horácia:
- Espere-me aqui. Vou dizer umas verdades para aquele
sujeito.
Horácia pressente o perigo:
- Deixe disso Brazilino. Vamos embora.
Brazilino entra naquele boteco, pega o sujeito que pagava
pinga para o seu compadre, pelos colarinhos da camisa e lhe diz:
- Você não está vendo o estado que está o meu compadre, filho
de uma puta? Quer apressar a morte dele para ficar com sua mulher?
No que Brazilino vira as costas é golpeado por duas facadas
que perfuram seus pulmões. Cai sangrando no chão daquele boteco e ainda recebe
mais uma facada no coração e fica agonizando. Horácia pula do cavalo e entra
naquele boteco clamando em desespero por socorro. Tarde demais! Brazilino
morreu e o tal sujeito que o assassinou fugiu.
E agora? Como dar esta triste e trágica notícia a seus filhos
que amavam tanto o pai Brazilino? Horácia chora muito e, quando chega ao sítio,
todos os seus filhos perguntam do pai. Horácia, mal podia encará-los.
- O pai de vocês nunca mais voltará para casa. Foi
assassinado.
Cesárea, a filha mais velha, não derramou uma lágrima de tão
sentida que ficou com a notícia da morte do pai. Pior do que isso: a
adolescente pegou desprazer pela vida.
Um mês depois da morte de Brazilino, Horácia e seus cinco
filhos vão ao cemitério levar flores ao falecido. Quando passam por uma cova
vazia, Cesárea diz zombando e revoltada:
- Dona cova, me aguarde que não vai demorar muito e eu
estarei aí.
Horácia repreende a filha batendo em sua boca.
- Não fale besteiras, menina! Respeite os mortos, sua má
criada.
Quando chegam ao sítio, Horácia da uma ordem à Cesárea:
- Vá banhar o cavalo e tratar dos porcos.
Cesárea, muito revoltada, responde a mãe:
- Por que vão vai a senhora?
E Horácia pega o cinto do falecido Brazilino e dá uma forte
surra em Cesárea que não derrama uma lágrima de seus olhos e ainda afirma para
a sua mãe:
- É a última surra que a senhora me deu.
Cesárea vai para o seu quarto, enquanto Horácia chora muito
clamando por Brazilino:
- Que falta você está me fazendo. Brazilino!
Na manhã seguinte, Horácia e seus quatro filhos tomavam café
na cozinha. Horácia olha para Maria e diz:
- Vá chamar Cesárea, Maria.
A pequena Maria vai até o quarto da irmã Cesárea e, logo
volta para a cozinha.
- Mamãe, Cesárea está espumando pelo nariz e boca.
Horácia corre para o quarto de Cesárea, mas, já era tarde.
Ela estava morta. Suicidou-se com veneno pra matar ratos. Horácia grita muito e
cai em pranto sentindo-se culpada. Que triste tragédia!
Dois meses depois, Horácia e suas filhas Lazara, Maria e
Júlia preparavam o almoço enquanto os meninos Benedito e Guilherme brincavam na
área da casa do sítio. Fazia muito calor e, de repente, Guilherminho, o
caçulinha de apenas cinco anos vai a cozinha se queixar a mãe:
- Mamãe, está doendo o meu peito.
Horácia nota que Guilherme estava com muita febre.
- Vá se deitar, meu filho. Mamãe vai lhe fazer um chá e essa
dor vai desaparecer.
Quando Horácia chega no quarto dos meninos, com a xícara de
chá nas mãos, Guilherme estava morto. Ela pega o menino no colo e sai pra fora
de casa gritando por socorro. Que maldição era aquela, afinal, que rondava
Horácia? Ela amaldiçoou a cidade de Socorro e disse aos filhos:
- Vamos embora deste lugar. O diabo ronda Socorro.
Lazara já era uma mocinha e namorava um homem honesto e muito
trabalhador. Preferiu ficar em Socorro e, se casou com Ângelo.
Horácia e seus filhos, Benedito, Maria e Júlia vão para a
capital (São Paulo). Aparentemente, tudo corria bem para Horácia. Júlia se
casou com Jacó e, sequentemente Maria se casou com Vicente. Benedito,
lamentavelmente não teve sorte no amor. Enterrou-se na bebida por gostar de uma
mulher que não gostava dele. Benedito costumava desabafar com Vicente, seu
cunhado e amigo:
- Um dia, Vicente, eu ainda cometo uma loucura. Estou
perdidamente apaixonado por uma mulher que, não da à mínima por mim.
Vicente, um alagoano sorridente e muito brincalhão diz:
- Deixe disso, Benedito. Mulher é o que mais tem nessa São
Paulo, rapaz!
Benedito se desentende com a mãe por causa da bebida e decide
morar sozinho. Na mesma Rua Antônio João, ele aluga um quartinho.
Sucedeu que no dia de seu aniversário, sua mãe resolve lhe
fazer uma surpresa levando-o um café e um bolo de fubá (que ele adorava) logo
pela manhã. Ela bate na porta do quarto do filho e, ele não responde. A porta
estava entreaberta e ela entra. Que cena terrível! Benedito havia se suicidado.
Enforcou-se com sua gravata no pé da cama. Como foi triste Horácia ter visto
isto!
Com o passar dos anos, Maria adoece de verdade; tem um tumor
maligno no cérebro e acaba morrendo. Dois meses depois, morre Celso (asfixiado
nas águas de Mairiporã, região metropolitana de São Paulo,) filho de Maria, por
sinal, o neto que Horácia mais gostava. Isso tudo foi muito forte para a velha
Horácia suportar. No ano seguinte, em 1986, ela despede-se da vida.
Só os diamantes no sol duram para sempre. Descanse em paz,
Horácia e, quem sabe, ao lado de todos estes entes queridos que você perdeu
aqui em vida.
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